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Eu tinha dezesseis anos no dia que me acabei de beber pela primeira vez. Nunca tinha experimentado a sensação do álcool em meus lábios, e muito menos em meu corpo, então não sabia qual era meu limite. Aliás, sequer sabia que haveria algum limite. Mas a bebida estava boa, a companhia estava boa e a festa mais ainda.
As luzes estavam piscando em várias cores, me deixando ainda mais tonta. A música era alta, porém me agradava. Também estava calor, muito calor.
Olhei para o lado, vendo tudo girar, sorrindo sem saber o porquê, e vi meus amigos se divertindo. Eu estava sentada no sofá, e ao meu lado estava Pietro, o ex-namorado da minha melhor amiga – e bruxa! – Bianca. Eu sabia que ela ainda não tinha superado o término, e particularmente torcia para que eles se entendessem, pois formavam um belo casal. Entretanto, a bebida estava começando a afetar um pouco o meu bom senso.
Pietro segurava uma garrafa de sabe-se-lá qual bebida em suas mãos, mas que tinha me chamado atenção. Então a roubei a garrafa de seus dedos, dando um gole bem grande e apreciando a sensação do líquido queimando em minha garganta.
– Ei, essa bebida era minha. – Pietro reclamou.
– Falou certo, era sua – eu respondi, sorrindo e me deliciando com a sensação que o ambiente me proporcionava.
Luara, outra amiga minha que também estava sentada no chão, de frente para mim, me encarou. Seus cabelos curtos estavam lustrosos naquela noite, e ela vestia uma jaqueta jeans com uma blusa estampada. Estava bastante estilosa – e cheirosa. Ela era alguns anos mais velha do que eu, porém isso não a impediu de estar nessa mesma festa.
– Vamos jogar um jogo – ela sugeriu. – Essa garrafa está vazia, Mariah? – Me perguntou e eu assenti, então ela tirou o vidro de minhas mãos. – Verdade ou desafio.
Eu continuei sorrindo, adorava aquele jogo. Percebi que mais pessoas se amontoaram na rodinha em que estávamos, ansiosos para a brincadeira.
Sem saber como, eu já estava levando outro copo à minha boca, dessa vez com uma bebida doce, mas que também queimava a garganta. Era mais álcool e, como eu não tinha limites, apreciava a sensação.
Eu nem mesmo tinha reparado que o jogo tinha começado. As perguntas rodeavam conforme a garrafa girava. Todo mundo preferia escolher “verdade”, o que era sem graça. Eu gostava de emoção, então, quando a garrafa parou virada para mim, não pensei duas vezes e escolhi “desafio”.
Uma garota loira que eu não conhecia sorriu, era a vez dela de ditar o desafio. Ela pareceu pensativa, mas então pareceu encontrar o que desafiar:
– Eu te desafio a beijar o garoto do seu lado!
Em qualquer situação racional eu teria desistido, teria dito que não faria. Porém eu não estava em nenhuma situação racional, estava bastante alterada e nada mais fazia sentido em minha cabeça.
Sem pensar duas vezes, me virei e beijei Pietro. E não foi qualquer beijo – foi o beijo.
Quando me descolei de Pietro, percebi que, do outro lado do salão, Bianca me encarava. E então uma fumaça roxa saiu de suas mãos.
A festa inteira pareceu congelar e prestar atenção no que estava acontecendo. Bruxas não eram tão raras assim, mas bruxas amaldiçoando alguém eram.
Puta merda, o que foi que eu fiz?
– Mariah, eu te amaldiçoo. Que do dia de hoje em diante nenhum homem consiga te beijar.

O beijo amaldiçoadoOnde histórias criam vida. Descubra agora