Mais uma vez, não consegui dormir. Vai fazer um mês que estou trocando o dia pela noite e isso começou no dia que o Eren faleceu. Sabe aqueles momentos que você esta desconfortável e hiper ativo demais pra dormir, vira a noite e desmaia de exaustão pela manhã? É isso, a quase um mês.
Eu posso me ocupar com as mais diversas atividades, mas no fim, me encontro na mesma posição, deitada de barriga para cima, encarando o teto iluminado pela luz de lampião, com medo demais para dormir com todas as luzes apagadas. Como se toda essa angústia pudesse se materializar na forma de um monstro que vai me puxar para dentro do armário, um mostro que faz com que cada pequeno som se transforme em um verdadeiro estrondo.Não consigo deixar de pensar que estou errada em querer algum conforto agora, mas sinto falta de um abraço quentinho, que encaixa perfeitamente como os animais selvagens fazem ma hora de dormir, do mesmo jeito que o abraço dele se encaixava com o meu. A vida segue, mas nós permanecemos estáticos, catatonicos, sem saber como começar a andar de novo.
Não deveria ser algo tão difícil de entender, foram 10 anos, 10 anos totalmente dedicados a cuidar e proteger essa pessoa, proteger a pouca família que ainda me restava. E a memoria coletiva que vai permanecer é a dos fanáticos que pensam que conheceram o Eren, mas apenas idealizaram uma figura fascista a partir das ideias dele.
Essa pessoa não é real, e tem algo especialmente amargo nisso, como se eu fosse a única a fazer esse requiem.
O verdadeiro Eren nunca será velado. Ninguém além de mim e talvez Armin vai conhecer o amigo, camarada e companheiro que ele foi ao dedicar seus últimos anos a nós.
Essas memórias vão viver em mim, e futuramente, morrer comigo. Isso torna o luto mais solitário do que é, considerando que não tem mais ninguém aqui que eu conheça e confie.Minhas memórias com você já começam a ficar cinzentas, sem som, como um filme mudo sem a trilha musical. Sinto que já estou esquecendo da sua voz, e meu maior medo é esquecer como é seu rosto também. Então espalho gravuras suas pela casa, as coisas que me lembro você, visto suas roupas para dormir e me enrolo no cachecol, assim como você um dia enrolou em mim. Não é igual, nunca vai ser, é preciso começar a aprender a viver com isso.
Aprender como existir sem você aqui como meu único propósito.
---------------
Contagem de palavras: 412