passeio (pt 1)

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– Estes são os estábulos, onde deixamos os cavalos – disse Isaac,
segurando a porta aberta para mim.

Ele havia se oferecido para me mostrar a fazenda, e eu concordei.
Precisava que alguém, qualquer pessoa , me distraísse.

Dava para ver os estábulos da janela do meu quarto. Quando
percebi a construção principal de longe, presumi que fosse um
celeiro, mas agora, ao entrar, dava para ver que era muito maior. A
primeira coisa que me atingiu foi o cheiro de animais e de feno. Era
extremamente penetrante – o tipo de cheiro tão forte que dava para
senti-lo nos pulmões ao respirar.
Estávamos parados na frente de uma longa fileira de baias, uma
de cada lado. Algumas estavam vazias, mas animais enormes
ocupavam o restante, relinchando e balançando os rabos. Eles
variavam de marrom escuro a cinza claro, mas, na minha opinião,
eram todos igualmente assustadores. Dava para sentir Isaac logo atrás de mim, e, por algum motivo estranho, achei isso
reconfortante.

– Além dos cavalos – disse ele com a voz calma –, a melhor coisa
desse lugar é o sótão.

Isaac me incentivou a ir para a frente, as mãos pressionando
minhas costas, me guiando. Enquanto caminhávamos para o outro
lado do estábulo, ele apontou os diferentes cavalos, me dizendo
seus nomes. Em uma das baias, um homem estava escovando uma
égua preta que Isaac chamou de Uvinha, e, quando nos ouviu, o
homem ergueu os olhos e deu um aceno de cabeça em nossa
direção.

– Quem é? – sussurrei enquanto continuávamos andando.

– É um dos tratadores – respondeu. – Meu tio tem muitos
funcionários. Precisa muita gente pra administrar uma fazenda, e
meus primos e eu nem sempre podemos ficar pra ajudar.

Quando chegamos no fim das baias, eu havia contado 24 cavalos
ao todo. Isaac parou em frente a uma escada de madeira, e estiquei
o pescoço tentando ver o que havia no segundo andar. Pisou no
primeiro degrau e começou a subir. Na metade do caminho, olhou
para mim por cima do ombro.

– Vem, Lizzie.

Subi atrás dele, o que foi mais difícil do que parecia por causa do meu short nem um pouco confortável. Quando cheguei ao topo, Isaac me estendeu a mão e me puxou para o sótão. Era óbvio que os garotos haviam
reformado o espaço. Eu não sabia o que esperar, talvez fardos de
feno, mas em vez disso havia um tapete azul surrado no chão, dois
sofás, uma TV velha em uma mesa de centro e um dos sempre
presente murais de Katherine decorando a parede. Uma pilha de
jogos de tabuleiro estava no canto, mas, a julgar pela camada de
poeira, eles não jogavam havia um tempo.

– A gente vinha muito pra cá quando era mais novo – explicou
Isaac enquanto eu rondava a sala, absorvendo cada detalhe.

Uma das vigas que sustentavam o teto estava coberta de rabiscos
feitos com caneta permanente: datas e os nomes dos meninos
marcando suas alturas à medida que cresciam.

Quando ele viu o que eu estava olhando, passou os dedos sobre uma marca com seu nome ao lado.

– Vamos colocar você.

Ele pegou um marcador. Estava pendurado na corda pregada na
viga, esperando pacientemente para registrar uma nova altura. Me
coloquei de costas contra a madeira áspera em que marcavam as
alturas, e as mãos de Isaac roçaram o topo da minha cabeça ao
passo que ele desenhava a linha. Ele escreveu meu nome ao lado
da marca quando eu saí da frente, e percebi que a pequena
marcação preta não era apenas uma prova de como eu era baixinha
em comparação com a maioria dos Walter; era também uma
memória.

– Aqui – disse Isaac , olhando sua obra depois de pendurar o
marcador de novo. – Agora que você foi apresentada ao sótão,
deixa eu te mostrar por que ele é tão incrível.

Black Hair- Isaac WalterOnde histórias criam vida. Descubra agora