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"Ninguém jamais poderá amar mais do que uma vez na vida." — Jane Austen.

O sol bateu em seu rosto, Navia abriu os olhos, levantou-se devagar e se arrumou para mais um dia.
Uma carta estava em cima de sua mesa.

Para: Demoiselle Navia

Querida, Demoiselle Navia

    Venho por esta carta vos informar que passarei duas semanas em Fontaine. Sei que parece um pouco repentino de minha parte, desde que, sempre venho a negócios e passo pouquíssimo tempo, mas desta vez sinto que devo fazer uma pausa e apreciar as belezas de Fontaine, desde que minha mãe é nativa daqui, sempre ouvi sobre suas caídas de água e suas belezas, e também quero saber o que há de novo. Também venho pedir-lhe, Demoiselle Navia, que se possível faça-me companhia e a meu filho Louis.
Aguardo sua resposta.

Atenciosamente,
Pierre.

“Merda. Merda, merda, merda.” Navia pensou. “Tenho de me livrar deles.”

Navia logo solicitou seus guarda-costas que a levassem a Meropide, ela tinha que falar com Wriothesley.

Ao chegar, ela se dirigiu ao escritório dele em passos rápidos fazendo com que o barulho dos saltos dela ecoassem altamente em uma frequência irritante. Ela pediu para que os guarda-costas a aguardassem fora do escritório, ela subiu as escadas, Wriothesley a encarava e ela sentiu por um momento que perderia a capacidade de andar.

— Odeio dizer isso… mas vou precisar da sua ajuda novamente. — Ela disse firmemente, ela não poderia parecer uma garotinha chorona como na noite anterior.

— O que você precisa, Demoiselle? — Wriothesley cruzou os braços e se encostou na cadeira. — Aliás, aonde estão seus guarda-costas? É a segunda vez que aparece sem eles, além de ontem a noite, se sente tão segura assim perto de mim? — Ele a provocou e Navia ficou vermelha, uma mistura de raiva e algo a mais.

— Primeiramente, eles estão lá fora, só não quero que eles escutem o que estamos falando, preciso explicar a eles a situação depois, para ajudar nessa nossa mentirinha. Eu até tentaria lhe explicar melhor, mas ter qualquer discussão com você é cansativo. — Navia cruza os braços empinando o nariz.

— Com certeza, porque eu sou o teimoso, não é? — Wriothesley ironiza, mais uma vez, provocando a loira.
— Esqueça, eu cuido disso sozinha então. — A loira virou-se descendo as escadas.

— Tudo bem então. — ele disse convencido — Mas, Senhorita Navia…

Ela olhou para ele com um pouco de raiva
— Você sabe que se precisar eu estou aqui, não é? — ele sorriu ladino, por um lado era verdade, e tinha uma parte provocativa e brincalhona nisso. — Então… se você precisa de mim, no seu lugar, eu daria meia volta e subiria para falar comigo, e não perder a viajem… Eu sei que se sair agora por essa porta você ainda sim voltará aqui mais tarde.

Navia pareceu se estressar um pouco, odiou a forma como ele realmente estava falando a verdade, ela poderia bolar outro jeito de se livrar de Pierre, mas talvez nenhum outro plano seria tão bom quanto aquele que ela já começou. A mulher respirou fundo e deu meia volta subindo as escadas e se odiando por ter surtado, por ter voltado e por como ele a olhava com aquele sorrisinho ladino e os braços estendidos na cadeira, ela odiava aquela postura dele e como ele parecia o diabo em frente aquele grande símbolo de um cão de três cabeças.
— Desculpe, eu perdi a cabeça… Bem, deixe-me explicar a situação: Pierre vai ficar duas semanas na cidade e quer minha companhia. Não posso negar que, sim, irei acompanhá-lo. Mas nisso ele talvez descubra que não somos casados como a gente disse ontem a noite…

