Capítulo 02 - Zander

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Eu sei que não deveria estar aqui, mas não consigo pensar em nada capaz de me fazer partir agora que ela chegou. O brilho nos olhos de Barbara e o sorriso discreto em seus lábios rosados eram exatamente o que eu estava esperando. Desde sexta-feira, venho imaginando esse momento, o modo como ela ficaria radiante ao apreciar sua nova casa e o quanto essa alegria lhe deixaria linda. Eu só não contei com o fato de que meu próprio coração aceleraria e eu me sentisse tão orgulhoso quanto ela por essa conquista.

Observo Barbara colocar a caixa que segurava sobre a cama estreita e em seguida parar no meio do quarto. O lugar é bem pequeno, mal há espaço para nós dois continuarmos de pé sem nos tocar, e me esforço para manter alguma distância entre nós. Sei que não é a hora certa para despejar sobre ela o que eu venho pensando desde o verão passado. O quanto eu sinto sua falta e me arrependo de como lidei com tudo.

— Isso é perfeito! — Ela gira, completamente maravilhada, e eu me pergunto o que ela vê no pequeno cômodo que possa deixá-la tão alegre.

As paredes brancas e o armário colado na cama não me parecem tão bons. Imaginei que Barbara fosse ficar feliz só depois de dar o seu toque pessoal ao ambiente, não antes. Neste momento o quarto não está nem um pouco formidável.

— Você precisa de ajuda para desempacotar?

Ao me ouvir, Barbara vacila como se não esperasse que eu continuasse ali. Seus olhos arregalam quando ela vira para me encarar e eu tenho a impressão de que ela imaginou que eu já havia deixado o quarto.

— Não, — seu rosto cora conforme ela continua a me encarar e eu tenho que lutar contra meu sorriso.

Cada vez que escuta minha voz, ela parece mais envergonhada. Penso na forma como a peguei me olhando enquanto subíamos a escada e sinto certa satisfação em saber que eu ainda a afeto.

Não consigo deixar de me perguntar se a situação é tão estranha para ela quanto para mim. Quando se tem uma conexão feito a que nós tivemos, é impossível fingir que nunca existiu, mas o que eu posso fazer quando sei que isso não é o bastante para Barbara? Se dependesse apenas de mim, eu a tomaria nos meus braços agora mesmo e provaria que mais nada importa. Eu lhe imploraria para me dar uma segunda chance para provar o quanto meus sentimentos são sinceros e passaria cada dia do resto da minha vida fazendo minhas palavras terem valor. Eu cometi um erro antes, fui egoísta e quis mantê-la apenas para mim com medo de que, se eu contasse sobre nós, tudo acabaria. Eu a guardei como se fosse o meu melhor segredo e no fim acabei perdendo-a de qualquer forma.

— Se mudar de ideia, estarei na cozinha com Rock e Abby.

— Obrigada, — ela encara a parede vazia por uns instantes, colocando os pensamentos em ordem. — Daqui a pouco vou falar com eles.

Aceno, sabendo que meu tempo com ela acabou, e saio do quarto. A curta caminhada até a cozinha do outro lado do corredor parece maior agora. Cada passo para longe de Barbara dói fisicamente e eu me repreendo pelo comportamento imaturo. Eu deveria tentar seguir em frente e permitir que Barbara faça o mesmo, mas não consigo. Sempre que penso em deixá-la ir, algo me puxa de volta. Como a amizade que surgiu entre mim e Abby no ano passado, ou como eu acabei fazendo parte do mesmo grupo de amigos que Barbara sem querer. Tudo parece conspirar para que ela continue na minha vida.

— Aí está ele! — Abby exclama sem fôlego e vejo que ela e Rock estavam rindo antes que eu os interrompesse.

Meu olhar vaga para o atleta encostado no balcão. Quando eu o vi pela primeira vez, imaginei que nunca fosse capaz de manter uma amizade com Rock. Quem não o conhece não acreditaria se eu dissesse que Rock é um dos caras mais leais para se manter por perto. Apesar da aparência dura e a atitude reservada, eu aprendi a confiar nele e acho que ele fez o mesmo comigo. Também sei que boa parte disso vem de Abby. Com seu jeito tímido e doce, ela conquistou Rock e tenho a impressão de que ele faria qualquer coisa que ela pedisse, incluindo beijar o chão em que ela pisa.

