primeiro

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Podia sentir os saltos altos da minha mãe a embater nas escadas de casa. Dentro de 6 segundos ela abriria a porta do meu quarto -mais uma vez-, na tentativa de eu me pôr a pé.

-Já está mais do que na hora de te levantares. -Ela disse depois de entrar pela terceira vez no meu quarto.

-Já vou mãe. -Repeti o discurso e virei-me para o lado contrário da janela que tinha sido agora aberta.

-Fire, estou a falar muito a sério. Já vais levar com a pressão de seres a aluna nova e acredita em mim, não vais querer chegar atrasada à tua primeira aula. -Grunhi como sinal da minha frustração interior e arrastei-me para a casa-de-banho. Não quero ir para a escola. Não quero ter de passar por aquela fase de "criar laços" com as pessoas que mais tarde vou deixar. Não quero, mas sei que no fundo não há existe nada que eu possa fazer para impedir isso.

Voltei ao meu quarto e retirei um par de calças e uma das muitas t-shirts com logótipos de bandas que estavam na minha gaveta.

-Vais assim vestida?- disse mal me viu a descer as escadas.

-Qual é o mal? -estava ligeiramente confusa.

-Vais começar do zero numa escola nova e mesmo assim vais vestir essas roupas? Pareces uma maria-rapaz. -disse e eu percebi que não o fez por mal. Assim como eu, a minha mãe estava a entrar em stress .

-Não quero saber. Eu gosto. Eu uso.- disse e comecei a comer os cereais que já esperavam por mim à muito tempo em cima da bancada.

-Tu é que sabes. Despacha-te senão vamos chegar atrasadas. -disse e saiu em direção á garagem para ligar o carro. Suspirei. Depois de comer a refeição coloquei a taça para lavar, peguei no meu casaco de cabedal e na mochila e saí de casa, em direção ao carro preto da minha mãe.

-Boa sorte. Tudo vai correr bem e por favor dá uma oportunidade às pessoas de se relacionarem contigo, okay? - beijou a minha face e eu saí do carro, suspirando pesadamente. Andei enquanto arrastava as minhas converse pretas, já gastas, pelo chão. Mal passei aquele portão cinzento, tive acesso ao ambiente exaustivo de uma escola cheia de alunos nojentos e horríveis. Não tinha um único conhecimento por aqui por isso procurei bastante pela secretaria acabando por encontrá-la cinco minutos depois, à beira da porta de entrada.

Se abrisses os olhos serias mais inteligente, Fire.

Uma mulher de cabelo preto, olhou-me por cima dos óculos e sorriu.

-Fire Stevens. Sou a nova aluna. -disse-lhe e esperei que ela me passa-se o horário.

-Oh claro! -retirou um papel e uma chave minúscula da sua secretária e entregou-me.

-Espero que tenhas um bom primeiro dia de aulas. -Mais uma vez, sorriu. Será que estas pessoas só sabem sorrir a estranhos? Curvei um pouco os cantos dos lábios e rodei os meus calcanhares ficando de frente para a porta. O toque tinha acabado de soar, o que significava uma coisa: Todos os alunos estavam a andar pelos corredores. Vi isso como uma boa oportunidade de me "camuflar" até à sala 15.

Depois de andar ás voltas pelos grandes corredores, desisti e pedi ajuda a uma das funcionárias.

Cheguei perto de uma, na esperança de que ela me indicasse o caminho até à sala

-Desculpe, podia-me dizer onde é a sala 15?

-Sim claro, sobes as escadas viras à direita e procuras pela sala nesse corredor. - a senhora disse e voltou ao seu trabalho. A maioria dos alunos já tinha entrado nas salas e senti-me um pouco perdida.

Fiz o trajeto que a senhora me indicou acabando por encontrar a sala. Bati na porta de madeira e uma mulher nos seus 40 anos, abriu-a.Ela estava vestida profissionalmente e tinha uma expressão exausta estampada no rosto.

-É a nova a aluna, certo? -perguntou num tom de voz monótono.

-Sim. Fire Stevens. -respondi e ela deu-me espaço para entrar na sala. A minha primeira visão da turma fez-me tremer mas depois de um segundo a apreciar percebi que era só mais uma típica sala de aulas.

-Ms. Stevens, pode sentar-se num lugar livre. -desloquei-me a uma mesa a meio da sala e sentei-me. Toda a gente tinha os olhos postos em mim e isso não me agradava, de todo.

-Como toda a gente já teve a oportunidade de reparar...-a professora prosseguiu- Este ano temos um novo membro na nossa turma! Apresente-se por favor. -Os 30 alunos sentados puseram o seu olhar em mim, de novo e o meu estômago contorceu-se.

-Sou a Fire Stevens, tenho 17 anos e venho do Norte de Portugal. -disse. Em todas as escolas, o discurso é o mesmo alterando apenas a parte da minha localização anterior.

-Por favor, façam a Fire sentir-se bem-vinda nesta turma. -disse e soltou um suspiro cansado. -Mr. Hemmings, como delegado de turma, irá passar o dia de hoje a mostrar como é que a nossa escola funciona. -olhei de relance para o rapaz e podia apostar naquele momento que ele é mais um daqueles retardados que tem a mania que é bom. 

Sim Fire, começa já a julgar as pessoas sem antes as conheceres. 


Fui a última a sair da sala, afinal, não sabia para onde deveria ir. Coloquei a alça da minha mochila preta por cima do meu ombro e deixei o espaço.

-Hey, Fire, não é? -O rapaz de à pouco perguntou enquanto as suas bochechas ficavam um pouco rosadas.

-Sim, e tu és?- Questionei enquanto o admirava. Era extremamente alto e bonito. O cabelo era loiro e tinhas os olhos azuis como o céu. Tudo isto parece um pouco cliché mas a beleza dele era fora do comum. os lábio eram finos e rosado e tinham um argola de metal preta no canto a contrastar com a sua pele pálida.

-Luke. Vou ter de te mostrar a escola hoje. -Disse enquanto passava as mãos pelo seu cabelo, perfeitamente levantado. Parecia nervoso? Será que afinal as minhas superstições estariam erradas e que o rapaz nem tem muito contacto com as pessoas do sexo feminino? Pelo menos parecia. 

Sim, pois, claro, um rapaz com esta pinta e nenhuma gaja anda atrás dele. Já chega de tentares seres ingénua, não?

-Okay... -disse num tom amigável, tentando aliviar o ambiente. -Podes começar, acho eu- ri-me um pouco da minha própria idiotice.

-Okay! -riu-se e começou a andar, levando-me com ele. As minhas primeiras impressões não costumam estar corretas por isso, guardei todos os pensamentos abruptos que estava a ter na parte obscura do meu cérebro e prossegui o caminho com o rapaz do meu lado, ouvindo as indicações que me dava.


Grenade | lrhOnde histórias criam vida. Descubra agora