PAPAI

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*******Vamos seguindo... apresentando PAPAI

Ainda não compreendo bem a plataforma. Vou perguntando nela e no Dr. Google e vou remando!

Classifiquei como histórias curtas. Depois não achei esta classe na pesquisa. Ato contínuo chamei de histórias femininas, mas pelo que achei lá, também não parece adequado. Ora vejo um selo de #MEMORIAS no meu perfil. Este me parece adequado, mas não existe por si só! Vou mexer mais não. Encher de hastags e deixar rolar.... Hoje postarei mais uma história. Sem compromisso com a ordem cronológica que se apresentam no livro Flor Cigana, garantindo a costura da novela, vou revelando de acordo com o humor do dia **********

COM SUA RUDE e prodigiosa sabedoria e astúcia, já bem desenvolvidas pela constante lida com a gente da cidade, meu pai gozava de grande prestígio devido ao seu bom senso e habilidades em criar saídas para o aparentemente impossível.

Também possuía uma boa situação financeira, e a administração municipal da época era do seu inteiro agrado, tendo recebido todo seu apoio na campanha eleitoral.

Toda a disposição nata para servir aos pobres e aos oprimidos atraía, ainda mais, as pessoas que precisavam de um favor seu, desde o purgante de aguardente de jalapa, soro antiofídico, penicilina e, até, intermediação entre herdeiros em desavença, casos de moças que se "perdiam", pareceres ligados à justiça e ao Estado.

Enfim, papai costumava ser o protetor de muita gente abandonada, ignorante ou desorientada que povoava nossas bandas. Involuntariamente tornou-se médico, juiz, advogado e intermediário das causas de quem dele necessitava e o solicitava.

Apesar de político e de receber a devida retribuição de todo aquele pessoal, em favor dos seus candidatos, na hora da votação, podíamos sentir nos seus atos a nobreza de seu espírito, pois transparentes e verdadeiras eram a alegria ou a tristeza que ele sentia com o desenrolar das causas alheias.

Mais nobre, ainda, era servir com o mesmo afinco aos nossos numerosos analfabetos, que só podiam lhe oferecer o valioso "Deus te ajude".

Um homem muito bom, mas de difícil convivência. Do tipo que não engolia os deslizes de conduta das pessoas que o rodeavam.

A sua franqueza chegava a ser chocante e brutal e, isso, sempre constrangia a todos.

Embora extremamente habilidoso com as palavras, tornava-se grave nos seus ataques de sinceridade destemida, pois, tanto no elogio quanto no carão, o ponto de partida ficava ínfimo depois que ele abria a boca. Isso sem trocar de assento e procurar o local e o momento adequados.

Ainda bem jovem, com apenas 34 anos, seus princípios quanto à nossa criação eram bem mais rígidas que os do seu próprio pai, a quem costumava criticar pela forma como ele e os irmãos haviam sido criados. Julgava ter sido a mais estúpida, devido à desatenção do meu avô com a educação deles. Ensinaram-lhes a ler e a escrever o mínimo desejável. Todos foram jogados muito cedo à vida. Tanto que sua maior frustração era a de não ter tido oportunidade de estudar para ser advogado.

Muitas vezes culpava abertamente seu pai por essa falta. Por esse motivo era natural que estivesse sempre muito preocupado em nos facultar escola até o limite das suas possibilidades.

Sua posição com relação ao nosso futuro era em nos deixar educação e cultura. No segundo plano, bens de herança, devendo cada um construir seu próprio patrimônio. Não desejava que nos tornássemos roceiros ignorantes, a ponto de brigar com um irmão por causa de uma sela ou uma caçamba velha, na partilha de bens herdados.

Severo, cheio de preconceitos e tabus, muitas foram as vezes que debulhava a lista do que filha dele não podia fazer. Os pecados mais graves que uma filha poderia cometer seria fumar, brincar carnaval e usar traje de banho.

Apesar dos seus erros, papai continuava pregando a moral e a austeridade para todos nós, tornando-se uma criatura muito habilidosa, detendo as rédeas da família, garantindo nosso afeto, na base do "façam o que eu digo e não o que eu faço".

É certo que a gente foi crescendo e desafiando seus conceitos. Ele protestava, mas ia amaciando. Em certos dias chegava a nos superar em termos de evolução e compreensão. Noutros, tinha uma recaída total, mas a gente ia levando. Daí minha família ter se tornado mestra na arte de conviver. Seu Chiquinho era realmente um grande artista !

Extraído do livro Flor Cigana

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⏰ Última atualização: Jan 02, 2024 ⏰

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