OneShot

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É notório a importância que as primeiras vezes tem para nós, mas pouco se fala sobre as últimas vezes: a última vez que brincamos com nosso brinquedo preferido, a última vez que jogamos pique-esconde na rua ate tarde com nossos amigos, a última vez que saímos pelo portão da escola ou vimos uma pessoa estimada. As últimas vezes eram tão importantes quanto as primeiras, marcavam profundamente nossa alma, moldavam de maneira crucial nosso psicológico.

Essa foi a última entrevista em grupo antes do desastre eminente. Estavam todos sentados em cadeiras do tipo de estúdio de gravação, as famosas poltronas cineasta, a equipe de filmagem pensou que seria um toque elegantemente despojado para a entrevista. Estavam os cinco enfileirados, lado a lado, a mulher loira da CNN sorria orgulhosa à frente deles, ao seu redor havia três câmeras, um diretor, um assessor, um supervisor e ainda um assistente, além do tradutor.

Estavam todos meio esgotados, havia aquela ansiedade da turnê, esse show na Tailândia estaria lotado, tanta gente gritando seus nomes quando tudo o que eles podiam sentir era pânico, enquanto fingiam sorrisos em seus rostos e uma união grupal quase inexistente.

A apresentadora educada fazia perguntas divertidas, nada muito invasivo como eles estavam acostumados, talvez isso tenha impedido tudo de desmoronar antes da hora. Eles respondiam sorrindo, brincando uns com os outros, eles tinham até saudade de quando viviam assim normalmente, saudade... como pode ter saudade de algo que você nunca perdeu?

- se vocês pudessem ser qualquer coisa do mundo, o que seriam? - Waan, a apresentadora espirituosa perguntou com um sorriso doce que quase encobria seus olhos.

Após a tradução rápida, Niall pergunta curioso:

- poderia ser qualquer pessoa?

- bem, sim se você quisesse, mas tente pensar em algo mais profundo que simplesmente pessoas, coisas como nós, humanos, somos passageiros, pense em algo profundo, de alma.

O silêncio se estabeleceu pelos próximos segundos enquanto os garotos pensavam.

- Acho que eu seria uma mariposa, elas podem ser tão passageiras quanto os humanos, mas estão aqui a mais tempo que nós, e provavelmente ainda vão existir diversas subespécies depois que partirmos. Me identifico como uma mariposa, sou exatamente como elas; voando sempre em direção ao sol, seguindo cegamente aquilo que tanto amam e potencialmente lhes será fatal, é quase instintivo. - Harry abriu o coração, pondo para fora de maneira mais enigmática possível o que ele sentia.

Louis estava uma cadeira distante da sua, ouviu com uma alfinetada no peito, ele não deixaria transparecer tudo o que estava sentindo. As vezes as palavras não ditas podem ser mais marcantes do que as que falamos, quase o: quem cala consente; ele sabia que o final da frase dizia respeito a ele, sabia que sua rebeldia desenfreada e os vícios que adquiriu machucavam o Harry mais do que qualquer pessoa, sabia do mal que fazia a todos e a si mesmo, mas não podia parar, não conseguia.

- eu provavelmente seria a música, a melodia que entra em nossos ouvidos e desperta algum sentimento, a amardes ou odiares, ela sempre existirá. Eu vim aqui para fazer música, é a única coisa que eu amo, e a única coisa que eu sei fazer. Se tirarem a música de mim, vão ver que eu não sou nada; pra mim a música é tipo uma âncora, se não fosse por ela eu já tinha me afundado em solidão. - ele alfinetou de volta, com mais veneno escorrendo por sua voz do que ele planejava, viu quando o outro menino se recostou na cadeira e abaixou a cabeça, digerindo o que ele disse.

Niall rapidamente entrou no jogo, não permitindo a tensão de se instalar.

- se fosse pensar em qualquer coisa, só seria capaz de pensar em uma profunda o suficiente, que toca minha alma. As vezes penso nos dias de praia, são normalmente felizes,talvez não pela areia, pelo vento ou pelo sol; isso você encontra em todo lugar. É pelo mar, a imensidão sem fim, sussurrando as fantasmagóricas histórias de quem já ficou para trás. Sabiam que existe mais de 260.000 de espécies no fundo do mar? Com mais de 4 bilhões de anos de existência a terra é basicamente composta de água, os oceanos são então as maiores necrópoles existentes, tantas histórias submersas, tantas criaturas, sonhos, tudo englobado pelas águas. Somos energia, ela não se dissipa, se transforma, está no mar, fragmentada, é quase astrológico.

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