Cry me a river

1- O princípio

NOVA YORK 2019

Seus passos eram rápidos e ritmados, como se dançasse uma música sob a calçada que abriga uma fina camada de água da chuva, que acabara há pouco.

A luzes refletidas na água também refletiam sua bela roupa, que normalmente chamaria muito a atenção das pessoas. Sorte sua que está invisível a olhos humanos.

O sobretudo preto, que sempre usa, cobre até abaixo do seu joelho e se destaca por pequenas penas vermelhas perto do ombro.

Suas mãos empunhavam sua espada forjada em prata celestial, a qual usaria em algum demônio que ousasse fazer algo além do 'permitido'.

Ele se vê como um grande justiceiro, apesar de achar isso uma tremenda palhaçada. Poderiam facilmente acabar com todos os demônios de uma vez só.

Algumas pessoas passam por ele, mas o fato de não o verem mexe um pouco consigo.

Cada pessoa mantém sua fé, mesmo sem ter a confirmação visual daquilo em que está crendo.

A fé é uma coisa tão única de cada um que o intriga muito.

Em parte, é mentira que anjos não tenham sentimentos. Eles têm sim, embora possam escolher não dar tanta importância para eles. Podem simplesmente escolher sentir ou não.

Cada um tem a sua missão e designação.

Tom, por exemplo, tem a missão de proteger a Terra de demônios que passam dos limites e por isso fica por muito mais tempo na Terra do que no céu.

O equilíbrio entre o bem e o mal sempre existiu e sempre existirá, mas há coisas que passam dos limites. O ataque às torres gêmeas é apenas um exemplo.

Porém o seu convívio com os seres humanos o fez fazer um grande amigo: Gustav.

Gustav é um homem no auge de sua carreira como arquiteto que não faz a menor ideia de que seu amigo é um dos anjos mais poderosos que já pisaram na Terra.

Gustav é um homem muito esperto e muito inteligente, com várias experiências de vida.

Tom precisou fazer um amigo neste planeta pois passava muito tempo sozinho e isso o estava deixando muito mal.

Aprendeu a ter sentimentos muito parecidos com o dos humanos, não pode se igualar jamais, mas chega bem próximo.

Ele sente a solidão, sente melancolia, gratidão, compaixão e algum tipo distorcido de amor.

A amizade é em segredo e Tom tem muito medo de ser descoberto pelo andar de cima.

Por alguma razão desconhecida, Gustav está fora do radar dos outros anjos. O que não importa muito e Tom preferiu nem pesquisar a fundo sobre isso, está ótimo assim.

Pelo menos ninguém enche o seu saco.

Seus olhos avistam ao longe um homem de cabelos loiros encostado em um poste no meio fio.

Consegue sentir sentir com todo seu ser que é um demônio que está apenas fumando um cigarro de sabe se lá o que.

Ele usa uma roupa branca de couro com alguns detalhes em rosa.

Um arrepio percorreu sua espinha assim que passa pelo mesmo, mas não dá muita bola. Demônios causam uma sensação estranha mesmo e às vezes até uma ânsia de vômito.

Apenas não viu que o demônio olhou para ele e acompanhou seus passos com os olhos até que sumiu do seu campo de visão.

Algo no anjo chamou sua atenção.