as primeiras ondas

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então, olá , como vão? :')

sinto que faz muito tempo desde que iniciei uma nova história e confesso que sinto que já perdi até o jeito para me introduzir nessas notas! mas essa história é uma que eu gostei bastante de escrever e eu realmente espero que vocês gostem da ideia também! bom, desde já obrigada pelo interesse!

sem delongas, tenham uma ótima leitura e vejo vocês no próximo capítulo <33


⋆。𖦹 °.🐚⋆❀˖°


viver no litoral nem sempre era tão glorificado.

richarlison gostava de se imaginar como um espírito livre, ansiando por uma vida longe das restrições que os centros urbanos impunham e como nunca foi ninguém que se importava com luxos, ter onde dormir, o que comer e como se divertir já era tudo o que ele precisava. saiu de nova venécia aos dezoito, deixando para trás uma mãe preocupada, um pai confiante de que ele voltaria em duas semanas de volta porque não aguentaria uma rotina diferente e uns irmãos com memes prontos para lhe atazanar pelos próximos cinco anos.

sempre amou as praias, viajou para várias do país sozinho ou com amigos, estadias longas ou curtas, com um trabalho rápido no meio ou não. para ele, parecia ser o bastante estar sob o sol forte, vento agitando as ondas e levantando um cheiro inconfundível de maresia. lembrava com um riso fácil das águas aquecidas de guaibim, na bahia, aprendeu a surfar por lá com uns amigos que conheceu na pousada que ficou, levou muitas quedas e engoliu mais água do que deveria ser saudável, mas foi bom.

ele trabalhou por alguns meses no rio de janeiro também, algo temporário só para sustentá-lo durante o tempo que ficou pelo estado. foi de copacabana até a pequena praia de rio vermelho, lembrava de ir principalmente durante a noite aproveitar o mar gelado, o pão de açúcar, os deslizes pacíficos do bondinho e as ondas agitadas e, muitas vezes ver o nascer e o pôr do sol da areia.

sim, richarlison era apaixonado por litorais. praias eram quase o ar que ele respirava, principalmente as do seu estado. talvez fosse por puro orgulho de ter nascido no espírito santo que o fazia ver com olhos diferenciados as belezas naturais do litoral de sua terra natal, tinha quase certeza que pelo pisou na maior parte das praias do pequeno território, apesar de seu coração sempre pesar com a necessidade de ficar mais tempo.

atualmente, estava passando uma boa temporada pela praia de guriri, a quase duas horas de nova venécia. tinha conseguido um trabalho com uns pescadores locais e estava se divertindo muito pelo lugar. aprendeu a pescar decentemente com os mais experientes e tinha se divertido muito com as técnicas novas. seus pais já tinham ido lhe visitar várias vezes nesse meio tempo, era a praia mais próxima, tecnicamente, considerando que era quase uma linha reta da sua cidade até guriri.

o seu empregador, senhor rogério, lhe ajudou a encontrar um pequeno kitnet próximo da área de pesca e conversou com o dono para diminuir o valor e as burocracias para o garoto (richarlison) durante os meses que ele passasse por lá. foi muito gentil da parte dele e, bem, lá estava ele, morando praticamente num quartinho com cozinha e banheiro, mas com o benefício de não precisar ficar enfurnado lá o dia inteiro. seu trabalho era bem flexível, só precisava focar em conseguir uma certa quantia de peixes semanal e estava tudo certo.

richarlison tinha passado o dia ajudando um colega de rogério a fazer um dinheiro extra vendendo alguns lanches na praia então mal conseguiu aproveitar o dia, agora que era pôr-do-sol sentia que precisava fazer algo para dar um sentido significativo naquele dia - odiava voltar para casa sem ter uma única experiência para relembrar, então ao se despedir do amigo do seu chefe, cujo o nome nem lembrava mais, correu para a sua casinha, tomou um bom banho gelado para espantar o calor e pôs seu conjunto branco de tecidos leves, o colarzinho de miçangas e conchas que se tornou seu favorito desde que o encontrou alguns meses atrás na areia.