— A Barbara chegou, — comento com a maior casualidade possível. Felizmente nenhum dos dois nota minha voz tremer.

Assim que me ouve, Abby deixa a cozinha e a escuto cumprimentar Barbara. As risadas alegres delas atravessam o pequeno corredor e o som é como uma descarga de adrenalina em meu sangue. Eu queria seguir Abby e ver o rosto iluminado de Barbara, mas eu faço o oposto.

Sentindo o olhar atento de Rock sobre mim, apanho uma lata de refrigerante na geladeira e tomo um longo gole, fingindo que a presença de Barbara não me afeta.

— Tudo bem? — Rock pergunta e eu faço que sim. É impossível esconder qualquer coisa dele. Ele tem um talento para ler as pessoas.

— Eu acho que vou andando. Já está escurecendo e as aulas começam amanhã...

— Tem certeza? Ivy vai trazer pizza e os caras estão vindo para cá.

Quero dizer que vou ficar, mas não sou egoísta a esse ponto. Por mais que passar a noite junto com Barbara e seus amigos seja exatamente o que eu planejava quando apareci esta manhã no apartamento, sei que não é o que ela quer.

— Eu preciso ir. Vou ver se está tudo bem com a Nicky.

Interessado em minha resposta, ele solta uma risada seca e balança a cabeça. Minha amizade com Nicky é um dos assuntos menos falados nessa casa por causa de Chuck, um dos jogadores do time e amigo de Rock. Por coincidência, eu, Nicky, Chuck, Abby e Barbara crescemos na mesma cidade. Até o começo, desse ano tudo que eu mais queria era manter distância de Nicky e suas amigas irritantes, por mais que eu não soubesse na época quem elas eram. Nicky era uma das piores clientes que eu tive enquanto trabalhava no café da nossa pequena cidade, então foi uma surpresa a encontrar no campus da faculdade e descobrir que temos bastante em comum. Por exemplo: nós dois somos apaixonados por duas pessoas que, provavelmente, não vão ficar conosco. Isso acabou fazendo com que nós dois criássemos uma estranha amizade e Chuck não gostou nem um pouco. Ele só me tolera por causa de Nicky, mas tenho certeza de que ele já teria me chutado para bem longe se tivesse a oportunidade.

— Se você vai ver a Nicky, é melhor ficar por aqui, — ele diz do seu modo reservado e eu fico esperando que elabore a frase. Desde que comecei a andar com Rock, imagino se minha a minha falta de palavras incomoda os outros tanto quanto as respostas curtas e enigmáticas dele.

— Como assim? — Pergunto, desistindo de esperar quando fica claro que ele está satisfeito com o que disse.

— Ela também vem, — dando de ombros, ele abre a geladeira e apanha uma garrafa de água. O cara leva à sério o lance de alimentação saudável.

Sem outra desculpa para ir embora agora que minha amiga está vindo para cá, volto a olhar para o corredor. Será que Barbara ficaria muito irritada se eu ficasse? Uma parte de mim sabe que sim, mas outra, a parte que gosta de sofrer, tem esperanças de que ela me queira por perto. Penso novamente no modo como ela me olhou na escada e tomo uma decisão.

— Eu vou comprar bebidas. Volto mais tarde.

— Você vai ganhar alguns pontos com o Chuck se trouxer a cerveja que ele gosta, — ele comenta, seguindo o caminho que Abby fez antes, mas para ao passar por mim e coloca uma mão em meu ombro. — Ela vai entender.

Não preciso perguntar de quem ele está falando. Esse gesto diz mais do que as palavras que ele acabou de pronunciar e eu acabo concordando. Eu espero que algum dia Barbara compreenda o motivo de tudo que eu fiz e, até lá, me resta esperar e torcer para que ela seja capaz de me dar outra chance.     


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