Único

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O barulho da chave se debatendo na mesa com certa força tirou o foco de Shuhua da tevê. Debruçando-se sobre o encosto para ver o rosto de quem já sabia que estaria lá.

— Como foi seu encontro?

Miyeon não a olhou, focada demais em tentar insistentemente tirar a bota de seu pé direito. Sua expressão raivosa no rosto e o bico formando-se nos lábios rosados fez a estrangeira querer rir.

— Argh! Ya! — grunhiu Miyeon, ainda tentando tirar o maldito sapato de seus pés. Seu corpo dando algumas rodadas com as tentativas.

Shuhua tampou a boca e gargalhou um pouco alto, em seu jeito exagerado que Miyeon já havia se acostumado em seus longos cinco anos morando juntas naquele dormitório pequeno da Cube.

Quando Miyeon conseguiu tirar a bota e jogá-la dentro do sapateiro, uma expressão descontente ainda persistia no rosto bonito. Levantou-se e passou a duas mãos por toda a extensão de seu vestido pequeno e colado no tom rosa.

— E aí? — Shuhua persistiu na pergunta, curiosa demais para perceber que a face de Miyeon já declarava a resposta.

Miyeon ignorou-a prontamente, passando por si na sala sem ao menos olhar em seus olhos, como se não a tivesse escutado. Shuhua fraziu as sobrancelhas, um pouco irritada e confusa com a falta de consideração de Miyeon. Sem muita demora, levantou-se do sofá antigo e tratou de seguir a mulher pelo pequeno corredor que dava para as portas de três quartos e um banheiro. O cabelo rosa balançava-se ao vento com força pelos passos firmes e raivosos, trazendo o famigerado cheiro de cereja, intoxicando os sentidos de Shuhua.

Quando Miyeon estava prestes a bater a porta no meio da face de Shuhua, a taiwanesa impediu tal ato com a mão esquerda.

— Que merda é essa, Mi?

Miyeon bufou, apertando as unhas nas próprias palmas, a marca delas ficando lá.

— Por que está agindo assim comigo? Eu não te fiz nada! Se seu encontro foi ruim a culpa não é minha!

— O encontro não foi ruim! — Miyeon finalmente virou-se de frente para ela, olhando em seus olhos pela primeira vez desde que chegou no apartamento.

Shuhua fechou a porta do quarto e cruzou os braços, ainda não confiante das palavras da colega de grupo.

— Então por que você está tão estranha? — perguntou. — Você nunca agiu assim comigo, poxa... — manhou, sua voz saindo um pouco mais decepcionada do que esperava.

A expressão de Miyeon caiu, o coração batendo alto no peito.

— Me perdoa, Shu. Eu só... Argh! — grunhiu novamente, como sempre fazia quando estava nervosa. Era algo que Shuhua havia reparado em si, tanto quanto o quão bonita Miyeon ficava com os fios em tons pastéis.

Shuhua, ainda parada na porta, pensou por alguns segundos.

— Espera aí... Jinhyeong fez algo sem seu consentimento? Porque se tiver feito eu juro que eu...

— Eu terminei com ele! — Miyeon interrompeu, sua voz saindo um pouco mais alta do que a de Shuhua.

A taiwanesa levantou uma de suas sobrancelhas castanhas. Ficando cada vez mais confusa com tudo aquilo, ao mesmo tempo que se preocupava com Miyeon por estar em tal estado. Jinhyeong deve ter a machucado, é o que Shuhua pensou, antes de descruzar seus braços sobre a blusa enorme e branca e seguir em direção à cama perfeitamente arrumada da mais velha, sentando-se ao seu lado.

Shuhua segurou uma das mãos delicadas de Miyeon.

— Você sabe que pode me contar tudo, não é? — reforçou, olhando para os olhos da mulher com as bochechas no tom de seu cabelo e vestido. Miyeon parecia estar envergonhada, e o jeito como evitava olhar diretamente para Shuhua demonstrava isso, como se tivesse medo que suas íris se encontrassem e a morena descobrisse toda aquela situação que estava tentando guardar para si. — Estou aqui para tudo, inclusive para jogar ovos na janela da casa dele caso você quiser. — Riu. — Ou só para ter um ombro amigo ou coisa assim.

Ombro Amigo | MishuOnde histórias criam vida. Descubra agora