SU MIRADA - Gabriel Barbosa

004

Zoe de Arrascaeta

Eu respirei fundo diante da porta da casa de Gabriel. Eu podia ouvir vozes de mulheres lá dentro, o que me fez hesitar por um momento. A situação já era complicada o suficiente, e a presença de outras pessoas poderia tornar tudo ainda mais tenso.

Eu bati na porta, esperando, e logo uma das mulheres abriu, revelando um ambiente animado e descontraído. Eu me sentir um pouco fora de lugar, mas precisava resolver aquilo.

- Desculpe interromper. Eu preciso falar com o Gabriel. — Eu disse, tentando manter a compostura mesmo com um nó na garganta.

As mulheres trocaram olhares surpresos e uma delas apontou para o interior da casa, onde Gabriel estava conversando com algumas pessoas. Eu caminhei com determinação, ignorando os olhares curiosos e os sussurros que me acompanhavam.

- Gabriel, preciso falar com você em particular. — Eu disse quando finalmente me aproximei o suficiente para chamar sua atenção.

Gabriel virou-se para mim, com um misto de surpresa e desconfiança no olhar.

- O que você está fazendo aqui, Zoe?
— Eu olhou nos olhos dele, reunindo toda a coragem que tinha.

- Precisamos conversar. É sobre algo importante, algo que eu deveria ter te contado há muito tempo.

Afastamos de onde todas aquelas pessoas desconhecidas estavam.

A expressão de Gabriel endureceu, revelando uma mistura de emoções conflitantes. Ele olhou para mim, um misto de incredulidade e raiva estampado em seu rosto.

- Importante? Como pode aparecer aqui do nada e falar sobre algo importante depois de tanto tempo sem dar notícias? E o que poderia ser tão crucial que você teve que sumir da minha vida?

Eu engoli seco, sentindo a pressão da situação se intensificar.

- É sobre o nosso passado, Gabriel. Sobre um segredo que eu mantive... que eu deveria ter te contado antes.
— As minhas palavras só pareciam aumentar a raiva dele.

- Um segredo? Zoe, você sumiu sem deixar rastros! Sem explicações! E agora quer aparecer aqui do nada, trazendo sabe-se lá o quê? — A tensão no ar era palpável. Eu sabia que cada palavra estava afundando ainda mais a situação.

- Eu sei que errei em desaparecer, mas eu estava tentando proteger. — Eu fui interrompida por Gabriel, cuja voz transbordava de frustração.

- Proteger o quê?! Zoe, você não tem ideia do que eu passei, do que eu senti, tentando entender o que aconteceu! Você não tem o direito de decidir sozinha o que é melhor para mim!

As palavras cortantes de Gabriel me atingiram em cheio. Eu baixei a cabeça, sentindo-se culpada e perdida naquele turbilhão de emoções.

- Eu sei que errei, Gabriel. Eu estava com medo.

A discussão continuava, e cada palavra parecia que nós nos afastavam ainda mais. A mágoa e a falta de comunicação durante tanto tempo se transformaram em uma barreira difícil de transpor.

Eu sentia o peso das palavras de Gabriel e o abismo que se formava entre nós, tomei um momento para respirar fundo e se recompor. Eu encarei Gabriel, os olhos cheios de tristeza e um misto de resignação.

- Você sempre foi assim, Gabriel. Difícil, fechado em seu mundo, incapaz de entender as razões dos outros. Eu sabia que isso nunca daria certo, que nossa história sempre seria uma montanha-russa de desentendimentos e mágoas.

Gabriel tentou me interromper, mas eu levantei a mão, determindada a prosseguir.

- Eu tentei vir aqui tentar conversar com você de uma verdade que sabia que iria te machucar. Mas agora vejo que talvez tenha sido um erro acreditar que podíamos superar tudo isso.

Com um último olhar para Gabriel, eu me virei e comecei a me afastar. A tristeza pesava em cada passo que eu dava, mas eu sentia que não havia mais volta. O silêncio naquele momento era ensurdecedor.

Gabriel ficou ali, parado, observando eu me distanciar, a sensação de perda se misturando com a raiva e a confusão.

Gabriel Barbosa

Enquanto observava Zoe se afastar, eu sentia um turbilhão de emoções. O coração apertado, a mente revirando em busca de respostas. O que Zoe queria dizer? Eu me sentia perdido, tentando decifrar as palavras que ecoavam em minha mente.

Um arrependimento sutil começou a se formar, uma consciência de que minha própria falta de abertura talvez tenha sido o divisor de águas.

O silêncio agora me envolvia, mas ao invés de trazer conforto, era um reflexo da lacuna entre eles. Me sentir atormentado pela incerteza, desejando desesperadamente entender as razões por trás das palavras de Zoe. Um nó se formou em minha garganta, a necessidade de respostas misturada com a angústia de perdê-la.

Em meio à confusão, eu soube que precisava encontrar respostas para as perguntas não feitas, decifrar o que Zoe tentara comunicar e, talvez, encontrar uma maneira de consertar o que parecia irremediável.

Desconcertado com a repentina partida de Zoe e a confusão que a envolvia, eu procurei o conforto na presença de Arrascaeta, meu melhor  amigo de confiança. Encontrarmos em seu café tranquilo, onde poderiam falar abertamente sobre o que havia acontecido.

Arrascaeta olhou para mim, notando imediatamente a preocupação estampada em seu rosto.

- Gabriel, o que aconteceu? Parece que algo está te perturbando profundamente. Sei que a volta foi repentina — Gabriel suspirou, tentando organizar seus pensamentos tumultuados.

- Zoe voltou, tentou falar comigo de novo e acabamos nos desentendendo. Ela disse coisas que me deixaram completamente atordoado. Não entendo o que ela queria dizer. — Arrascaeta assentiu, oferecendo me apoio.

- Talvez seja a hora de realmente ouvir o que ela tem a dizer, Gabriel. Às vezes, as palavras não são claras de imediato, mas trazem consigo mensagens importantes que precisamos decifrar.

Eu olhei para meu amigo, reconhecendo a sabedoria em suas palavras.

- Você acha que devo tentar falar com ela de novo? Mesmo depois de tudo o que aconteceu? — Arrascaeta colocou a mão no meu ombro com firmeza.

- Se você se importa, se há algo que você quer entender, vale a pena tentar. Às vezes, a comunicação é a chave para desvendar os enigmas do coração.

Eu me vi decidido a buscar respostas, determinado a desvendar o que Zoe quis dizer e talvez, quem sabe, encontrar um caminho para reconstruir o que parecia estar desmoronando entre nós.

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