Bonanza

03 Emanuel

     - Você podia simplesmente calar a merda da boca! - Massageio as têmporas irritado com o burburinho que se forma na sala de estar

- Você é um irresponsável Jacob! Você é o pior de todos eles - Papai está em pé apontando o dedo para meu irmão mais novo que eu, confesso que se eles não estivessem gritando e não houvesse tantas pessoas a nossa volta agora, eu estaria sorrindo

- Edgar você sabe, eu não gosto dessa porra toda eu nunca gostei - Jacob deixa as mãos caírem ao lado do corpo enquanto se levanta

- Quanto mais fala mais raiva eu tenho, pelo amor do Santo Cristo! - Mamãe toca o ombro de meu pai, seus olhos suplicando para que pare com aquilo tudo, bufo me levantando também

- Se vocês nos dão licença, precisamos conversar, como podem perceber - Digo firme para o grupo de pessoas bisbilhoteiras que está nos rodeando - Vamos - Dou um leve toque nas costas de Jacob, que começa a caminhar até o andar de cima contrariado, papai faz menção de nos seguir, mas o paro de imediato - Acho que agora é a minha vez, gritar com ele não vai melhorar as coisas - Minha voz é suave e calma, tudo para acalmar o velho encrenqueiro que meu pai está se tornando

- Emanuel, você vai ficar do lado dele? - Edgar fecha os punhos ao lado do corpo, desvio meus olhos para mamãe que está logo atrás dele tentando dispensar a multidão para continuar a festa

- Você não percebe que está piorando as coisas? - Pergunto já não esperando nenhuma resposta sensata - Você fala de Jacob mas já sabe quem ele puxou - Toco seu ombro firmemente - Você precisa entender que ele puxou a sua personalidade e ele não vai fazer nada que não queira fazer, não importa o que aconteça - Edgar solta um longo suspiro antes de virar as costas e sair andando apressado, dou uma última olhada para a sala, mamãe segura um copo de água nas mãos e sorri para algumas mulheres que conversam animadamente,  ela desvia o olhar para mim e seus grandes olhos verdes parecem agradecer, aquela loira é a única razão de eu ainda ser quem sou, lanço um sorriso doce para ela e me viro indo atrás de Jacob

  Ando pelos corredores da casa pensando no que dizer a meu irmão, talvez devesse ir lá e brigar com ele, dizer que ele é um merda e que está desperdiçando a vida maravilhosa que ele poderia querer, ao abrir a porta onde Jacob estava, entro e a encosto atrás de mim, usando a estrutura para apoiar as costas, quero lhe dizer para parar de ser idiota e que ele precisa parar pra pensar as vezes, mas ao contrário disso, as únicas palavras que saem são:

- Você sabe que ele é um velho babão, não precisa bater de frente o tempo todo - Jacob se vira para mim assim que as palavras o encontram, seu olhar já não é mais de surpresa como antes, ele sabe que não faz meu tipo gritar esbravejar...

- Ele me tira do sério, porra - Olho para meus sapatos tentando disfarçar o sorriso, ele é o meu oposto em tudo, absolutamente em tudo, e as vezes agradeço por isso, ao mesmo tempo que não, eu queria que ele fosse melhor que eu, sempre melhor

- Eu sei, ele tira todos nós - Coloco as mãos nos bolsos - Mas ele adora fazer isso - Dou de ombros

- Eu acho que ele queria que eu fosse como você, já falou milhões de vezes - Jacob soa magoado, sua voz num timbre fraco e sem esperança

- Eu acho que ele se orgulha muito de você, Jacob - Me aproximo dele sem o tocar - Como quando com um ano disse papai primeiro, ou quando você fez sua primeira cesta no basquete, nossa papai quase infartou aquele dia - Dou um leve empurrão em seu braço finalmente arrancado um sorriso de canto - Você se lembra aquela vez que você queria ir pescar, mas não tínhamos tanque na fazenda ainda? Nossa o papai comprou peixes e os colocou na piscina, aquilo ficou um horror - Faço careta me lembrando do cheiro quando Jacob não quis mais pescar e abandonou os peixes no verão daquele mesmo ano