O que eu estou fazendo aqui?

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Eu não estou entendendo. Não entendo o que esse povo tá falando. Paro uma moça na rua, pedindo ajuda.
Ela fala algo que não entendi. Novidade.

- Ahn? - me mostro desentendido - Pode repetir? - Falei isso a toa, porque, além de ela não entender, eu não ia compreender nada do que ela ia falar -

Antes de a moça dizer mais alguma coisa, suspiro frustrado e saio dali. Ando pelas ruas, sem rumo. Mas uma coisa posso afirmar: preferia estar aqui do que lá em casa.

A primeira cidade que veio em minha cabeça foi Tóquio. Sempre admirei o lugar, então vim para cá. Mas cometi o lindo erro de não estudar Japonês. Eu estava com fome, aí como não sabia esse idioma, tive que fazer sinais. Só que o cara achou que eu queria fazer um boquete nele. Situação linda.

Cansado de tanto andar, encontrei um beco. Decidi entrar nele pra descansar um pouco as pernas. O ambiente era escuro, iluminado fracamente por algumas lâmpadas de postes. Assim que entro nele, sinto um cheiro de fumaça. Cigarro. Adentro mais o beco, sentindo a fumaça entrar mais ainda nas minhas narinas.

Um cara encostado na parede dá uma tragada no cigarro. Ele era alto, pele branca, tinha cabelos negros que chegavam ao seu ombro e olhos escuros. Decidi tentar uma última vez.

- Ei moço, consegue me entender? - Pergunto dele, meio receoso.

Ele se vira para mim, me olha da cabeça aos pés e volta seu olhar para a parede. Frustado, me viro para ir embora, até que ele diz alguma coisa.

- Sim, consigo te entender. - Diz com a voz rouca.

Me viro em direção a ele, surpreso. Ficamos em silêncio por um tempo, somente o som de ratos correndo para o esgoto.

- GRAÇAS A DEUS - Corro em direção a ele, o agarrando pelos ombros, o chacoalhando - Pelo amor de Deus, moço, me ajuda. Eu estou perdido, não sei falar o idioma daqui, não entendo o que o povo fala. Eu tô quase tendo um infarto.

- Me solta - ele me empurra, agressivo - Como você vem pra um lugar sem falar o idioma? Tem celular, pelo menos?

- Tá descarregado. - Mostro o celular desligado.

- Ótimo. Parabéns. - Solta uma risada sarcástica - Meus parabéns. Vem com celular descarregado.

- Eu estou a um tempão aqui, por isso ele descarregou. IPhone, querido.

- Quer uma cesta básica com esse IPhone 7 aí? - Aponta sorrindo para meu celular.

- Vai se fu- Quer dizer, vai ajudar ou não?

- Olha, eu posso arrumar um lugar pra você ficar. Um alugado talvez.

- Eu vou precisar pagar? - Escondo minha ironia.

- Não, que isso. Eles vão te dar o lugar de graça. Lógico que vai ter que pagar, inteligência.

- Vai pagar pra mim? Tô meio que sem money aqui. Aceito a cesta básica. - Lhe dou um sorriso -

- Você é um pobre mesmo. Quer saber? - ele apaga o cigarro e joga - Se vire aí. Vou te ajudar o caralho. - me empurra para o lado e vai até a saída (e no caso, a entrada também) do beco.

- Seu desumano. Vai largar alguém necesitado aqui, nesse beco, escuro, assustador, nojento?

Aponta para a saída. - É só sair, a rua tá muito bem iluminada ali.

- Seu monstro. Vai me deixar morando aqui com os ratos, sendo um mendigo. - Ponho a mão no peito, com uma cara sofrida.

- É só ser mendigo em outro lugar. Aqui tem um monte . Posso te levar a algum. - Sorri.

Faço uma cara de choro, com lágrimas caindo de meus olhos. Esse é o lado bom de ser sensível, é ótimo pra manipulação.

- Okay. - Finjo enxugar as lágrimas, mas o que faço é com que elas desçam mais ainda - T-tudo bem, então. Mas mesmo assim, v-valeu pela ajuda. - minha voz está embargada -

Ando rápido, querendo sair daquele beco. Mereço um Oscar, eu sei. Quando ia me virar a esquina para ir seguindo a rua, sinto meu braço ser segurado, me forçando a parar. Dou um sorriso rápido, depois volto para minha cara de tristeza, então olho para ele, que dá um suspiro.

- Eu tenho um lugar. Mas não é uma mansão chique nem nada do tipo. Nem ouse tentar me matar. - Diz olhando no fundo dos meus olhos -

- P-por que eu tentaria te matar? Você tá me ajudando. Não sou tão ingrato assim. - o olho, muito ofendido -

- Cala a boca e me segue. - Larga meu braço, pega mais um cigarro e segue andando.

Decido não falar nada, anotando mentalmente a treinar meu choro, minha irmã consegue chorar fácil, então eu também devo conseguir. Seguimos andando pelas ruas movimentadas, até demais para uma noite. Passamos por um restaurante, o cheiro de comida invande minhas narinas, o que faz com que lembrasse a meu corpo que estou desde manhã sem comer.

- Ei. - Cutuco o cara na minha frente.

- Hum?

- Podemos dar uma paradinha pra comer? Sabe, eu não como desde de manhã.

Ele olha para o restaurante, faz uma cara de desprezo e segue andando. Não querendo abusar da boa vontade dele, sigo caminhando, tentando não pensar em comida. Depois de andar, passando por vários restaurantes, entramos em mais um beco. Esse era totalmente escuro, nem lâmpada tinha. Ele vai até o final, onde tem uma casa. Estou sendo gentil ao chamar aquilo de casa, tá mais pra um barraco. Era de tijolos, um pouco desgastados. O telhado parecia querer cair. A lindeza ali abre a porta, dando espaço para eu entrar.

Depois de adentrar a casa, observo o lugar. Não tinha TV naquele lugar que considerei uma sala, pois tinha um sofá. Um sofá-cama pra ser mais exato. Um mini corredor, que levava a duas portas. Tinha uma bancada que separava a sala da cozinha. Lindeza foi até a cozinha.

Fui até o sofá e me joguei, como se a casa fosse minha. Estava cansado e aquele sofá era mais confortável do que aparentava. Eu já teria dormido, se não fosse a fome imensa que estava sentindo. Pô, estômago, consegue ficar um dia sem comer, não? Quando eu estava pensando em pegar aquele bastão ao lado do sofá, sujo de um manchas vermelhas suspeitas, para ver se eu apagava, um cheiro de carne de hambúrguer preenche o lugar. Olho para o lado e vejo ele me oferecendo um X-Salada. Eu falo assim, tá bom? Não sou Estadunidense.

- Pra mim? - Pergunto.

- Não, pro teu pai. - Responde ríspido.

- Grosso. - Pego o lanche, em seguida dou uma mordida. - Caralho. Não sei se é a fome ou se tu cozinha bem, mas isso aqui tá uma delícia. - Mordo um pedaço maior.

Achei ouvir ele falar um "obrigado" bem baixinho, mas ignorei.

- Ei. Qual seu nome? Eu ainda não sei. - depois de engolir um pedaço do hambúrguer, pergunto dele -

- Yuki. Pode me chamar de Yuki.

- Ryuki, prazer. - Estendo a mão - Nossa, nossos nomes são parecidos. - Dou uma risada.

Um sorriso de canto aparece em seu rosto, mas logo depois ele esconde.

- É aqui que eu durmo. - Dá batidinhas no sofá - É o único lugar confortável pra dormir. Se quiser, pode dormir aqui, mas se for espaçoso, te jogo para o chão. - me olha ameaçador, o que me fez dá mais risadas -

- Okay, Yuki. - Como o último pedaço - Será que você teria uma escova de dentes sobrando?

Yuki olha para o teto, parecendo pedir ajuda para Deus

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Turu bão?

Maybe One LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora