Capítulo 4

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Sentir o meu corpo quente era confortável, como se estivesse tapada por um lençol de pêlo muito quentinho, ou tivesse uma chávena de chá na mão onde podia aquecer os meus dedos gelados. Bocejei e esperguicei-me o máximo que o meu corpo permitia. Abri e fechei os olhos até a imagem focar, estranhei o panorama branco a minha frente, então passei a mão pelo rosto, so depois percebi que não se tratava de mais nada nada menos do que um par de asas.

Levantei o rosto e dei de caras com Zaki adormecido encostado a uma árvore comigo sentado no meio das pernas dele. Olhei automaticamente em volta, ainda estava só se calças finas e top, mas nem me lembrava de ter saído da água...ou de como chegara ali. Seria muito mau se alguém me visse neste momento.

Dei um toque no pé de Zaki, as asas eram muito pesadas para eu as mover, sempre pensei que eram fofas e leves como plumas, mas assim estava mais justificado o porte grande e forte dele.
Zaki não se mexeu, talvez me devesse esconder entre as asas dele, encolhi-me um pouco mais contra o peito do meu noivo. Podia ouvir o coração dele bater suavemente contra a minha orelha e o ritmo da sua respiração. Adormecido até conseguia ter a sua graça. Pensei.

"Está confortável aí?" Por estar tão alerta para não ser descoberta, e pelos rumores que isso levantaria. Assustei-me quando Zaki passou a mão pelo topo da minha cabeça.

"Não." Menti "Deixa-me sair"

Ele riu, como se cheirasse a minha mentira, mas talvez fosse o meu rosto avermelhado que me denunciasse. Zaki abriu as asas com muita facilidade e respirei um pouco de ar fresco que não contivesse o cheiro doce de castanhas quentes e azevinho.

"Então..." Disse inclinando me sobre os joelhos. Lembrei-me do que lhe chamaram mais cedo. "Sobre aquele assunto a porta do meu quarto..."

Teria continuado a falar mas Zaki abanou a cabeça e encolheu os ombros.

"Relaxa." E voltou a fechar os olhos

"E como isto aconteceu?" Gesticulei entre mim e ele, e mesmo não abrindo os olhos dourados vi-lhe um sorriso no rosto.

"O que ao certo princesa? Eu estava a ir para casa, porque estava chateado.
Quando vi que estavas na água, mas a dormir na tua forma de peixe-sereia."

"Não sou um peixe-sereia, ô raiozinho de sol." Se havia alguma coisa que me desagradava era aquele tipo de comentários, especialmente vindo de alguém bonito como eles. Não eram metamorfos. A sua aparecia não mudava fossem onde fosse.

Zaki riu "De qualquer forma. Tentei acordar-te, depois de insistir muito " Pelo tom da sua voz podia ver a ironia. "Peguei em ti, trouxe-te até está margem e a Princesa e Sacerdotisa de Elinor dormiu como um bebê debaixo das minhas asas.

Da palma da minha mão uma bola de água atirada na direção do Anjo, mas Zaki desviou e subiu alto no céu. Cruzei os braços a frente do peito.

"Só para que saibas, não é a primeira vez que dormo no mar" gritei em direção ao céu.

"Cálculo. Mas foi divertido."

"Preciso de voltar. Tem como ires buscar as minhas roupas a outra margem, perto do castelo?" Zaki desceu com um sorriso maroto na cara.

"Foram levadas pela corrente."

Suspirei, era óbvio que não conseguia que ele as fosse buscar, ele não era exatamente um cão...por mais que lambesse as pedras por onde paço se lhe pedisse.

"Não faz mal." Uma magia séria suficiente. Aproximei-me da água, molhando-me até aos tornozelos, ergui ambos os braços fazendo a água subir pelo meu corpo dando me um vestido todo feito se água do mar. Ainda se podia ver a espuma das ondas nas pontas do vestido quando fui novamente ter com Zaki.

