O Príncipe e o Fantasma. III

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Uma vez que todos os termos gravados no papel fossem ignorados, o acordo deveria ser desfeito.

Ao menos um, já era certo que JiSung não poderia cumprir.

JiSung era muito sociável, conversador, e se não podia evitar de deixar escapar os devaneios de sua cabecinha, sobrava para os ouvidos de Min, o menino fantasma.

Foi o primeiro termo que desobedeceu: "O necessário, entre o diálogo e a sobrevivência das almas..." Eram as palavras que Min escreveu, com mais centenas de outras, frases estranhas e ambíguas.

Apenas o necessário para Min. Não suficiente para JiSung.

No começo, Ji Sung se absteve somente em falar de livros. Livros de ensinamentos antigos, mágicos, que Min o obrigava a ler. Depois, sentiu-se livre para contar sobre as aulas que ainda frequentava, sobre seu mestre e do jardim da Casa dos Magos - das espécies de besouros que habitavam ali.

— Eu tenho muita sorte! — JiSung correu até a escrivaninha. As mãozinhas estavam fechadas em formato de concha. O pequeno menino escorou os braços na mesa, então desuniu as mãos. — Eu o encontrei no jardim!

Estava ali um pequeno besouro de cor azul e listras verdes. O segundo entre seus três favoritos.

Min viu o inseto ser posto na mesa. O animal andou de um lado para o outro, movendo suas anteninhas, experimentando o novo terreno.

JiSung gostava de sua coloração exótica: — Ele é bonito, você não acha?

O pequeno animal se aproximou de Min, onde estava sua mão apoiada na mesa. A escalou.

— Oh! — JiSung se esticou para pegar o inseto, mas não o alcançou.

O menino fantasma levantou o braço na altura de seus olhos. Ficou observando o animal, encarando aquela pequena forma de vida em sua roupa preta. Então o besouro abriu as asas.

— Ah, não! — o príncipe logo correu atrás do inseto que voava dentro do quarto.

Min se virou. Viu o pequeno JiSung saltar, uma, duas, três vezes, tentando agarrar o besouro no ar. O inseto voava rápido, muito acima da cabeça deles. Mas, lutando para sair daquele quarto, o besouro voou mais baixo, repentinamente em direção ao príncipe.

JiSung se abaixou assustado, protegendo a cabeça com as mãos. O inseto seguiu seu caminho em direção a Min. Mas o menino fantasma apenas se inclinou para o lado permitindo o animal sair pela janela.

No chão, JiSung começou a rir. Min não entendeu o que era tão engraçado. JiSung não precisava de motivos. Era porque estava confortável. Feliz...

Era durante a noite, antes de dormir, o período em que JiSung mais se dispunha a falar, a interagir com Min.

— É estranho... — os braços do príncipe estavam para cima. Desenhava no ar... — A sua é vermelha, como a minha, mas a aura de Bang Chan tem um azul diferente... As vezes, ele fica em meu pé... Como um irmão.

JiSung baixou os braços. Deitado, ficou olhando o vazio do teto, dentro de seus próprios pensamentos.

— Eu me sinto como parte da família dele... Ele deve se sentir sozinho sem seus pais...

E falava sobre a cidade, sobre o castelo. Das relíquias que estavam escondidas lá dentro. Das salas secretas e das catacumbas. E demais informações perigosas para ouvidos mal intencionados...

Todas as noites iam para além do necessário. Deitado ao lado de JiSung, Min estava de costas, ignorando as palavras que ouvia.

Não era verdade. Ele sentia tristeza, felicidade e medo na voz do príncipe. Min estava sempre ouvindo JiSung e prestando atenção nele, atentamente.

Minsung - Espectro VermelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora