Capítulo Único

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- É maravilhoso como eu sempre consigo te deixar pingando.

- Sua autoestima é invejável, Russell. - Respondi, ofegando.

- Aposto que não tem uma célula sequer no seu corpo que não esteja em colapso, Baker. - Ele riu. - Você faz ideia do quão satisfatório é saber que isso tudo é culpa minha?

- Então eu acho que vou ter que me esforçar mais pra você não pensar que é tão bom assim.

- Vocês dois são nojentos. - Lewis passou logo atrás da fileira de esteiras da academia do hotel onde estávamos hospedados em Milão.

George olhou para mim pelo reflexo no espelho à nossa frente e caiu na gargalhada. Eu, é claro, não consegui evitar rir também, mesmo que estivesse quase debruçada sobre a tela da esteira, odiando ter aceitado mais um desafio que aquele moleque petulante havia feito. Se houvesse tempo suficiente na minha agenda para treinar tão bem quanto ele, certamente me dedicaria mais ao meu condicionamento físico. Por saúde? Não. Para superar George Russell na corrida. Nada além disso.

- Meninos, obrigada por terem disponibilizado a companhia de vocês e o tempo reservado na academia pra não ter que me exercitar com um monte de turista, mas eu tenho que ir pro meu quarto.

- Você já vai, Nicole?

- Depois de ser humilhada na esteira? - Questionei Lewis, de quem eu me aproximei inevitavelmente, já que George não conseguia não desgrudar de mim como se ainda fossemos duas crianças em King's Lynn.

- Nós só vamos terminar aqui, tomar um banho e almoçar antes de ir pro circuito. - George resmungou. - Achei que a gente ia almoçar junto.

- Eu tenho que trabalhar.

- Hoje?!

- É quinta-feira, Russell, o dia em que eu mais trabalho tirando o domingo, e você sabe disso. - Eu revirei meus olhos, secando o suor da minha testa com a toalha de rosto que o hotel providenciou. - Vocês já fizeram o trabalho com a imprensa, mas a coletiva do Leclerc e do Sainz é agora de tarde, e eu ainda tenho que cobrir o Stroll e o Alonso depois. Isso se não me fizerem o favor de me colocarem com o Bottas e o Guanyu também.

- Que morte lenta. - Lewis murmurou.

- A Ferrari, a Aston Martin ou a Alfa Romeo?

Ele ponderou por uns segundos.

- Acho que os três juntos.

- Bem-vindo ao jornalismo. - Eu abri um sorriso preguiçoso. - Russell, eu te mando mensagem.

George apenas acenou. Mesmo que a caminhada fosse curta da academia para o elevador e, posteriormente, do elevador até a porta do meu quarto, tudo cheirava a luxo naquele hotel. Eu sabia o porquê de ter recebido o upgrade. Não era o primeiro, e eu duvidava muito que seria o último. Eu não sabia se meu quarto era o mais simples do The Westin Palace. Para ser sincera, não parecia ser.

Fechei as cortinas do quarto enquanto observava o papel timbrado disposto bem no meio da cama, colocado lá provavelmente pelas camareiras que passaram mais cedo. Embora os lençóis bem arrumados estivessem convidativos, mas eu estava suada e precisando de um banho. O papel, no entanto, alcancei com a ponta dos meus dedos. A caligrafia inconfundível estava na borda inferior, desenhando com traços brutos as palavras 'von deinem heimlichen Verehrer, mit Liebe'. O cartão anunciava que eu tinha recebido, como presente, alguns procedimentos no spa do hotel.

Eu já estava buscando o celular no cofre para ligar, agradecer mas negar o mimo pois iria passar a tarde inteira no autódromo, mas havia um e-mail do meu supervisor avisando que eu não precisaria cobrir nenhuma coletiva naquele dia, mas que eu tinha conseguido uma entrevista privada com os pilotos da Ferrari para logo depois do almoço. Hesitando, eu me contentei com seguir meus planos, tomar um banho e pegar algo rápido para comer a caminho de Monza.

Curve of DeceitOnde histórias criam vida. Descubra agora