Matheu
As férias de verão sempre davam a Matheu bons momentos de paz. As vozes na sua cabeça acalmavam a medida que o tempo aquecia e podia finalmente concentrar se nas suas leituras.
Uma edição de bolso sobre os antigos samurai repousava num sofa, marcado pela metade com uma folha de papel branca cuidadosamente dobrada pela metade. Um jovem de cabelo azul escuro caminhava alegremente com uma sanduíche na mão e um sumo natural de laranja na outra, depois de uma ida rápida até ao frigorífico da casa de ferias estava pronto para terminar o livro que começará pela manhã.
O livro contava uma velha história sobre um casal de samurais, uma mulher e um homem, que abdicaram da sua vida conjugal para servir o país. Onde as duas vidas acabaram por perecer e o seu amor foi eternizado pelo rio vermelho que se formou com o seu sangue.
Para Matheu era só mais um clichê de romance - pelo menos essa parte do livro.
Mas as histórias de guerra e luta sempre o agarravam com tanta intensidade que a sua mente parecia teleportar-se para alguma dimensão paralela, e podia jurar que se fechasse os olhos podia ver duas espadas cruzarem o ar e ouvir os risos divertidos de dois rapazes.
Voltou a embrenhar-se na leitura daquelas páginas mágicas que o transportavam para tantos mundos como os que os seus olhos pudessem ler.
"Tudo o que conhecemos é parte do que já fomos, os nossos corpos morrem, nos somos fracos demais para permanecer nesta eternidade de dor e sofrimento. "
Matheu ponderou nas palavras acertivas que introduziam o novo capítulo e prosseguiu a leitura depois de absorver o seu significado.
" - Estás foram as palavras do meu mestre. "
A personagem masculina do livro falava diretamente com a sua amada.
"- Eu gostaria de acrescentar algo mais." Continou
" - As almas nunca morrem. Dentro de nós fragmentos de vidas passadas moldam o que nós somos, no que nos baseamos assim como as nossas atitudes, defeitos e valores. "
Talvez por frases e ideologias como está Matheu continuasse a leitura de forma tão ávida. Ou talvez estivesse a apreciar a quietude da sua mente, do espaço, da sua vida agora que o calor do sol lhe aquecia a pele.
- Então querido, já terminaste de ler? - Uma mulher de estatura média e cabelo comprido caminhou gentilmente até ao sofá, sentou-se cruzando as pernas de forma delicada, sempre segurando as bordas do seu vestido antes de se sentar.
- Boa tarde mãe. - Matheu pousou gentilmente o livro ao seu lado, colocando as mãos sobre as pernas e sorrindo polidamente a mulher a sua frente. - Como foi a praia?
A mulher deu uma risada educada.
- Estava boa, o seu pai quase deixou fugir o seu irmão com um bando de pobres. - O riso feminino encheu a sala e Matheu sorriu.
É verdade que nascera num berço de ouro, tinha o que queria, na melhor qualidade e o mais depressa que o dinheiro podia comprar. Porém não concordava com o estilo extravagante em que os seus pais levavam a vida.
- E onde estão eles? - Elevou o olhar até a porta da sala, não vendo nenhum movimento na entrada.
- Acabaram por ir comprar um carro novo. - A sua mãe encolheu os ombros, ignorando que nem a dois dias haviam adquirido um novo veículo.
- Por esse andar iremos ter de fazer obras na garagem. - Comentou com um algum desprezo nos seus olhos.
Levantou-se, pegou o livro e subiu as escadas, deixando a mãe na sala.
Sendo o mais velho, era também o primogénito de todos os negócios da família e sabia que na altura da morte do seu pai o poder de controlo da fortuna.
A imagem de um dragão chinês gravado na porta no fundo do corredor marcava o quarto de Matheu havia apenas uma chave que abria aquela porta, e ela estava sempre amarrada ao fio preto no pescoço do seu proprietário.
O quarto ocupava toda a extensão lateral da casa, um exagero. Metade do espaço estava vazio, e todas as vezes que abria a porta a luz do sol batia-lhe no rosto, recebendo-o.
Voltou a fechar a porta no trinco, baixando se o suficiente para encaixar a chave na fechadura sem ter de a tirar do pescoço. Suspirou pesadamente e correu a persiana ao ouvir o roncar de um Jaguar no exterior.
O seu irmão mais novo partilhava do prazer de esbanjar dinheiro, nunca o vira poupar, se conter, optar por não comprar, nunca nunca nunca, pelo contrário.
Ele gostava de ter os olhares todos nele, imagine-se se fosse ele que tivesse nascido primeiro, com certeza em duas semanas arrumaria as contas do banco assim que herdasse o império.
Na sua secretaria estava um dos seus maiores orgulhos, um setup bem construído. Na verdade era a única tecnologia que se encontrava no seu quarto, as outras paredes próximas estavam cobertas por lombadas de livros.
Colocou o livro em cima da cama, leria o resto no sossego da noite. Por agora queria descansar a mente.
Não havia necessidade de tentar aprender, ou sequer ver as disciplinas do próximo ano de escolaridade, isso até faria perder a piada. Sempre tiveram as melhores notas, mesmo dormindo mas aulas, como era costume depois de ficar a ler a noite inteira.
Recentemente o seu grupo de amigos, embora pequeno, havia-no introduzido a um novo jogo chamado "Genshin Impact" apos de jogar apenas por duas noites fora capaz de atingir o nível 16, o que o possibilitava de jogar com os seus amigos e outras pessoas a volta do mundo.
Ligou o computador, o ecrã ligou na hora. Por um momento Matheu apreciou a qualidade da sua placa gráfica, a imagem 4k em movimento constante de uma paisagem japonesa deu lhe dores de cabeça súbitas, como se a imagem lhe trouxesse recordações dolorosas. Porém nunca estivera no Japão, ou em nenhum país asiático.
Ignorou esse sentimento de náuseas, e sentou-se, desbloqueando o computador. Ter um aparelho destes era novidade. Mas não o comprará com o dinheiro dos seus pais e sim com o dinheiro dos seus aniversários - que era sempre bem avultado para dizer a verdade - mas visto que lhe fora dado, não contava.
Apenas, para além das aplicações normais, dois ícones se encontravam no seu ecrã, uma coisa que os seus amigos chamaram de "Discord" e o vídeo jogo.
Abriu o ícone do Discord e ativou o estado disponível, logo a seguir correu para o ícone do jogo, abrindo o launcher.
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Para outra vida
Romance"Do you regret The things we shared that I'll never forget?" Duas almas perdidas e com assuntos por resolver reencarnam no mundo moderno no corpo de dois adolescentes que nunca experenciaram o amor, e muito menos por alguém do mesmo sexo. Cabe agor...