"E eu te chamei de casa desde o primeiro momento
Você é o teto e eu o pavimento
A estrutura é um sentimento
Seus braços são o quarto onde adormeço
E se você me abraçar não há outro lugar
Aonde eu gostaria de ir, onde eu gostaria de morar
Neste tempo onde tudo desmorona
Você é meu lar natural"
Laura Pausini, Dimora Naturale
– MERRY CHRISTMAS TO YOU! HO HO HO!
– É o quê, Kevinho? – Ramiro perguntou coçando os olhos. Acordou no susto mas não estava bravo, até gostava desse jeito espevitado de Kelvin acordá-lo às vezes. Deparou-se com ele sem camisa, só de shortinho vermelho e gorrinho de Papai Noel, e deu uma risadinha. Estava engraçado, fofo e sensual, do jeitinho que ele gostava.
– Feliz Natal, meu Rams Rams!
Kelvin deu um beijo de bom dia nele e o abraçou, depois fez um carinho nos cachinhos que tanto amava. Estava há dias pensando em todos os detalhes desse que seria o primeiro Natal com seu Ramiro, o primeiro dele com sua ainda pequeníssima família, a qual pensavam em aumentar algum dia.
O ex-capataz sempre passou as noites de Natal sozinho em seu quartinho, comendo sobras da ceia dos patrões quando Angelina se dava ao trabalho de mandar um pratinho pra ele. Às vezes, nem isso. E no ano passado tinha sido justamente na noite de Natal que aquela desgraça toda começou a se desenhar em Nova Primavera. Kelvin ainda se sentia culpado pelo jeito que os eventos se desenrolaram, culminando com Ramiro quase morto em seus braços. Embora ele já tenha dito e repetido mil vezes que o perdoava, que entendeu o que ele fez e o porquê e que não tinha nenhuma mágoa no coração, o jovem cantor continuava sentindo essa culpa. Por isso, estava determinado a fazer diferente esse ano. Iam ter um Natal feliz custasse o que custasse. Então, ele organizou tudo para receber os novos e queridos vizinhos para uma ceia no sítio para onde se mudaram poucos meses atrás.
Nova Primavera nunca lhes deu nada, não deviam nada àquela gente que, em sua maioria, só os maltratou, zombou deles e os feriu. Só tinham um ao outro e se sentiam prontos para recomeçar longe dali. Para onde iam não importava muito, desde que estivessem juntos. Só precisavam que fosse um lugar confortável para ambos. Ramiro gostava da terra, de trabalhar nela, de mexer com animais, e Kelvin só precisava de tranquilidade para compor e proximidade de um aeroporto para eventualmente viajar para cantar. Acabaram escolhendo Ilhéus, no litoral da Bahia.
Kelvin resolveu com Luana e Rodrigo as questões sobre o bar, no qual ele investiu muito dinheiro. A nova dona relutou mas acabou concordando em ceder uma parte da sociedade do bar como compensação pelos gastos que Kelvin teve para salvá-lo da falência. O cantor não gostou muito dos termos, achava que Luana ia acabar fazendo o bar voltar a ser um puteiro decadente e ele perderia dinheiro de qualquer jeito, mas acabou aceitando.
Com o restante de suas economias e o dinheiro do acordo trabalhista feito por Ramiro com os La Selva, eles compraram o sítio em Ilhéus e mudaram-se para lá assim que o processo criminal terminou com uma inesperada absolvição de Ramiro.
A propriedade que compraram contava com uma pequena plantação de frutas e legumes orgânicos, a qual Ramiro continuou tocando. Vendiam a produção na feira local junto com outros pequenos produtores da região. Apesar de terem esperado algum estranhamento da vizinhança, foram muito bem recebidos e na associação de produtores de orgânicos Ramiro era conhecido como "seu Ramiro, esposo de seu Kelvin".
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Casa
FanfictionFoi em uma noite de Natal que a desgraça começou a se desenhar em Nova Primavera. Porém, no Natal do ano seguinte, depois de percorrerem um longo caminho que os levou para longe daquela cidade maldita, Kelvin estava determinado a fazer com que ele e...