Capítulo 1: Morte

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Daella

Eu estava sentada ao lado da mulher adoecida na cama, agarrava com as duas mãos a mão dela, enquanto aguardava, angustiada, a espera acabar. Permaneci daquele modo por longos minutos, até finalmente perceber que a mulher deitada ao seu lado já não respirava mais. Suspirou resignada, deixei um beijo nos cabelos loiros-claros dela e me despedi.

— Adeus, mãe.

Me retirei do quarto mandando prepararem o corpo para o sepultamento. Agora só restava eu, meu irmão e meu primo para comandar os negócios da família, pois todo o resto, de uma forma ou de outra, havia ido embora. Raevon, meu irmão mais novo e Daelon, meu primo, haviam saído para velejar antes que a minha mãe adoecesse, e eu esperava que eles estivessem de volta em breve, já que mandei os chamar no momento em que a matriarca dos Targaryen caiu de cama. Também tinha esperança que minha irmã gêmea, Jaella, retornasse para casa pela primeira vez desde que partiu, dois anos antes. Quanto a Jaerion, meu outro primo, não tinha esperanças, nem desejo de vê-lo.

A partir do momento em que a notícia da morte de minha mãe se espalhou pela mansão, eu passei a ser tratada como a senhora da mansão, embora desacostumada, até gostei.

Eu tinha acabado de me lavar e trocar quando Raevon e Daelon chegaram à mansão e, assim que encontraram meus olhos, sabiam que, junto a mim, eram os últimos Targaryen naquela casa.

O funeral aconteceu na mesma noite, o corpo da matriarca, envelhecido, doente e morto foi queimado sob uma pira e o que restou, deixamos que o vento levasse. Jaella enviou uma carta, respondendo pela primeira vez em meses, dizendo que lamentava, mas não retornaria para casa nem em nome do luto. Permanecemos com nossa dor por uma semana e, então, focamos no trabalho: vinhos, ervas e espionagem.

Minha família fornecia, secretamente, segredos a quem pagasse o melhor preço. Nossas outras profissões nos tornavam extremamente ricos, o serviço de espiões eleva ainda mais nosso ouro.
Funcionava de uma maneira simples: acolhiamos muitos sem tetos, crianças ou adultos, nós dávamos empregos e, então, se uma dessas pessoas parecesse boa o suficiente para espionar alguém, ele se tornava um dos nossos espiões. Quando alguém muito rico queria descobrir o segredo, ou só saber da vida de outra pessoa, mas não podia confiar em seus próprios homens, ou o que quer que fosse, ele vinha até nós e lhe dávamos alguém por um alto preço, pelo tempo necessário. Quase como um bordel, mas com espiões. Naquele momento, tínhamos duzentas pessoas sob nossos serviços que atuavam dessa forma, sendo que noventa estavam em campo.

Todos os nossos outros criados eram para o vinho e as ervas. E éramos muito bem sucedidos em todas nossas funções. Tínhamos tanta riqueza que poderiam nos considerar uma realeza. E agora eu teria que administrar tudo aquilo, além dos meus próprios problemas.

— Estão comentando muito sobre a guerra em Westeros — meu irmão, Raevon, entrou no escritório sem bater. — Parece que em breve Daenerys irá para King's Landing.

Daenerys Targaryen, nossa parente distante, que pensava ser a última Targaryen viva, mal sabia ela. Nós vínhamos da linhagem de Saera Targaryen, ela se casou com um lyseno que tinha sangue valiriano — assim como muitos em Lys naquela época, embora já não fosse mais assim — e deu origem a linhagem que levaria até mim e minha família Targaryen. Claro, por vivermos em Lys, onde havia descendentes de valirianos, ninguém nunca pensou que poderiamos ser Targaryen, então era um segredo absoluto.

Outro segredo absoluto era que, anos antes, eu comecei a ter sonhos de dragão e, mais tarde, descobri que foi no mesmo ano em que Daenerys trouxe os dragões de volta. E meu último sonho me perturbava.

— Será que um dia vamos conhecê-la? — ele perguntou, animado.

— Por que isso agora? — arqueei a sobrancelha.

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