capítulo 1

472 44 20
                                    

Mais um dia começou na casa dos La Selva, a família feliz tinha algumas rachaduras ao longo do caminho, mas o amor que os mantém unidos é mais forte que tudo.

Antônio era um pai rigoroso para os quatro filhos, mas sempre amolecia mais fácil com a caçula, Petra sempre foi o fraco da família. Irene era a boa mas e "boadrasta", Ramiro e Caio não são seus filhos de sangue, mas quando casou com Antônio o homem já tinha Ramiro com 2 anos e Caio com poucos meses. Daniel e Petra foram o complemento tranquilo da família.

Ramiro sempre foi um filho tranquilo, teve seus momentos de traquinagem com a melhor amiga Thais, mas nada que não pudesse ser resolvido com uma conversa do poderoso La Selva, mas tinha um mistério que envolvia o mais velho dos filhos. Ele é adotado, perdeu os pais com poucos meses e Antônio se encantou pelo menino ao ponto de não conseguir não adotar o bebê gorducho e de cachinhos pretos e olhos chocolate atentos com tudo no mundo. Mas Ramiro ainda queria um nome, seja da mãe ou do pai, afinal quando Irene se casou com o homem fez o que a falecida Agatha não teve culhão, assumiu o garotinho como seu, na certidão ele é filho de Irene e Antônio La Selva, um filho legítimo.

Caio é um pouco complexado com a morte da mãe, mas foi acolhido por Irene e nunca tratado diferente, ele sempre seria grato a madrasta que o tratou como próprio filho quando não precisava. Ele sempre carrega um olhar nostálgico em datas marcantes, como aniversários da mãe ou a data da morte. Mas Irene sempre deixa uma xícara de chocolate quente para ele e tudo parece melhorar, o sorriso suave que ocupa o rosto da mulher sempre que faz isso e deixa um beijo na testa do enteado talvez colaboram para tornar tudo mais fácil.

Daniel é o filho certinho, sempre preferiu estudar e se esforçar em cursos ao invés de brincar com os irmãos nas terras do pai, mas sempre reservou um tempo para a família e adorava falar com Ramiro sobre livros e com Caio sobre ideias que teve para a fazenda, para Petra ele sempre reservou um tempo para ver um filme ou desenho com a irmã.

Petra sabe que é o xodó da família, sabe que seus olhinhos brilhantes são o ponto de ruptura de todos ali. Ela se contenta com esse carinho e cuidado e sempre busca o colo mais próximo disponível quando precisa, ser a caçula lhe dá mimos que ela sabe que são reservados unicamente para ela.

Cada um dos filhos busca uma formação, Petra ainda aos 18 está iniciando a faculdade, os irmãos já estão mais avançados e Antônio se sente tranquilo em ver que os filhos com pouca diferença entre idades se dão tão bem, ele ainda se lembra com um sorriso tranquilo de como teve suas preciosidades em um intervalo de 5 anos. Ele sabe que deve certas verdades para os filhos, principalmente Ramiro, mas prefere deixar que as coisas aconteçam sem pressa.

Irene sempre se orgulha dos filhos, além da melhor amiga de Ramiro que ela sempre trata como uma sobrinha, mas ela tem sua própria família com problemas.

Kelvin e Geovanna são os filhos de sua falecida irmã, Ramona ela a mais velha e sempre teve cuidado com Irene, a caçula de uma casa com 6 irmãos, então não foi surpresa quando ela acolheu os sobrinhos quando a irmã morreu, Geovanna tinha 5 anos e Kelvin era ainda recém-nascido quando tudo aconteceu, descobri que o afilhado tinha uma doença rara e sem cura foi ainda pior. Mas ela cuidou e deixou ambos aos cuidados da irmã um ano mais velha que ela e que não tinha filhos, a mulher pediu que ela pudesse cuidar dos sobrinhos como forma de manter próxima alguma parte da irmã.

O café da manhã seguia de forma tranquila, mas como um tradicional café da manhã dos La Selva algo saiu dos trilhos...

- Pai, eu quero falar com o senhor.

- Ramiro, se for sobre aquele assunto, meu filho é época de natal, tem festas simbólicas espalhadas pela cidade toda, depois a gente fala disso.

- O senhor sempre me enrola, sempre tem algo acontecendo que serve de manobra pro senhor me mandar viver e esquecer esse assunto, eu tô cansado de ser enrolado pai.

- Ramiro, eu já falei...