— Já entendi… então o que quer que eu faça? Apareça com você uma vez ou duas?
— Acho que é mais complicado do que isso, Vossa Graça-
— Wriothesley. — ele a interrompeu — Se vamos ser um casal, mesmo que de mentira, seria melhor que me chamasse pelo meu nome, mesmo quando estamos a sós, assim você se acostuma, Navia . — Wriothesley limpou a garganta esperando a resposta dela.
— Certo… Wriothesley.
— E não precisa ficar bancando a durona comigo, te ver chorando ontem não me fez pensar que você é fraca, eu mesmo te disse ontem.
— … Não estou me fazendo de durona, eu só não sou uma menininha chorona. — ela disse séria.
— Eu sei que não é. — ele levantou-se e andou em direção a ela.
— Então porque acha que a situação com Pierre é mais complicada do que eu sair com você uma ou duas vezes?

— Wriothesley, achei que era óbvio, ele não comprou nossa conversinha de casamento, ele está dando essa desculpinha de ficar na cidade para conhecer melhor os lugares mas ele claramente está tentando descobrir se nosso casamento é falso o que claramente é! — ela respirou fundo — Olha, só que “sabe” que somos “casados” é a gente, se ele perguntar a qualquer um na cidade a resposta será “Não”, além de que as pessoas sabem que não gostamos um do outro. — ela se encostou na mesa.

— Não tenho nada contra você, e não pensei que você não gostasse de mim em nenhum momento, você me chamou para sair…
— Fazia um tempo que nós não falávamos, tipo a última vez que eu desci aqui. Só queria manter uma boa relação diplomática.
— E conseguiu pelo visto, você casou comigo. — Ele brincou e também se encostou na mesa ficando ao lado dela — Olha… quanto as pessoas dizerem que não somos casados, acho meio difícil. As pessoas não sabem muito sobre a minha vida, na verdade, não sabem nada além de que eu administro esse lugar, então acho que talvez eles pensem que possa ser verdade… entende meu raciocínio?

Navia pareceu se acalmar agora entendendo o que ele quis dizer
— E algumas pessoas nos viram ontem… mas o que a gente faria para que as pessoas acreditassem que estamos juntos?
— Eu posso segurar a sua mão… se você quiser.
— É uma boa ideia — Ela sorriu — vamos acertar algumas coisas sobre isso então… serão duas semanas e-
— Posso te mandar flores todos os dias, assim quando Pierre ou Louis bater na sua porta sempre haverá a lembrança de mim, não é? E também as pessoas da floricultura são fofoqueiras, não vai demorar muito para eles espalharem que eu sou o último romântico e mando flores todos os dias para a Demoiselle Navia. — ele sorriu brincalhão.
— Seria… interessante. — ela sorriu de volta para ele. — Nunca recebi flores… não romanticamente, já recebi como presente de sócios, mas romanticamente… uma vez de quando criança…

Wriothesley se sentiu tentado em dizer o quão isso parecia um absurdo, Navia era linda e mesmo assim nunca ninguém a mandou flores? Nunca ninguém viu o quão ela era divertida? O quão o sorriso dela era lindo, o quão aqueles olhos dela brilhavam, como sua risada era confortável e como assim nenhum homem nunca sentiu o coração bater 8 vezes em um segundo só de vê-la?
Wriothesley e Navia estavam muito próximos um do outro, seus olhares estavam quase falando entre si, Wriothesley sentiu-se tentado a chegar ainda mais perto do rosto dela, o perfume dela entrava por suas narinas, era doce mas não enjoativo, e trazia ele uma sensação boa. Navia não sabia o que estava pensando mas sentiu nós no estômago, a proximidade do duque a fazia pensar em uma lareira crepitante, ele era alto, realmente alto, e tinha cabelos pretos e cinzas que o faziam lembrar um lobo, ele era forte também, tinha braços grandes e cicatrizes por todo canto, Navia se perguntou o porquê ele ter tantas cicatrizes mas isso se esvaiu quando ela se perdeu nos olhos cor de gelo do duque e aquele sorriso diabólico dele.

A luzes vermelhas e o barulho de uma sirene começaram a soar pela Fortaleza de Meropide. Algo estava errado.

A promessa - Wriothesley x NaviaOnde histórias criam vida. Descubra agora