Era o que era.
Uma festa de jovens universitários em um bar Indie-Rock, no centro de Londres. Já era madrugada. Bom, ele esperava que fosse. Não aguentava mais o cheiro da cerveja e do cigarro. Como odiava o cheiro do cigarro. Jovens adultos e o terror da saúde pública. Mas ali estava ele, outro jovem adulto, se embebedando e quem liga pra prova da faculdade no dia seguinte. E aquilo era o que era.
Resolveu, então, sair dali. Buscar ar fresco no meio de toda aquela neve de Dezembro. Enrolado como um bolinho de salsicha, caminhou a passos curtos até a saída do bar. Sentiu o arrepio na espinha ao se encontrar com o vento gelado do outro lado. Sem música, sem fumaça, sem pessoas aos montes. Perfeito.
Quando foi que ele passou de um adolescente deprimido para um universitário padrão?
Procurava um banco para se sentar, a agonia nas pernas sempre voltava uma hora, talvez ele não tivesse deixado de ser um adolescente deprimido afinal. Achou ao lado um banco de madeira para se sentar. As tábuas rígidas e frias como ele estava. Um cubinho de gelo.
O grande relógio brilhava no meio de toda aquela escuridão, e eram quase três da manhã.
De repente um peso depositado sem avisar fez o banco velho ranger. Olhou assustado para quem quer que fosse ali ao lado.
_ Te assustei? - A voz aguda, porém baixa, de outro homem dançou entre os flocos de neve. - Sinto muito por isso, Cacheadinho. Me chamo Louis, e você?
Como um furacão. Fazendo um vendaval sem dar tempo para respirar. Observou os olhos azuis claríssimos, arregalados. Na ponta da orelha um cigarro inteiro, o corte de cabelo sem definição. Barba rala e nariz de botão. Muito bonito, moço desvairado.
_ Harry. - respondeu por fim.
_ Estava lá dentro, Harry? - Louis perguntou, o corpo completamente virado para o outro. Interessado.
_ Por que responderia? Como vou saber se não quer me sequestrar? - Harry questionou com as sobrancelhas franzidas.
Louis gargalhou. Pegou o cigarro da orelha, e um isqueiro do bolso do casaco. Acendeu, tragou. Harry sentiu vontade de revirar os olhos. Olhou o cacheado dos pés a cabeça, pupila dilatada. O garoto usava um cachecol brega, coturno, sobretudo. E o nariz continuava vermelho de frio.
_ Até que dá vontade. E se quer evitar ser sequestrado, não diga seu nome a estranhos.
Harry riu sem graça, mostrando os dentes de coelho.
_ E você estava lá dentro?
_ Não, quero dizer, sim mas não com o seu grupo. Não sou dessas coisas, sabe? Faculdade.
_ Nunca sonhou com um curso quando era criança?
_ Eu entrei na faculdade dos meus sonhos, Cacheadinho. Mas tranquei depois de dois semestres. Era literatura. Não nasci para ser acadêmico.
_ Comecei artes visuais a pouco tempo, focado em fotografia.
Louis terminou seu cigarro em silêncio. Harry observava o relógio beirar as 3h30.
_ Acharia estranho beijar um estranho? Porquê eu quero muito beijar você.
_ Já beijei pessoas em situações bem piores. - Harry riu baixo, chegando mais perto do garoto.
Um beijo quente no meio da neve, ao lado de um bar. Dois desconhecidos tentando compensar a solidão que cada um guarda em si. Ainda não sabiam que tinham algo em comum, querer se mandar embora desse mundo.
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Common People
Fanfiction" ele era meu tudo, de cachecol, coturno, sobretudo" *One shot Larry inspirada na final da música " FANFIC" do cantor brasileiro Froid.