Capítulo 1: Avalanche de Situações

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Derramei tintas em espaços vazios em minha mente. Era mais um dia comum para mim, até que minha própria alma sentiu medo — foi a pior situação que me ocorreu no meu refúgio. Mas mesmo jurando que alguém estava na minha casa me observando, eu não pude escapar de cair no mundo onírico. 

Uma queda, era mais uma vez aquele sonho. Nas primeiras vezes que eu o tive foi assustador e acordei diversas vezes assustado, mas hoje em dia é o esperado. Caindo entre meus pensamentos, em volta de belos girassóis com cores vivas — flores que nunca desistiram da luz, figuras de esperança. De fundo, escutava uma voz sussurrando em meu ouvido.

— Acorde... Saia daqui rápido... Você não me escuta? — Meu corpo se arrepiou com a voz, aquela voz, novamente, a voz da ventania, me assombrando até nos sonhos. Enquanto caía, eu finalmente percebi, aquele não era um sonho comum, eu tinha controle de minha visão e ações, eu estava consciente. Olhei para baixo, para aonde estive caindo por anos — era engraçado, nunca havia me importado de olhar para aonde aquela queda me levava.

Ao olhar para o chão, um calor se passava em meu corpo. Um reconforto, meus olhos pareciam ver algo lindo, mas eu só via o chão. Na verdade para a razão, era uma vista agoniante, estava em queda para o chão e mesmo sabendo disso, não poderia evitar. Fechei meus olhos, não queria ver a minha tragédia.

Quando finalmente chegava ao chão, eu me afundava e sentia o frio por todo meu corpo. A neve caía em meu rosto, mas ela rapidamente derretia como se eu estivesse em alta temperatura. Mesmo meu corpo rodeado de ventos frios, senti calor. Criei coragem e abri meus olhos, me surpreendendo com a vista. Estava no meio da neve, eu estava coberto e não conseguia fugir dali. A neve em minha volta se derretia, era só esperar, mas não sentia que aquilo ia acabar, a nevasca parecia só aumentar.

Mesmo estando em perigo por conta da neve, olhei de volta para cima, aonde eu estive antes de olhar para baixo. Via em cima da neve que me sufocava, uma mão se estendendo para mim. Mas não era uma simples mão, era feita de chamas, uma criatura de fogo estava me salvando. Logo me agarrou pela gola da camisa e me puxou para fora. Era levado para longe, flutuando entre os meus pensamentos e finalmente de perto, via aquele que me salvou. Seus membros eram cobertos por chamas semelhantes ao fogo de minha lamparina, era um brilho forte que emitia tons quentes e vivos. Cada vez mais me afastava dele, vendo ele flutuar de volta até o topo, até que ouviu a voz daquela ventania, era a voz dele. Era ele esse tempo todo? 

— Acorde. — Era uma voz suave, mas poderosa, assombrando minha alma e fazendo meu corpo ser expulso do meu sonho. Acordei com um alto barulho vindo por trás da minha casa e mais uma vez ouvia a voz dele:

— Corra! Saia daqui! — A voz não mais sussurrava pelos ventos. Ela gritava em minha mente. O que eu deveria fazer?

Ainda era noite e estava frio lá fora, mas cada vez mais um aquele barulho aumentava, sons de animais gritando em desespero, árvores quebrando, e tudo isso estava vindo em direção a minha casa. Levantava, pegava alguns dos meus livros, a lamparina e pensava em o que mais eu devia pegar. A parede da casa me protegeria por alguns instantes, mas a cada segundo ouvia as tábuas se quebrando. Eu não podia ficar lá. Abri a porta sem pensar aonde ir, apenas que eu deveria fugir dali, descendo a montanha o mais rápido possível. 

Não conseguia ver nada, a neve cobria totalmente minha visão, e a escuridão da noite não me ajudava. Descia me batendo em tudo, árvores, animais, pedras. Mas o pior não era não ver, era escutar. Aquele barulho de neve só parecia aumentar, uma avalanche descendo toda montanha e havia chegado em minha casa. Ouvia suas paredes desabando, seu telhado caindo, tudo isso ecoando pelas árvores. Era um som de fim, aquele lugar, meu refúgio, minha arte, se perdia naquela catástrofe. Mas mesmo assim, não poderia parar de correr, o barulho continuava atrás de mim, cada vez mais próximo e mais forte, e não conseguia aonde eu poderia correr, estava apenas descendo a montanha, aquele caminho que levava até... a vila.

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