Ele implorou por ajuda. Pediu socorro para a única pessoa naquela vida que se importava com ele. Tentou, com a voz falhando, dizer onde estava, mas sentia-se fraco, a dor o consumia. E foi ouvindo a voz de Kelvin gritando desesperado ao telefone, chamando seu nome, que Ramiro sentiu que não conseguia mais. Ele não tinha mais forças.
Soltando o celular devagar, olhando uma última vez para a Lua no céu, ele desejou poder olhar o seu anjinho na terra mais uma vez. Mas tudo ficou escuro.
[...]
Estava frio.
Seu corpo estava doendo, sua cabeça explodindo. Ao fundo, um som de "pi, pi, pi..." irritante. Ramiro tentou abrir os olhos, mas estava difícil. Tentou se mexer, mas o mínimo movimento o fez gemer de dor.
— Ele acordou.
Ouviu alguém falando no fundo, uma mão tocando seu ombro o fazendo se contorcer e resmungar.
— Calma, Ramiro. Você está em um hospital, está fora de perigo. Vai ficar tudo bem.
A voz feminina disse de forma suave, se afastando em seguida.
Respirou fundo, sentindo suas costelas doerem ao ter o pulmão expandido pelo ar. Sentia cheiro de limpeza.
Continuou com os olhos fechados, temia abri-los e encarar a realidade. Estava assustado, com medo.
Ele sentia aquele pesar que o acompanhava desde sua infância, o sentimento de abandono. Apanhou a mando do homem que um dia admirou, o único que lhe proporcionou a vida que tinha, lhe deu um trabalho, um teto, lhe deu condições de ter o que comer. Sabia, agora, que aquilo era muito pouco quando comparado aos seus direitos, mas ainda, sim, era melhor do que um dia pensou em ter.
Apanhou de seus colegas de trabalho, companheiros do dia a dia, que viviam uma vida tão sofrida quanto a sua. Foi deixado na estrada, sozinho, para morrer. Ele não queria morrer sozinho. O moreno sentiu tanto medo...
A porta se abriu. Ele ouviu passos suaves, um leve cheiro adocicado pairando no ar. Alguém suspirou trêmulo perto de si, uma mão o tocou e então...
— Rams? Rams, sou eu, o Kevinho. Ramiro....
— Kevin? - Perguntou baixo, tentando confirmar. Ele estava sonhando ou Kelvin realmente estava ali? Sentiu seu coração se encher de esperança. — Kevin, cê tá aí? Cê tá aí?
Não conseguia abrir os olhos, mas podia sentir a presença próxima a si. Seu Kevinho estava lá, ele realmente havia ido o salvar.
— Tô, tô aqui. - Respondeu a voz chorosa.
— Kevin... Achei que não ia te ver nunca mais. Cê tá aí?
Declarou. Seu coração estava disparado, sua voz embargada, ele queria chorar. Não sabia se de emoção ou de dor.
— Tô, tô aqui. Tô aqui... Eu nunca saí daqui. Não vou sair daqui. To aqui pra te proteger, pra... Pra ficar com você. Ramiro... Você foi um herói.
— Não... Eu não.
— Foi sim. O que você fez pra tentar salvar a Aline... Foi lindo, foi lindo.
— Mai eu não consegui, Kevin...Eu não consegui. Deu tudo errado. - Engoliu seco, sentindo seu peito apertar ao pensar em tudo que passou nas últimas horas. — Ninguém pode com o patrão, Kevinho, ninguém pode... Pió, fui eu que levei a Aline e a Santinha pra ele... Kevin, se a Aline morrer, se as criança morrer, a culpa é minha. A culpa é minha.
Disse com a voz fraca, o choro entalado ameaçando sair.
Era isso, a culpa era dele. Ele mereceu tudo o que sofreu, tudo o que estava passando, mas a Aline, a Santinha e as crianças... Eles não mereciam aquilo.

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Medicine - Kelmiro
FanficO amor é capaz de curar. Kelvin e Ramiro estão prontos para se entregarem à paixão.