BORBOLETAS

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"Tudo o que eu sabia esta manhã quando acordei
É que sei alguma coisa agora
Sei alguma coisa agora que eu não sabia antes
E tudo o que vi desde 18 horas atrás
São olhos verdes, sardas e o seu sorriso
Na minha mente fazendo com que me sinta bem [...]

Porque tudo o que sei é que dissemos "olá"
E os seus olhos têm jeito de quererem voltar para casa
Tudo o que sei é um simples nome, tudo mudou
Tudo o que sei é que seguramos a porta
Você será meu e eu serei sua
Tudo o que sei desde ontem é que tudo mudou

E todas as minhas paredes seguiram de pé pintadas de azul
Mas eu vou derrubá-las
Derrubá-las e abrir a porta para você
E tudo o que sinto no meu estômago
São borboletas, da mais linda espécie
Compensando o tempo perdido, voando
Fazendo com que me sinta bem"
- Taylor Swift (Everything has changed)

1.1
JÚLIA

Por mais que eu não quisesse admitir, eu me flagrava sorrindo de leve à qualquer lugar que eu fosse. Não era um esforço, simplesmente parecia que aquela curva em meus lábios fazia questão de não sair de lá. O motivo? Meu melhor amigo, Bruno. Ou talvez, poderia ser mais que isso. Era incrível a sua capacidade de fazer com que o mundo parecesse diferente, de certa forma, mais brilhante. Mas, antes que eu pudesse tomar mais alguma conclusão, ou fazer mais uma observação, minha mãe grita meu nome escandalosamente da sala, exigindo para que eu fosse ao encontro dela.

- Filha! - ela diz animada e rapidamente, quase eufórica- você se lembra daquela agência de intercâmbio no qual você participou de um concurso, três meses atrás? - agora ela andava de um lado para o outro, dando "pulinhos" de felicidade.- chegou isso de lá, abre!- ela sorri de orelha a orelha, me estendendo uma carta.

Ah, e não, eu não fazia a mínima ideia de que concurso era aquele. Aliás, fazia sim, pois tive uma vaga lembrança de uma prova fechada feita de qualquer maneira, mas com atenção o suficiente, claro.

Ela ainda está segurando a carta, e quase perdendo a paciência. Pego a carta da mão dela, um pouco relutante. Eu tinha a absoluta certeza que não passaria no concurso. Provavelmente, a carta era um tipo de consolação seguido por propagandas de outros pacotes de intercâmbio, dessa vez, pagos. Sim, eu estava concorrendo à uma viagem de graça. Por mais que eu quisesse ir, tirei a opção da mente. Bruno fez a prova comigo, mas nenhum de nós tinha grandes expectativas sobre ela.

- Vai abrir ou tá difícil?- disse minha mãe finalmente.- eu queria que você fizesse as honras, mas se vai enrolar, eu mesma faço isso!- ela tomou a carta das minhas mãos, abrindo desesperadamente, e lendo seu conteúdo em voz baixa. Era quase como se estivesse lendo a cura para o Ebola, ou uma poção que a deixasse com uma aparência mais jovem.

Eu já estava me preparando para fazer cara de pena quando ela dissesse que eu não havia passado, ou até treinado um "quem sabe da próxima vez" ou "Deus escolheu assim", (vale ressaltar que mexer com o lado religioso das pessoas as deixa mais flexíveis) mas, quando ela grita de entusiasmo, minhas esperanças de ficar em BH, minha cidade, acabam. Minha mãe começa a ler a carta em voz alta, achando que ia ajudar em alguma coisa.

- "Nós, da AINA ( Agência de Intercâmbio Norte Americano), gostaríamos de informar que você foi selecionada, junto com outros seis, para um intercâmbio do nosso concurso anual... "

Não ouço mais nada do que ela diz, pois corro para o meu quarto. Atrás de mim, o som da porta batendo, minha mãe ligando para todas as amigas e parentes dela, e a dor no pé esquerdo- provavelmente teria o batido de novo no pé da cama- nem estavam me incomodando. Olhei para o livro que eu havia pegado na biblioteca municipal- laranja mecânica- e penso por um momento em continuar a lê-lo. Nego a hipótese ao não estar enxergando as palavras direito nem da capa. Estava fechada em um mundo só meu naquele momento, onde as memórias boas dos últimos dias passaram sobre a minha mente. Esses distúrbios de lembranças só parecem aumentar, e a minha frustração também.

Em Outro HemisférioOnde histórias criam vida. Descubra agora