- prólogo

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Animal.

Besta.

Criatura.

Ele poderia ensinar o alfabeto inteiro com as palavras firmadas em sua mente que abriram feridas em sua alma.

Mestiço. Esse era o seu favorito

Lágrimas ameaçaram derramar, mas ele respirou fundo e segurou, fechando os olhos, forçando a máscara aristocrática de volta sobre seu rosto.

Malfoys não choram.

As mangas ásperas de seu manto arranhavam suas pálpebras. Seu estômago revirou e Draco gemeu baixinho, respirando profundamente, forçando-se a não vomitar. Finalmente, ele se levantou, cambaleando até a pia, jogando água no rosto.

Ainda faltava um bom tempo até o trem chegar a Hogwarts, mas os outros sonserinos provavelmente estariam preocupados com ele agora. Ele não queria que eles o encontrassem nos banheiros parecendo um lobisomem no dia seguinte à lua cheia. Que era exatamente o caso, mas eles não precisavam saber disso.

Eles não podiam.

Tinham o perguntado como fora o seu verão, ele não soube responder, qualquer resposta que desse não chegaria nem perto da verdade, porque ele nunca contaria de bom grado o que aconteceu, essa história nunca deixaria seus lábios se não fosse forçada. Apenas a memória o fazia sofrer, e as consequências de deixar alguém saber, de confiar a qualquer um deles...

Ele já estava na metade do trem quando sentiu um frio de tremer os ossos. Ele pairava no ar ao lado da névoa tão espessa que poderia ser comparada a algodão. O trem parou e ele tropeçou, suas pernas cederam e ele caiu sobre as mãos e os joelhos.

O que estava acontecendo? Por que eles estavam parando?

Ouviu-se um rosnado profundo, bem atrás de sua cabeça. Draco ficou de pé e se virou, sua varinha apertada em sua mão. Não havia nada lá. Não poderia ser.

Outro rosnado, o lobo, ele.

De repente, a névoa e o frio fizeram sentido. Seu medo, seu pesadelo, sua pior memória.

Os Dementadores de Azkaban estavam guardando Hogwarts este ano. Eles devem estar revistando o trem. Procurando por Sirius Black.

Sem um momento para pensar duas vezes, ele invadiu compartimento mais próximo, tropeçando em si mesmo e caindo no chão novamente. A porta bateu atrás dele e ele agarrou o chão com as palmas das mãos, respirando fundo e estremecendo, o som da fera diminuíndo consideravelmente.

"Malfoy?"

Draco ergueu a cabeça. Perfeito, excelente. Era logo esse o compartimento que ele invadiu. Poderia ser pior, ele tentou se auto consolar, poderia ter sido Potter, Granger e Weasley inferior.

Os gêmeos Weasley estavam piscando para ele dos dois assentos da janela, expressões de perplexidade em seus rostos idênticos.

Se prestasse mais atenção, talvez Draco poderia os diferenciar, ele pensa, as variações entre eles eram escassas mas estavam lá, e além disso, eles tinham cheiros distintos, seus sentidos mesmo sem prática poderiam dizer, talvez com o costume Draco poderia reconhecer qualquer pessoa apenas pelo cheiro. Era mais uma das fodidas coisas de lobisomem.

"Você está bem?" Um deles perguntou, o semblante preocupado. Draco olhou entre eles, o Weasley que o perguntou usava um suéter beige sobre as vestes, já o outro não.

"Dementadores" foi o que ele respondeu, antes de se encolher para mais perto do assento, sentindo a criatura se aproximando.

Passando pelo vidro frágil, banhado por um manto sombrio, a criatura deslizou. Não tinha pernas que Draco pudesse ver, nada para andar. Sob o manto, mãos esqueléticas espreitavam, ameaçando estender a mão a qualquer momento para roubar até a última gota de sua esperança, sua alegria.

"A barba de Merlin" um dos gêmeos atrás dele sussurrou, os dentes batendo.

Mas os dementadores, para o alívio de todos no compartimento, não pararam, seguindo seu caminho em busca da alma que deveriam levar. Draco não pode deixar de se perguntar, como alguém os controlava? E porque criaturas da morte obedeceriam um mortal?

Ele sentiu uma mão em seu braço, o despertando de seu torpor. "Vamos, levante" O Weasley sem suéter disse, tentando ajudá-lo a ficar de pé.

Draco o fez, lutando contra a forte dor de cabeça e tontura que o atingiu com a ação. O trem ganhou vida novamente, acelerando o passo para cumprir uma viagem já atrasada.

Tendo conseguido o equilíbrio de volta, ele olhou de relance para os gêmeos, lábios cerrados, sem saber como reagir aos seus olhares preocupados.

"Obrigado." ele apenas susurrou, antes de partir, sem se dar o tempo de ouvir uma resposta.

Ele queria ficar, aceitar seu consolo, mas pensou antes de agir. Se seu pai pensasse que ele estava se aproximando de uma família de traidores de sangue, uma que ele tinha especial desprezo, ele estaria morto antes que pudesse inventar uma desculpa digna.

Voltando ao seu compartimento, Draco ignorou os olhares de seus colegas. Ele não podia lidar com eles agora. Tudo era demais, tudo de uma vez. Ele só queria dormir, esquecer tudo.

Ele preferia estar de volta aos seus pesadelos, porque pelo menos não seriam reais, pelo menos ele acordaria, pelo menos eles não poderiam machucá-lo de verdade, apenas fazê-lo chorar.

Nada como o que o esperava no mundo real.

draconis lupus - harry potter fanfictionOnde histórias criam vida. Descubra agora