Ele parecia um pouco atordoado, e contei o engolir em seco três vezes antes de pipagariar para dizer algo, que lhe ficou preso na garganta visto que fechou a boca logo de seguida.

Encolhi os ombros, não vira o que o podia ter deixado tão chocado, era uma habilidade simples, aprendemos-a na escola. Estávamos a duas estradas da usada como principal para acesso ao castelo.

"Vens?" Disse para o homem que ainda me olhava com um brilho dourado na cara. Seguiu-me quando comecei a andar. Caminhamos um bom bocado em silêncio, e desta vez surpreendi-me por ser a primeira a falar.

"Não me despedi do meu irmão." Declarei

"Tratei disso" Olhei Zaki que andava ao meu lado, ou melhor pairava, a muito que tinha tirado os pés do chão e batia as asas gentilmente ao meu lado.

"Como?"

"Bem sabes...fui ter com ele e disse-lhe que em nome da princesa se Elinor e do seu futuro esposo, lhe desejamos uma boa jornada" Bati com a mão na testa.

"Fizeste o que?" Queria bater-lhe. Teria Daren pensado que não queria falar com ele? Que preferia mandar o meu esposo tratar do assunto?

"Queria que o deixasse a espera?" Zaki franziu as sobrancelhas até às unir numa linha fina e dourada.

"Não... obrigada." Agradeci, resolveria as coisas assim que o irmão voltasse.

"Então, sempre passas a noite?" Perguntei em tom de conversa. O caminho ainda ia ser longo e por mais que apreciasse o silêncio podia-se ver a hiperatividade do Zaki a consumi-lo.

"Sempre falaste com o teu pai?"

"Não..."Tinha-me esquecido desse ponto, deixará a oportunidade de o encontrar para tentar alcançar Daren, não fizeram nenhuma das duas.

"Sem problema, eu sou quente. Posso dormir na rua." Disse enquanto erguia o peito e colava o polegar a roupa.

"Não vais dormir na rua."

"Oh, preocupada comigo?" Fez beicinho e eu devolvi-lhe com má cara. Pareceu zangado.

"Estou a dar o meu melhor!" Já tinham percorrido metade do caminho e a meio dessa metade Zaki passara a caminhar em vez de flutuar sobre o chão. Discutimos algumas vezes pelo trajeto. Então decidimos tirar um pouco para nós mesmos em silêncio.

Perante aquela frase súbita, olhei-o indignada.

"Sim exatamente, isso mesmo que ouviste. Desde que soube do nosso noivado não tenho feito outra coisa. Já perdi as vezes que fiz o meu pai te enviar pequenos presentes, raio de sol em garrafa para te alegrar e aquecer. Poeira capaz de fazer brilhar qualquer jóia. E até mesmo um dos vestidos mais bonitos que já vi, pedi-te que o usasses no dia que tornamos oficial, mas nem isso fizeste." Paramos a meio do caminho, mas desta vez era Zaki que tinha um brilho nos olhos.

"Ouve..."

"Ouve tu Safiya!" Falou com brutalidade. "Vim eu de Solasta até aqui hoje porque te imaginei mal, queria apenas ser um ombro amigo. Sei o quão o Daren é importante para ti. Não queria que visses o nosso casamento só como obrigação. Queria que pelo menos fossemos amigos!"

O ar a volta de Zaki moveu-se as asas abriram e eu pude ver talvez uma das visões mais bonitas de sempre, mas também se tornava assustadora a forma como o seu corpo brilhava e a energia dourada lhe saia do corpo.

"Tu não te ajudas a ti mesma Safiya. Não sou teu inimigo, mas tu encaras-ms como tal. Mas tu é que sabes. Por mim tanto me dá. Também preferia não me casar contigo." Pode ver algo dourado escorrer-lhe pela face antes das grandes asas o levarem para o topo das árvores e de o fazerem desaparecer.

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