Gripado

Capítulo Único

Estreitou o olhar aquela porta entre aberta, o molho do chaves sendo guardado de volta ao bolso enquanto entrava no cômodo com sutileza, abrindo daquela brechinha com a ponta do pé. O descuidado de Sett em sua própria segurança foi algo frequente que notou cedo ao inicio do namoro. O local não era perigoso. Não, nem de longe. O homem morava em um apartamento luxuoso em um lado mais nobre da cidade, a segurança de um condomínio e de vizinhos ocupados era algo notório e se quer saber, quem seria o louco a entrar na casa de um lutador de MMA?

Em tese, ninguém. Mas foi engraçado a primeira vez que Sett e Aphelios chegaram do mercado e deram de cara com uma criança perdida no apartamento, procurando um lugar para se esconder enquanto brincavam com os amigos.

Depois do terceiro ocorrido, Aphelios recebeu uma chave extra.

Entrou no local, a blusa de gola alta pinicando o seu pescoço enquanto sentia sufocar. O aquecedor na parede mostrava um número mais alto que a temperatura ideal para o conforto, a televisão e os vidros ao redor embaçados de forma que o cômodo pareceu similar com uma sauna. "Que diabos de temperatura é essa?", jogou a bolsa de ombro no sofá e rapidamente pegou o controle em cima da mesa do centro. Lá fora estava um clima ótimo, mas mão era um frio absurdo.

— Sett, estou entrando. — Retirou os sapatos também deixando-os lado do sofá carmesim. A quase meia hora atrás, o ruivo havia o ligado, com uma voz rouca e manhosa, insistindo que fosse o visitar um tempinho. Phel riu, revirando os olhos mas sentindo o peito quente em saudade, desistindo dos afazeres da faculdade momentaneamente.

Sett não respondeu ou ao menos apareceu para o receber, então se pôs a andar até a suíte principal que era o quarto do ruivo. O lugar era espaçoso e bem distribuído, dividido por uma cama de casal redonda no meio bem trabalhada com uma cabeceira de cadeira, os lençóis de cetim e enormes travesseiros brancos, uma televisão grande suspensa na parede bem em frente e poucos moveis de decoração ao redor, alguns como medalhas preenchendo as paredes e posters. Em especifico, Aphelios gostava mesmo era de um retrato grande da capa de revista que ambos apareceram na grande estreia de Sett.

Tudo em seu lugar, mas nada do namorado. Onde ele estaria?

A resposta veio do banheiro, barulhenta e simples de um barulho de descarga se fazendo presente no silencio da casa. A visão que pode ter em seguida era, no mínimo, um tanto humilhante e lamentável. Sett estava ali sim, mas desconfiava que aquele era apenas o corpo do ruivo, pela cara sua alma havia partido a muito tempo dessa para melhor.

Estava pálido, com bolsas roxas escuras abaixo dos olhos amarelados, fios vermelhos bagunçados para todos os lados e fedia; talvez não apenas ele, mas o banheiro por inteiro tinha aquele péssimo cheiro forte e enjoativo.
Seus dentes tremiam, e antes que pudesse falar qualquer coisa, apenas teve tempo de inclinar o corpo para frente com a cabeça no vaso e por tudo para fora. Uma careta vindo de Aphelios foi inevitável.

— Então esse é o motivo de tanta saudade? — Aproximou do outro que estava sentado no chão de pernas abertas. Grunhindo, cuspiu na agua suja e olhou para o menor.

— Do tanto do meu vômito.

— Sinceramente... — Suspirou de forma negativa. — O que você comeu quando chegou? Parecia tão bem ontem.

Um vislumbre do maior brincando em uma barraquinha de armas passou pelos pensamentos. A chuva que os atingiu em seguida sendo alvo de reclamações e risadas de ambos.

— É– — Ameaçou voltar a derramar-se no vaso. Mas negou quando a mão de Aphelios ia em direção a franja longa do cabelo, para segurar e ajudar. Pareceu desistir do que ia falar, voltando a encostar a testa na lateral do sanitário.