Capítulo 1

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Por Laranccini

Castelo do Sul

O vento ártico soprava forte na janela de seu quarto, não fosse pelo vidro reforçado, logo estilhaços estariam jogados ao chão e as camadas finas de gelo causariam estragos sem tamanho aos habitantes do castelo.

A tempestade estava mais forte que o esperado e muito disso deveria se refletir aos seus lamentos, muitas vezes Korra sentia que a natureza era empática as suas dores e hoje não era diferente.

Puxou as cordas dos braceletes adornados com pinturas típicas de sua tribo, vendo-o se moldar perfeitamente aos músculos proeminentes de seu treinamento árduo.

Senna falava pelos cotovelos sobre a ansiedade que era conhecer a filha do Senhor do Fogo e Korra rezava à Raava para que a mãe calasse a boca.

Não que odiasse sua matriarca, pelo contrário, tinha um carinho descomedido para com ela, mas desde que entrara na puberdade e iniciara seu treinamento como chefe, seu amor e afetos se voltaram apenas para isso, da noite para o dia Korra havia passado de filha à sucessora do trono.

Agora por exemplo, não havia parado nem mesmo por um segundo para perguntar como a filha se sentia em relação a união precoce com a jovem de outra nação, diferente de seus gostos pessoais e sem nunca terem trocado diretamente uma palavra, apenas teve acesso as fotos de jornais e do contrato assinado pelo seu pai anos antes.

Contrato esse que ela leu e releu incontáveis vezes em busca de uma brecha – mesmo que mínima – para impossibilitar a união.

Não odiava a noiva, sabia que a coitada não tivera quaisquer participações na escolha de seu pretendente e – infelizmente – as políticas atuais ajudavam, e muito, para que pessoas do mesmo sexo mantivessem um matrimonio, mesmo que por conveniência política, o que era seu caso. Só que, não a conhecia.

Não tivera a chance mínima de terem contato prévio para saber se gostavam das mesmas coisas, se teriam assuntos e gostos em comum para uma convivência harmônica.

Ela iria colocar um colar no pescoço de alguém que era apenas um nome: Asami.

Isso somado ao fato de estar completamente apaixonada por outra pessoa, um estrangeiro, plebeu sem um grau de instrução, mas que a fazia sentir viva cada vez que sorria para ela.

Seu coração errava as batidas só de lembrar dos olhos calorosos de Mako.

- Precisa de ajuda para colocar o poncho? – Sua mãe indicou ao sobretudo repleto de penas e pelagem pesada, com as pontas pintadas de azul.

Acenou negativamente, mesmo sabendo que iria apanhar para colocar uma carcaça pesando quase 10kg, estava magoada demais para dar tal honra a alguém. – Eu me viro. – Sua voz cabisbaixa era mais do que o bastante para indicar a Senna o descontentamento da filha.

- Korra, isso já está há mais de cinco anos acertado e em nenhum momento você se opôs ao matrimonio. – Suspirou, colocando as mãos nos ombros da filha. – O que mudou.

Agora eu amo alguém...- Quis responder, mas apenas se deteve a tirar as mãos da mãe dela. – Nada, só me incomoda o fato da futura líder da Tribo da Água do Sul não poder escolher com quem irá se casar. – Mentiu.

- Você poderá meu bem, depois que esse ano acabar, cada uma poderá seguir seu próprio caminho com total liberdade. – Tentou parecer otimista para a mais nova, que sequer lhe dirigia um olhar. – Queríamos realmente que esse fardo não caísse sobre seus ombros mas...

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