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Atenas, Grécia - 2013

- Eu consigo sim. Eu aprendi a fazer isso na escola - Irís afirmava para o grupo ao meu lado com um bico enorme no rosto.

- Nós queremos que você nos ensine, se não sabe ensinar, é porque não consegue fazer - um garoto ao lado debochou.

- Não mesmo, burrinha! - outro loirinho afirmou rindo.

- Olhem como falam com a minha irmã. - me levantei da cadeira em que estava sentado, cruzando os braços em frente ao corpo. - Vá mostrar para eles como se faz.

Por ser o mais velho e mais alto do orfanato todos os pestinhas me temiam, e sempre que necessário eu usava essa persona brava para proteger a pequena ao meu lado. Por mais que meu pai e minha mãe não fossem os melhores zeladores, ainda assim nos davam um pouco de conforto. O que desapareceu junto com eles no momento em que fomos trazidos para esse orfanato.

Eu havia apenas oito anos quando o assalto aconteceu. Nossos pais tentaram fugir em meio ao caos, nos deixando para trás. Com Irís sendo minúscula, minha única preocupação foi a pegar no colo e sair correndo para o local mais seguro que eu vi, que foi a cozinha de um pequeno restaurante.

Logo em seguida, a dona fechou as portas e permitiu que nos escondessemos lá dentro. Irís observava tudo atenta, mesmo ainda não tendo tanta noção do que estava acontecendo, por ter apenas três anos, sabia que algo estava errado, e eu apenas tentei distraí-la enquanto ouvia todo um tumulto do lado de fora. Era um assalto em grande escala em uma joalheria, os bandidos pegavam reféns a todo instante tentando se safar da polícia e meu maior medo era que duas crianças como nós fosse atrativo.

Cerca de uma hora depois já não se ouvia mais barulhos de tiro, como estava tendo por contra a polícia e nem de pessoas gritando. Tudo era apenas silêncio, e eu ainda não conseguia ouvir nossos pais nos procurando.

Horas depois, a polícia nos informou que tentariam encontrar nossos pais, mas em meio a burburinhos que ouvi no orfanato já havia conseguido entender que eles se negaram a nos receber de volta, alegando que ficaríamos melhor aqui do que com eles.

Mentira maldita.

A dona do orfanato nos dava o tratamento mais rígido que podia. Quando não realizávamos uma atividade que ela pedia, ela nos deixava sem almoço. Se fizessémos qualquer tipo de "birra", o que poderia ser uma olhada ao lado enquanto ela discursava até não arrumar a própria cama do jeito que ela gostava, tínhamos que dormir no chão do quintal, com apenas um lençol pois ela tinha medo de que tivéssemos uma hipotermia e fossemos levados ao hospital.

Além do mais, quando estávamos doentes não tínhamos o direito de ir até lá. Ela chamava um pastor para nos benzer, alegando que aquilo era preguiça demais para não termos que fazer nada. Se qualquer um de nós realmente não conseguisse se levantar, ela nos agredia com um pano enrolado na mão, para não ocasionar hematomas.

- Apolo, isso não é perigoso? - Irís me tirou de meus devaneios e voltei a observar o que as outras crianças faziam.

Uma menina derrubava alcool no chão enquanto caminhava. Estavamos todos na cozinha então o perigo de uma explosão é grande, mas antes que eu pudesse falar algo, um garoto acendeu um fósforo e o derrubou no chão, bem em cima do rastro de álcool.

Segurei a mão de Irís e corri para a porta dos fundos, já observando o fogo se iniciar.

Várias crianças saiam correndo e gritando da enorme casa e vi aquela como nossa chance de sumir do local, então aproveitei, puxando minha irmã pela mão.

- Apolo! - ela gritou e parou, me segurando. - Precisamos ajudar eles!

- Ou eles, ou nós e eu sinceramente não acho que nada ruim possa acontecer, eles já estão vindo.

ÁrtemisOnde histórias criam vida. Descubra agora