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Eu tenho um demônio como bichinho de estimação.

E não, este não é um apelido carinhoso que eu decidi dirigir para algum amigo próximo, ele é literalmente um demônio.

Assim que completei dezoito anos fui embora de casa, decidi me arriscar em uma cidade nova, ter um novo início, longe daquelas pessoas que juram ser minha família e só quererem o meu bem, entretanto, não aceitam que eu ame, tudo bem ser bissexual mas namorar com homem jamais.

Pensei que aqui teria paz, mas não.

Assim que visitei o apartamento senti uma energia estranha, uma paz além do comum, eu já deveria ter desconfiado que algo assim aconteceria comigo.

Nos primeiros meses ele parecia tímido, aparecia como um rápido vulto atrás de mim e então sumia novamente me fazendo acreditar que era apenas coisa da minha cabeça e que não tinha nada ali.

Entretanto, quando fez um ano que eu estava na casa eu me sentei na sala, com o bolo que comprei para mim mesmo e cantei parabéns para mim, foi ali que ele apareceu pela primeira vez.

Apenas uma sombra, parecia até mesmo com uma mancha de mofo surgindo na parede, entretanto, mofo não flutuaria e se aproximaria da forma que ele faz.

Ele me apareceu de forma tão sútil que eu sequer me assustei, foi realmente reconfortante saber que tinha alguém do meu lado, seja lá o que ele for.

Ele poderia ser um demônio, obsessor, sucumbu eu não faço a menor ideia.

Ao menos para mim ele poderia se parecer com um anjo.

Mas na verdade.

Ele é um anjo.

Um anjo caído, mas não deixa de ser um anjo.

Mas anjo do céu não.

Com o passar dos dias eu me acostumava ainda mais com a sua presença comigo, era verdadeiramente reconfortante, voltar para casa e ter alguém lá me esperando, eu o contava sobre o meu dia e desabafava sobre absolutamente tudo, as vezes até mesmo no banho eu sentia e via a sua presença comigo e aproveitava para soltar algumas piadas o chamando de "penadinho tarado".

Eu me sentia sortudo, comprei um apartamento e de brinde veio satanás, me senti naquelas promoções de compre um e leve dois.

Para não ficar procurando ele enquanto gritava "satanás, vem cá" "demônio, você está aí?" Resolvi o chamar de "gatinho" não sei se o agradou mas até agora não o vi reclamar, além de ele atender por este nome quando o chamo e ele está longe.

Ele se tornou um companheiro melhor do que eu esperava.

As vezes, quando estou deitado na cama e viro para o lado para poder dormir de frente para a parede eu sinto a cama afundando um pouco, quando me viro nunca tem nada lá mas eu sei que é ele.

Ele me observa.

Ele me acompanha.

Ele me faz verdadeiramente feliz.

Uns podem achar que é esquizofrenia e que é apenas um surto, mas não é.

Eu já fui no psicólogo - por pura insistência desses meus amigos - eu já tomei remédios que me doparam mas mesmo assim ele nunca sumiu.

Então, eu taquei o foda-se, psicólogo é invenção do capitalismo para vender antidepressivo, o negócio é ir até onde o cérebro aguentar e o meu me parece muito resistente e feliz.

Suspirei fundo e me levantei do sofá onde estava apenas encarando aquela sombra flutuante na parede, as vezes ele parecia ganhar mais ondulações e até mesmo uma forma, como se pensasse se deveria se comunicar sim ou não comigo, aparentemente o lado "não" sempre ganhava.

- eu tô indo bater punheta, se você me seguir vai acabar vendo algo que você não vai gostar - ele sabia que eu não iria fazer isso, era só uma desculpa e um anunciado de "eu vou me jogar na cama e chorar um pouquinho antes de dormir, por favor, fique longe ou venha comigo e me abrace enquanto eu durmo por doze horas" eu não sei quando criamos esse código, apenas sei que toda vez que eu falava isso ele me seguia e nesses dias eu realmente podia ver a sombra preta se deitando ao meu lado.

Está noite eu me atrevi a me recostar nele ficando o mais próximo possível, um vento em forma de carinho era passado suavemente em volta dos fios do meu cabelo levando as minhas lágrimas e irritações para bem longe já que ali eu estava em paz.

Quando já estava a um passo de cair no sono senti algo gelado passando em minhas costas, era pontudo mas não o suficiente para me machucar, apenas para causar um leve arrepio em minha espinha. O objeto não identificado me acariciava com cuidado como se tomasse cuidado para não me ferir.

Eu achei fofo ter o capiroto cuidando de mim.

- boa noite gatinho - sussurei baixinho como fazia toda noite antes de quase me entregar totalmente, mas algo me fez estagnar antes de realmente capotar.

Uma voz.

Uma voz bem baixinha e rouca.

Era como um sussuro.

Foi um simples ventinho acariciando o meu rosto até chegar na minha audição.









- boa noite meu garotinho corajoso.

DemonOnde histórias criam vida. Descubra agora