E se eu morrer de sono, e acordar nos meus mundos de paraíso?

12 0 0
                                    

E se eu morrer de sono, e acordar nos meus mundos de paraíso?
Meus sonhos serão realizados se eu pular da ponte em paz?
Qual é a diferença entre a realidade e a ilusão
Se tudo o que eu faço é para mim e mais ninguém?
Poder realizar meus sonhos parece ilusão,
Mas os próprios sonhos realizados seriam ilusões.

Do que adianta escrever um livro se só terá eu para lê-lo?
Do que adianta criar um filme se só eu estarei lá para vê-lo?
Do que adianta manifestar um sonho se o único a sonhá-lo sou eu?

Tanto faz, realista ou fictício,
No meu querido mundinho tudo é real.
Então por que não meus sonhos e ideais?
Por que não ver realidade e sonho como iguais?

Será que esse sonho não foi fabricado, em primeiro lugar?
Como sei se o que eu quero é realmente o que eu quero
E não o que outra pessoa manifestou em minha mente?
Seria eu o ladrão que roubou sonhos de outros
Para no fim sonhá-los e vivê-los sozinho?

Na sala de cinema eu me encontrei,
Mas o único que me encontrou foi eu e mais ninguém.
Eu sou a única pessoa que se identifica como eu,
Isso é tão óbvio que nunca precisei repetir.
Mas às vezes eu me perco na frente do espelho
Tentando fazer esse pensamento fluir.

Eu sou eu? O que sou eu? Quem sou eu?
Do que vale isso? O que farei com isso? Quem mais vê isso?
Se eu acordar amanhã, ainda serei eu?
Se eu despertar de meus sonhos, não deixarei de ser eu?
Se eu trazê-los à realidade, será só a minha ou de mais alguém?
Quem se pergunta isso às quatro da manhã não tem mais nada para fazer?
Talvez não queira fazer nada além de sonhar em seu mundinho.
Talvez eu não queira fazer nada além de sonhar em meu mundinho.
Porque lá é tão interessante, realista e bonito,
Que me perco sonhando mesmo no meio do dia.
Horário comercial. Trabalhando em sonhos.
Não realizando ou alcançando.
Tremendo de medo de cair na armadilha das próprias palavras omitidas e mentidas.
Ansiedade.
A verdade é que eu só grito para ninguém ouvir.

Eu só vou gritar quando não tiver ninguém para me escutar.
É assim que meus sonhos são realizados.
Quando sou eu espontâneo no vácuo de meu espaço de conforto.
Onde não sou julgado, avaliado, menosprezado,
Mas também não sou visto, ouvido nem pensado.
Sou eu no espaço neutro, nulo, inalcançável,
Um planetário de meus sonhos realizados.

Porém, assim, do jeito que vivo assim,
Não tem nada de mim que esteja fora de mim,
Tudo que eu sei que sou, e tudo que não sei se sou,
Tudo que se pensou, sonhou, chorou e sentiu
Está preso dentro de mim.
Um verdadeiro sonho, sonhando em se tornar verdadeiro.
Fora de mim, eu não existo.

Então me procurei nesse lugar que eu sempre vou para pensar
Chegando lá, percebi que eu não existo.
Eu fui olhar para mim mesmo, no espelho de meu espírito
Olhando meu reflexo, eu vi que eu não existo.
Procurei pedaços de mim que esqueci atrás, longínquos
No meu passado, percebi que não existo.
Fui averiguar em alto-mar a minha alma, ou seu resquício
No meu barco virado, averiguei que não existo.
Eu fui me olhar dentro de mim, identificar o que há dentro
Introspectivo, identifiquei que não existo.

Se a minha alma é um espelho do que eu botei para fora,
Então eu estou vazio.
Se tudo o que eu tenho dentro de mim eu prendo,
Então não tenho nada.
Se tudo que eu sonho e sinto nunca se manifestar,
Não adianta de nada sonhar.

Discutindo comigo mesmo, agora eu entendo.
A verdade é que eu sempre gritei quando não tinha ninguém para ouvir.

...

Mas de nada adianta gritar se com isso não vou existir.

Juntando os cacos de minha esperança, vou gritar uma bagunça.
Vou me revoltar contra minha inércia e inexistência.
Vou matar meu sono, e realizar meus mundos de paraíso.
Vou gritar para todo mundo ouvir.

A alma é o único copo que se enche derramando o que tem dentro,
Então vou derramar no mundo todos os meus sentimentos.

6 de outubro de 2022

Introtextivo_Onde histórias criam vida. Descubra agora