desceu correndo as escadinhas do kitnet até sentir a areia entrar pela sandália amarela e verde e escorrer por seus dedos quanto mais tentava apressar o passo pela areia fina até chegar ao píer de madeira a poucos metros de distância. richarlison abriu um sorriso contente com a luz dourada que o sol deixava enquanto partia, iluminava a madeira de maneira quase mágica. continuou firme, se deliciando no son do quebrar de ondas e de conversas altas e divertidas ao longe de amigos que provavelmente ficariam por ali até o sol nascer novamente.

viver aquela vida era empolgante e fazia todos os pelos do seu corpo eriçarem em adrenalina a cada passo improvável que tomava, mas, no seu cerne, era solitária.

seus pais e amigos próximos ficavam em nova venécia, quem conhecia durante as viagens... bem, ficava nas viagens, no fim do dia tinha que voltar para a sua kitnet, se trancar por lá até o dia chegar e ele poder voltar a sua rotina. e, não o entenda mal, ele não estava reclamando, reclamando sabe? era mais como uma... constatação. é, isso - estava constatando algo que descobriu com sua vivência, nada demais.

o lado ruim de tudo isso é que não tinha como compartilhar com alguém, com toda certeza iriam pontuar como estava sendo cabeça dura em não voltar e viver uma vida normal e bla bla bla, conhecia o discurso como a palma da sua mão.

continuou andando a passos rápidos pelo píer e seu sorriso aumentou ao ver o barquinho de madeira ancorado nas águas lentas da praia de guriri. assim que o alcançou, verificou se tudo estava nos conformes - redes, a garrafa de água de emergência e os remos - e quando se deu por satisfeito, começou a remar para o seu local de pesca favorito.

o lugar ficava a uns bons metros da orla e era bom para trabalhar durante os dias, porque mesmo que enchesse de gente aquele pedaço específico ficava intocado. sua meta era aproveitar o final de semana para adiantar o objetivo semanal de peixes do senhor rogério e aproveitar o próximo feriado no meio da semana para visitar seus pais de surpresa em nova venécia, fazia um tempinho já que não os via pessoalmente.

cantarolando alguma música de pagode famosa que grudou na sua cabeça, mas o título estava longe de reconhecer, ele jogou as redes e puxou. sempre tinha lixo pela água então deixava no seu kit de barco uma sacola para ir colocando tudo.

"bando de gente porca," murmurou ao ver a quantidade de garrafas que vinham na rede. puxou com mais força ao perceber que a rede parecia ter ficado presa em algo - torceu para que não fossem corais ou algo do tipo, nem em um peixe grande com dentes afiados. "mas o que-" apertou os olhos quando viu algo pálido entre as garrafas amarronzadas de cerveja e se curvou na borda do barco, esticando o braço para tirá-las do caminho e-

mas que merda era aquela?!

richarlison abafou um grito ao reconhecer dedos muito humanos entre as garrafas estava prestes a largar a rede com tudo, mas essa mesma mão segurou seu pulso e, dessa vez, o seu grito ecoou alto pela praia e o rapaz se jogou para trás para tentar se livrar do toque gélido sem perceber que ainda segurava firme as redes.

a força que colocou para tentar se afastar da mão, fez a rede se desprender do que quer que estava a segurando debaixo d'água e tudo voou por cima dele. ele cambaleou para trás e caiu do barco, água gelada o cobrindo por inteiro, forçou seu corpo para voltar até a superfície e respirar ar de novo. por todo lado estavam garrafas, alguns copos de plástico e, acima dele, tinha um corpo humano- quer dizer, meio humano, foi o que percebeu com o mais absoluto terror.

richarlison encarou o rosto que o fitava de volta de cima do barco.

honestamente, a cena era até irônica. richarlison, um humano, na água estava cara-a-cara com um sereio que estava, igualmente chocado, em cima do seu barco.


pick me fish 🐚 2SonOnde histórias criam vida. Descubra agora