Não se pode dizer ao certo quando tudo começou. Pode ter sido no restaurante quando insisti para meus pais me comprarem peixes fritos e você chegou bem na hora e me roubou palitinhos de peixe. Ou talvez tenha sido com você me fazendo cosquinhas e me empurrando, pegando minhas coisas e me fazendo gargalhar. Pode ser que seja nossas brigas e implicâncias, afinal, somos nós.
Quem sabe seja alguns meses antes, quando ficamos deitados na cama da minha avó compartilhando de implicâncias e bobeiras. Ou certamente, a mais de um ano atrás, quando fomos ao sítio dos seus pais e ficamos passeando juntos por aquelas estradas imensas sem saber ao certo aonde estávamos.
Mas tudo ocorreu exatamente alguns dias depois depois dos palitos de peixe...A casa estava lotada, quinze pessoas dividindo um fim de semana agitado! Nossos pais estavam cansados do passeio do dia anterior, a cachoeira! E Jesus, como você me irritou nessa cachoeira! Eu estava cansada, tínhamos passado a madrugada conversando e bebendo escondido com a minha prima mais velha, passava um pouco das quatro da tarde e eu fui me deitar...
Devo ter dormido uns trinta minutos quando você e seu pai colocaram a caixa de som no meu quarto e me acordaram... Jesus, eu acordei confusa e desliguei a caixa de som, só pra depois ouvir suas risadas altas zombando de mim!
Levantei em um pulo e fui comer uns pedaços de carne, parecia um cochilo de revitalização, comi e conversei por muito tempo! Seis minutos!
Então me levantei, subi as escadas e deitei na cama novamente... Pronta pra descansar mais um pouco... Mas você jamais deixaria isso, não é?
Você ficou me cutucando, me empurrando, me incomodando por mais de uma hora, eu ria e pedia pra você ir embora... Mas você não foi... Você nunca ia...
Me virei para o outro lado, emburrada e cansada, já planejando uma atormentante vingança, jesus.
Você chegou no meu ouvido e começou a sussurrar, e eu já me preparei pra sentir o sopro... "Vamos descer?" Você repetia... E eu negava!"Não"
"E por que não?"
"Porque eu não quero!"
"Por que você não quer?"
"Porque eu estou com sono"
"Vamos descer?!"
"Não, caramba"
"Por que?"
"Porque eu quero dormir"
Jesus, devemos ter repetido esse diálogo ao menos duzentas vezes, porque você é o ser mais insistente que eu poderia conhecer...
Me virei em sua direção, já irritada:
"Vai embora e feche a porta!"
Você fechou a porta... Mas nunca foi embora.
Você ficou ao lado da cama, ainda com aquele mísero diálogo, eu ria enquanto respondia de tanto sono que eu estava...
Nós fomos ficando cada vez mais perto... Nossos narizes se roçando levamente... Eu sorri e desviei o rosto, é claro
Mas continuamos, afinal, o que podia dar errado?
Olhava tanto para os seus lábios enquanto você falava, enquanto você me zoava, enquanto você me irritava...
Jesus, por que eu queria tanto aquilo?
Você se sentou na cama, céus, quando aquele diálogo ia parar de se repetir?! Eu não queria descer, eu estava cansada, muito cansada!
Minha prima e sua tia haviam sumido a quarenta minutos e entraram no quarto as pressas procurando por elas... Nenhuma estava ali, é óbvio. Descemos as escadas a procura delas, mas logo desisti e fui deitar, na esperança de você me seguir, mas fingindo que queria que você sumisse...Ficamos na sacada do meu quarto por alguns minutos, quando tentei entrar novamente, você me fechou, e nossos narizes se roçaram, sua boca estava tão apreciável e eu quase te beijei ali.
Mas nossos lábios não se relariam ali, na sacada, aonde qualquer um podia ver...
Fiquei em pé na sua frente, meu corpo bem mais solto e a vergonha esvaziando da minha alma, céus, aonde estava minha dignidade?Você se sentou, e ao invés de eu me deitar pronta pra te ignorar, cruzei meu corpo com o seu... Você tornou a repetir em sussurro nosso diálogo da sorte
"Vamos descer?" Você sussurrava... E eu negava!
"Não"
"E por que não?"
"Porque eu não quero!"
"Por que você não quer?"
"Porque eu estou com sono"
"Vamos descer?!"
"Não, caramba"
"Por que?"
"Porque eu quero dormir"
O silêncio do quarto, meu sorriso, seus olhos nos meus lábios... Tudo isso levou exatamente onde deveria levar. Nossas bocas se tocaram, por duas vezes.
"Isso vai dar uma merda" você disse. E eu gargalhei.
E lhe depositei outros selinhos nos lábios, esperei sua reação por alguns segundos, estávamos tão perto!
"Fecha a... Janela" entrou seu pai dizendo no quarto. Desviei o olhar do seu rapidamente.
E alguma hora mais tarde você me diria que seu pai veio lhe zoar dizendo "peguei vocês no pulo", e meu deus, precisávamos ter feito isso no mesmo dia que todos já estavam zombando da gente?!
E você precisava ter me evitado por quase todo o restante da viagem?
Mas no final, você continua sendo apenas meu primo de terceiro grau implicante, irritante e gatinho!
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E foi assim que aconteceu
FanfictionTalvez sejam nossas brigas, nossas implicâncias, afinal, somos nós!