Primeiro encontro

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Ramiro estava em frente ao tão falado bar Naitandei, atrás do volante do carro do patrão, esperando ele terminar uma tal conversa importante com a dona do estabelecimento, dona Cândida.

Fazia tempo que Ramiro não ia ao bar, seja acompanhando o patrão para uma dessas "conversas importantes" ou por si só, quando queria tomar algumas doses de rum. Já tinha frequentado o local por outros motivos também, quando mais novo, mas isso não o interessava no momento.

Dr. Antônio estava demorando mais que o normal e Ramiro já estava começando a ficar entediado, olhando pra porta do bar de minuto em minuto e só encontrando as primas, como carinhosamente são chamadas pelos homens da cidade, conversando na mesa do opendre. Até que surge uma figura que Ramiro não conhecia. Um garoto... ? não, um homem, com certeza mais novo que si, mas ainda assim, um homem. Ele nunca tinha o visto ali antes, se tivesse se lembraria, sem sombra de dúvidas.

O desconhecido parecia ser baixo, tinha mechas loiras nos cabelos que simpatizavam com seu rosto delicado e bonito — não que Ramiro ache outro macho bonito, claro que não —, e trajava roupas bem mais coloridas e curtas do que Ramiro já tivera presenciado qualquer outro homem usar, mas não parecia errado, diferente talvez, combinava perfeitamente com o corpo do rapaz, ressaltando algumas curvas que Ramiro talvez tenha se demorado um pouquinho mais analisando, mas ele negaria isso até a morte.

— Kelvin, a dona Cândida ainda tá no quarto dela? — Sendo tirado dos seus pensamentos, Ramiro escutou uma das primas, Luana, perguntar pro homem baixinho enquanto ele sentava à mesa junto com elas.

Kelvin. Então esse era o nome dele. Por algum motivo, a língua de Ramiro coçou com a vontade de saber como esse nome soaria saindo da sua boca, mas ele ignorou essa vontade, prestando atenção no que o jovem iria falar.

— Ih, minha velha, nem vem que eu sei que a dona Cândida odeia fofoqueira, não tenta fazer minha cova com a poderosa não — Kelvin podia até não ter muita estatura, mas compensava com a língua que era igual a um chicote. E Luana, que também não levava desaforo pra casa, não tardou de responder cada comentário ácido, levando os dois à uma discussão barulhenta sem pé nem cabeça, o que acabou tirando uma risadinha de Ramiro, que logo se recompôs, temendo que alguém o ouvisse.

Mas pelo jeito alguém ouviu. Kelvin virou o rosto para si, procurando de onde vinha a risada baixinha que tinha escutado, e foi aí que seus olhos se encontraram pela primeira vez. Kelvin o encarava de longe, espremendo um pouco os olhos para tentar enxergá-lo melhor e com uma expressão confusa, como se tentasse reconhecê-lo.

E Ramiro gostou.

Ele gostou de ter os olhos do outro sobre ele, gostou de ser alvo da sua atenção. Mas, ao mesmo tempo, isso o deixou inquieto, piorando ainda mais quando o outro rapaz deu um sorrisinho mínimo em sua direção. Sentiu um calafrio estranho na boca do estômago, um suor frio nas mãos e seu coração errar umas batidinhas, fazendo-o quebrar a troca de olhares para entender o que estava acontecendo. Minha virgem santíssima, será que eu tô tendo um troço?

Ramiro deu uma respirada mais funda pra ver se essa sensação estranha passava, se recusando a olhar na direção do bar — e de Kelvin — novamente, torcendo pro tempo passar mais rápido enquanto olhava pro painel do carro, por que raios seu patrão tava demorando tanto pra voltar?

Quando ouviu outra comoção vinda do bar, ele se atreveu a dar uma rápida espiada pra saber o que era, dando graças a Deus ser o Dr. Antônio que estava vindo em direção ao carro para irem embora. Ainda avistou Kelvin, que estava sentado no mesmo lugar de antes, conversando com Flor aos cochichos.

— Ramiro, toca pra casa que eu já resolvi o que vim fazer aqui. — Disse Antônio assim que entrou no carro, com a carranca de sempre no rosto.

— Agora, patrão — É o que Ramiro responde, ligando o carro e tentando ao máximo não olhar pro bar sem querer, mais uma vez.

— Ah, esse mundo tá perdido mesmo, hein Ramiro, — começa novamente Dr. Antônio — Onde já se viu um macho andar desse jeito? Olha lá, todo alegrinho, aí se fosse meu filho... Quero nem pensar viu — diz apontando com desgosto pra Kelvin, que está ainda do outro lado da rua, alheio aos comentários.

Ramiro só responde com um aceno e uma risada forçada, não querendo ignorar seu patrão, focando apenas na sua função de motorista no momento. Por fim, afasta o carro do Naitandei, esperando que isso afaste também o tal rapaz alegrinho da sua cabeça e as sensações estranhas que ele trouxe junto consigo.

obs: não tenho hábito de escrever mas gostei de pensar que foi desse jeitinho que tudo aconteceu e quis compartilhar aqui.

Desde a primeira vez que eu te vi [KELMIRO]Onde histórias criam vida. Descubra agora