manicômio,
é pra vocês.—
Pacto – Pacto vem do latim, pactus. Sela um contrato, um contrato de sangue e um contrato de alma. Um contrato que jamais deve ser quebrado e um contrato de amor. Foi o que eles fizeram, um pacto do amor.
Havia algo em agir como duas crianças e havia um resultado: fugiram da festa e agora estavam mortos de fome. Irene se remexeu tentando dispersar a fome e respirou fundo. Nunca conseguiu dormir com fome, assaltava a geladeira frequentemente e talvez por isso não sentia tanta fome no café da manhã.
Mas isso não importava, ela estava feliz. Ela havia voltado para o homem que amava e ele a amava incondicionalmente e agora ela tinha certeza disso. Estaria perto de Petra e estaria de volta para aquela casa que sempre a pertenceu, que sempre foi dela. O posto de Senhora La Selva sempre foi dela, Agatha poderia tentar e jamais conseguiria.
Estava enroscada no lençol enquanto observava o estado do quarto, apertou os olhos quando seu estômago roncou um pouco mais alto e Antônio ainda não percebeu, se viu obrigada a interromper o carinho que recebia nas costas para poder ir pra cozinha.
— Antônio. – ela subiu o olhar e ele a olhou. — Eu tô com fome.
Ele lhe deu um sorriso e ela revirou os olhos.
— Não isso, besta! – ela deu um tapa em seu braço. — Eu quero comida.
— Então a gente desce e vai lá buscar. – ele retrucou, resmungando quando ela se desfez do toque.
— Me empresta seu roupão. – ela o encarou, segurando o lençol contra o seu corpo.
— Que roupão? – recebendo mais uma encarada, Antônio revirou o quarto atrás da peça. — Tá na lavanderia.
Irene choramingou, achou um grampo perdido na cômoda e deu um jeito de prender o lençol com aquele pano branco, segurou uma parte para não tropeçar e saiu apressada até a cozinha. Antônio não demorou muito para aparecer atrás dela, Irene já remexia na geladeira e metade das comidas do jantar estavam no balcão. Antônio arregalou os olhos quando notou o prato de Irene recheado com frutos do mar e outras comidas que seu estômago provavelmente iria reclamar depois.
Enquanto Irene devorava um prato de frutos do mar, Antônio beliscava de tudo um pouco. Estava atracado com o pudim gelado e no dia seguinte provavelmente teria uma confusão com Petra, já que aquela era a sobremesa favorita dela. Deixando de lado o prato de frutos do mar, Irene pegou a bandeja de morangos e sentou-se no balcão, devorando a fruta em segundos.
Antônio riu e contemplou a imagem. Irene sentada no balcão enrolada no lençol e o segurando enquanto comia os morangos. Ele poderia tirar uma foto daquele momento, mas observar era muito mais divertido.
Ele a amava, em todos os seus jeitos, a amava. Ela sendo uma assassina ou sendo simplesmente o ser humano mais frágil do mundo, ela sendo mãe ou avó. Ele a amava de todos os jeitos, ela era a mulher da vida dele e ele agradecia aos céus por perceber isso a tempo. Era uma mulher tentadora, e era sua mulher.
— Por que você tá me olhando assim? – Irene desviou a atenção do morango e passou a olhá-lo.
— Só tô te admirando. – ele sorriu. — Nada além disso.
— Você tá muito romântico. – ela riu, mordendo o morango. — E bem assanhado.
Antônio se aproximou e deixou um beijinho nos lábios dela, notando a aliança no dedo anelar dela ele sorriu, rodando a joia e retirando ela dali. Irene franziu o cenho mas nada disse, porque segundos depois Antônio retirou a caixinha preta de veludo e colocou a aliança lá junto com a dele. Como uma cerimônia, ele abriu a caixinha e ela riu.
— Aceita?
Irene poderia morar dentro daqueles olhinhos brilhantes enquanto a olhavam.
— Todos os dias. – ela sorriu, recebendo de bom grado a aliança voltando pro seu dedo anelar e retribuindo o gesto dele.
— Vamos subir?
— Vamos. – ela largou a bandeja de morangos e guardou as comidas, subiu as escadas e foi direto pro armário de Antônio.
Irene revirou o guarda roupa de Antônio e achou uma blusa bem semelhante a que ela usava na gravidez de Petra, colocou a blusa e ficou praticamente um vestido, se deitou e se aconchegou nele.
Foi a noite mais tranquila que ela teve em semanas.
…
Irene se levantou, colocou o vestido e calçou os saltos. Esperou Antônio para descerem juntos e sorriu quando ele entrelaçou as mãos para irem à mesa do café. Angelina encarou tudo com um leve horror e Irene apenas sorriu, tudo voltando a ser como era antes.
Deixou que ele puxasse a cadeira para ela, deixou que ele servisse sua salada de frutas e seu café e deixou que ele entrelaçasse as mãos, assim como deixou ele se declarar durante toda a refeição.
Petra desceu a escada correndo com Luigi, quase escorregando no último degrau e passou correndo para a cozinha. Voltando com um bico nos lábios e os olhos chorosos.
— Quem comeu meu pudim gelado? – ela cruzou os braços encarando os dois.
— Seu pai. – Irene dedurou e Antônio a olhou incrédulo. — De madrugada.
— Vou jogar sua mortadela e seu bife de fígado no lixo da próxima vez. – ela retrucou, sentando-se à mesa. — Finalmente você voltou, mãe.
Irene sorriu para a garota, dando uma piscadela em seguida.
— Io também fico muito contento com a tua volta, Irene. – Luigi sorriu enquanto pegava o pão para Petra. — Essa casa non era a mesma sem você.
— E eu concordo com o italiano. – Antônio beijou sua mão. — Essa mansão não é a mesma sem você.
— Eu também senti falta daqui. – ela sorriu.
— Angelina, cadê os morangos? – Petra olhou para a governanta sorridente.
— Acabaram.
— Mas antes de dormir a bandeja tava cheia. – Petra choramingou e Irene abaixou a cabeça segurando o riso.
— Alguém assaltou a geladeira de madrugada… – Antônio murmurou.
Petra semicerrou os olhos e percebeu a aliança refletindo no sol.
— Voltaram a usar aliança. – ela sorriu. — Acho que tudo voltou ao normal.
Antônio se levantou, deixando um beijo no topo da cabeça de Petra e dando um selinho em Irene.
— Até depois.
Encarando a aliança, Irene sorriu se sentindo completa pela primeira vez em meses.
Pacto. – sela o amor.