(向日葵) Um girassol nos teus cabelos.

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HIMAWARI

S; A sua voz timbrada emanava algum tipo de claridade, serpenteando a luminosidade singela pelos tímpanos e percorrendo as retinas feito um sussurro vaporizado de tons dourados — aquele mesmo colorido que fazia cerceio pela tua alma.

As notas ruidosas condensavam o ardor por entre nossos corpos nus, perfurando meus poros e envergando pelos ossos com a tua doçura mística, enquanto as ranhuras daquela melodia de verão, incrustadas nas pontas dos dedos e nas palmas das mãos, floresciam feridas febris e pulsantes na tua pele — as cicatrizes das cordas do seu violão —, despindo o véu que aprisionava um pedaço teu, tão particular e irrevogável.

A alquimia de lábios nos lábios trespassaria as camadas mornas em uma explosão de fagulhas brilhosas. Pontos mitigados e inebriados de raios de sol rasgariam a carne, vertendo em miríades de pétalas amarelas.

E eu afundaria meus dedos, tentadoramente, por entre aquelas frestas ocultas, como se, de alguma forma, pudesse imergir na zona segura de um sacrário; perpassando pelas trincas falhas, até alcançar aquele terço sagrado e ensolarado.

Surrupiaria os pequeninos girassóis enroscados no teu coração, e faria dele o meu Sol, rodopiando ao redor da tua quentura. Perderia minhas partes quebradas em você, e me faria relicário — levaria aquele seu pedaço desatento e trancafiaria em alguma abissal marítima do meu oceano caótico.

Moço bonito; você estaria lá, na epígrafe das fendas profundas, e eu enfeitaria os teus cabelos com cada girassol que havia roubado para mim.

SINESTESIA • PJM x JJKOnde histórias criam vida. Descubra agora