Outro dia longo. Claúdia havia saído mais cedo hoje, então foi mais difícil organizar a farmácia. Além disso, a falta de sua presença me causa arrepios, pois trabalhamos no turno da madrugada; sou medroso, odeio ficar sozinho. O turno se inicia à meia-noite e se encerra às três horas da manhã.
Pego as caixas de remédios do chão, derrubadas por clientes idiotas, e coloco de volta nas prateleiras cinzentas. Quero saber qual é a dificuldade de simplesmente pegar e pôr de volta.
Vou para os fundos da farmácia e desligo todas as luzes do local. O fundo da loja também é o local onde guardamos nossos pertences. É um lugar triste, fedido e um tanto macabro. Provavelmente só fica um clima tão ruim lá dentro nesse turno. No turno do dia deve ser bem melhor.
Enfim, abro meu armário, saio do calabouço da farmácia e fecho a loja completamente. A partir de agora, sou só eu e a noite.
Ando pela noite fria e na escuridão densa, observando cada cantinho das ruas, pois não posso me dar ao luxo de ser roubado novamente. A brisa da madrugada batendo no meu rosto serenamente... Isso me traz uma certa calmaria, mas de repente, uma melodia lamuriosa percorre os meus ouvidos. Uma melodia assobiada. Ela está bem próxima e isso me desconforta. Aperto meu passo para ver se me distancio do som, mas ele continua próximo, e cada vez mais próximo. Me desespero e começa a correr. A melodia ficou acelerada conforme meu coração bate. Eu viro em uma esquina e a melodia fica mais distante.
– Graças a Deus – Eu digo bem baixo enquanto corro; e a melodia vai diminuindo. Viro em outra esquina e o assobio está quase inaudível. Eu olhei para trás e me virei completamente... Nada, estou seguro. Vou andando para trás de costas e agora o assobio sumiu. Dou mais um passo para trás e esbarro em algo. Quando viro, eu o vejo. Um homem alto, de chapéu, usando roupas surradas. Ele carrega um saco de pano e seus olhos são completamente negros. O assobio vem dele. Tento me distanciar, mas meu medo me congela. Tudo que me restou foi seu sorriso macabro...
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O assobiador
HorrorUma noite fria, escuridão densa... Assobios à noite. Baseado no folclore do nosso Brasil. A origem do folclore se dá no Piauí.