- Bom dia família do soja, é aqui que pediram um presente de natal? - a fala de Antônio foi interrompida por uma voz masculina doce, Ramiro se virou em um rompante para a voz com uma expressão de raiva.

Mas a expressão caiu por terra na hora, a voz veio do ser mais lindo que ele já pôs os olhos, o garoto ruivo de traços marcados e olhos claros delineados de preto era deslumbrante, a calça jeans larga e a blusinha curta e soltinha que usava deixavam somente a cintura marcada a vista, mas Ramiro sentiu um arrepio pela certeza que atrás daquelas roupas um corpo adorável estava escondido.

Ramiro sempre foi observador, então por mais focado que estivesse ele sempre sabia o que estava acontecendo ao seu redor. Era uma forma de sempre reagir rápido as coisas, Antônio fazia os funcionários perturbarem os filhos de forma aleatória para testar as reações reflexo e fazê-los reagir da forma mais fria possível. Petra tirava de letra sempre te uma reação fria e calculista, isso sempre assustava os irmãos.

Mas naquele momento o instinto aflorado fez Ramiro notar Thais extremecendo, e exalando uma respiração levemente mais barulhenta, ele deixou um sorriso de lado escapar quando notou a garota ao lado do mini deus grego, alguns traços parecidos denunciaram os laços de parentesco entre eles, a garota igualmente bonita tinha pele tão clara quanto o baixinho mas o cabelo era mais castanho do que cobre, e os olhos igualmente claros mas num tom mais esverdeado. Era bonita, ele admitia, mas ele não sentia atração por mulheres e isso tornou a situação ainda melhor. A menina tinha percepção aflorada e notou que tirou uma reação diferente da mulher preta de cabelos enrolados ao lado do cacheado. E notou um sorriso de zombaria no rosto de Ramiro, ela piscou um dia olhos e ele deixou um sorriso mais carregado sair. Ele sentiu Thais chutando sua perna e segurou o riso sob o olhar severo de Irene.

- Esses são meus sobrinhos, Geovanna, minha menina que cresceu tanto, lembro de você uma criança meu Deus - a fala acompanhou um abraço apertado entre as duas e Ramiro observou o carinho que a mãe exalava, como se finalmente sua família estivesse completa, ela sempre olhava melancólica para os dois quartos decorados e fechados no corredor e duas cadeiras sobressalentes da mesa.

- Senti saudades tia, é bom te ver de novo.

Irene se afastou de Geovanna deixando um beijo no cabelo da sobrinha, ela sentia tanta falta da irmã, e Geovanna era uma cópia da mãe, o sorriso doce que ela recebeu aqueceu seu coração e amenizou um pouco o impacto que marejou os olhos da mais velha.

- E esse é meu afilhado, Kelvin. Ainda lembro de segurar você como um bebê, cresceu tanto - Irene passou a mão no rosto do sobrinho e sentiu os olhos marejando de novo, ela se sentia tão culpada de ficar tão afastada quando o sobrinho poderia morrer a qualquer momento.

- Eu não lembro de ser carregado, mas eu definitivamente quero saber como é ser abraçado - com a voz angelical que soou pelo ambiente o ruivo recebeu um abraço apertado e sentiu que estava em casa, ele amava a tia Soraia, mas ela nunca soube ser afetuosa com ele, além dele já ter ouvido a mesma falando com outra tia sobre não se apegar com nada que fosse sobre ele, afinal ele poderia morrer a qualquer momento, não fazia sentido se apegar a ele e sofrer depois.

Geo era com certeza sua pessoa pessoa favorita no mundo, ele viu a irmã várias vezes deixando de lado coisas da própria vida para cuidar dele quando alguma de suas crises de tossir sangue e desmaiar ocorriam. Ele sabia que seu corpo era autoimune com qualquer tratamento, mas ele não pensou que medicações iriam prejudicar ele a longo prazo. Então foi uma surpresa quando os médicos que cuidam de seu tratamento deixaram claro que ele teria pouco mais de 6 meses de vida e que remédios só o matariam mais rápido. E se fosse pra morrer ele queria um natal em família normal, lembranças normais, então decidiu que a pacata cidade de Nova Primavera seria melhor que o agito do Rio de Janeiro.

Mas o olhar admirado que recebeu deixou claro que talvez ele conseguisse até mais, ele só teria que explicar tudo e deixar claro que ninguém ali deveria se apegar a presença dele. Até porque ele iria morrer e sua ausência voltaria a ser uma constante normal.

meu presente nesse Natal Onde histórias criam vida. Descubra agora