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Capítulo II - Domicílio

"Escolhi seu teu lar proteger
Ensinar e contigo aprender
De coragem te encher
Tuas fases acolher
Na alegria ou na dor
Tô contigo até o fim, amor"

Teu lar, Àvuà

Meses antes do Natal na Bahia...

– Então é isso, estejam preparados – doutor Rodrigo advertiu Kelvin e Ramiro depois de uma longa conversa sobre o processo criminal que corria contra o ex-peão dos La Selva.

Dias atrás, a situação dele se complicou ainda mais no casamento de Caio e Aline, quando Antônio La Selva empreendeu um plano desesperado para matar a viúva e foi impedido por Ramiro. Quando o maldito pegou Kelvin como refém e o machucou, o ex-capataz o atingiu com um tiro no ombro. Sua vontade era descarregar o pente de balas inteiro nele, ainda mais quando o maldito insistiu em ofendê-lo como fez a vida toda, mas a voz de Kelvin o trouxe de volta e o impediu de colocar mais uma morte em sua conta.

Ferido, Antônio La Selva agora estava algemado em uma cama de um hospital longe da cidade, recuperando-se sob forte vigilância da polícia. Assim que estivesse em condições, seria transferido para uma penitenciária de segurança máxima, onde aguardaria seu julgamento por todos os crimes cometidos.

Levado para a delegacia após o tiro, Ramiro só sossegou para dar seu depoimento depois que Marino permitiu que falasse com Kelvin pelo telefone e o namorado garantiu que estava bem, o corte que Antônio lhe fizera era superficial e só necessitaria de alguns pontos. Depois de algumas horas depondo, foi liberado para aguardar em casa o desenrolar do processo.

Agora, Rodrigo acabara de explicar que o inquérito sobre o tiro estava baseado em legítima defesa, afinal, Antônio mantinha o namorado de Ramiro como refém e, provavelmente, não daria em nada. Quanto aos outros crimes, a audiência confirmando o acordo de colaboração premiada seria dentro de poucas semanas.

– Temos um caso bom – Rodrigo prosseguiu –, estou confiante, mas quero que vocês se preparem porque é muito provável que haja uma pena a cumprir, mas vou fazer de tudo para que seja a menor possível.

Kelvin e Ramiro olharam-se cúmplices, o jovem cantor segurou o rosto do namorado com uma das mãos e fez um carinho na barba que tanto amava.

– Não importa o que aconteça, Rams, eu estou com você. Não vou te largar nunca, ouviu? Você não tá mais sozinho na vida.

– Eu sei, Kevinho – Ramiro respondeu sereno, retribuindo o carinho no rosto e beijando a outra mão de Kelvin. – Tô tranquilo.

– Eu queria sugerir uma coisa pra vocês... – Rodrigo acrescentou, um tanto receoso de abordar esse assunto. Os dois olharam atentamente para o advogado. – Eu sei que vocês não estão namorando oficialmente há muito tempo, mas acompanhei essa história, sei do amor de vocês... Então queria sugerir que vocês se casem.

– Casar? – Ramiro indagou surpreso.

Igualmente surpreso, Kelvin olhou para ele temendo uma resposta como a que já tinha ouvido muitas vezes... Apesar de estarem assumidos, ainda achava o assunto casamento um tópico sensível para Ramiro, por isso não tocou mais nele, até Rodrigo trazer o assunto à tona novamente.

– Casar – Rodrigo confirmou. – Se vocês forem casados, vai facilitar muito as coisas, Ramiro. Não vão precisar passar por assistente social e nem por burocracia nenhuma para comprovar o relacionamento e ter acesso a alguns benefícios como a visita íntima... Se vocês estiverem casados, eu só apresento a certidão e está tudo certo.