epilogue

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nove anos depois.
01/11/2023.


"a morte não nos separa
de quem amamos."

   Encarei a lápide na minha frente. O vento fresco batia em meu rosto e as tulipas brancas eram iluminadas pelo sol.

- Oi, Amber. -- não tirei meus olhos da lápide. Sorri fraco. -- Senti sua falta.

Suspirei fundo, antes de continuar. Um bolo se formava na minha garganta. Será que esse peso nunca vai embora?

- As coisas andam diferentes depois que você se foi. -- coloquei as tulipas no túmulo. -- São suas favoritas.

Meu sorriso sumiu.

- Eram, eram suas favoritas. -- Abaixei a cabeça. -- Sua irmã se casou. Calleb, o nome dele. Vocês iriam se dar bem.

Sorri com tristeza.  - Sua mãe ainda me convida para os almoços de domingo.

- Eu não vou faz dois anos. Não mais, desde que sua sobrinha cresceu e cada traço dela me lembra os seus.

Me sentei em frente ao túmulo.

- Me desculpe, eu queria superar, mas não consigo. Cada pedaço seu ainda está em mim. -- Olhei pra foto dela na pedra. -- Eu quería seguir em frente, como você me disse pra fazer. Mas não consigo fazer isso, se isso significa esquecer você.

Coloco minhas mãos no rosto. O bolo na garganta se torna maior e as lágrimas lutam para não rolarem.

- Eu estou em outra área do hospital agora. Desde que você se foi. Oncologista. -- assenti para mim mesmo. -- Foi difícil no começo, mas agora eu trato todo tipo de câncer. Como o seu, Amber.

Uma lágrima solitária escorreu pela minha bochecha. Funguei.

- Você não se importa se eu chorar, né?

Passei a mão no rosto, limpando a lágrima. Um vento forte passou pelo cemitério vazio.

-- Emma ta cada dia mais parecida com você, -- Sorri. -- os olhos. São iguais.

Fiquei um tempo em silêncio, vi algumas folhas secas voarem pela grama e terra vermelha.

- Estava conhecendo alguém. Mas... não sei. Era diferente. -- dei de ombros olhando em volta.

"Não era você." Pensei. "Não tinha seu sorriso, não tinha seus olhos verdes, não tinha sua voz doce. Não tinha sua personalidade."

-- Ainda sinto sua falta. Todos os dias.

Voltei meu olhar pra lápide de Amber.

- Sabe, dos días no hospital, as idas no lago, as pegadinhas com as enfermeiras. Não é mais o mesmo. -- Neguei. -- Não sem você lá.

Tranquei o maxilar.

- Mas eu não entendo, eu... Faz tanto tempo e eu não consigo esquecer. -- suspirei e sorri. -- Não consigo esquecer dos seus sorrisos, das suas piadas sem graça, sua alegria, a luz que você trouxe pro hospital. Depois que você se foi, tudo se apagou.

Uma lágrima quente rolou pela minha bochecha. Tirei as mãos do rosto e olhei pra lápide.

- Você foi embora, mas continua aqui. Em todos os lugares, eu te vejo em tudo.

Respirei fundo limpando as lágrimas e me levantei.

- Você se foi, mas nunca foi embora.

17:04hOnde histórias criam vida. Descubra agora