Capítulo único

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Ramiro entrou no quartinho pensando em tomar um bom banho e se jogar na cama. Era cada vez mais desgastante cumprir as ordens de Antônio, parecia que lhe cansava o dobro que antes. E teria que ficar de plantão no dia seguinte, já sabia que Caio iria levar João e Jussara para visitar Aline no dia 25, para despistar quem acreditava que iriam na noite de Natal. Ele não queria estar nesse papel, mas era um empregado, um servo, sua função era obedecer ao patrão.
O peão já ia desabotoando a camisa quando percebeu a presença de Kelvin, que empoleirado em uma cadeira, pregava um festão vermelho nas paredes e colava estrelas douradas.

- Kevinho? O que ocê tá fazendo aí? - Ramiro perguntou franzindo a testa.

O cantor virou-se para o namorado e sorriu:

- Tô arrumando nosso quartinho pro Natal.

- Nosso? - o moreno também sorriu, sentindo um aconchego naquela palavra.

- Ué, a gente dorme juntinho nessa cama, então é nosso - o pequetito explicou de um jeito tão doce que o maior jamais poderia contestar.

O sorriso repentinamente sumiu do rosto do moreno, que lembrou da última conversa séria que tiveram, depois do susto que seus homens deram em Luana:

- Mas achei que ocê tava zangado com eu...

Kelvin tinha um olhar cansado, mas de quem buscava um pouco de paz:

- E eu tô. Mas hoje é Natal, vamos esquecer tudo isso, toda essa gente... Antônio, Irene, Aline, Caio... Vamos fingir que só existe nós dois?

O mais velho balançou a cabeça concordando, e o baixinho prosseguiu, apontando para o topo da cômoda:

- Olha o que eu trouxe - era um pinheirinho de Natal modesto, mas enfeitado com várias bolinhas vermelhas e laços dourados.

- Ahhh... nunca tive um pinherinho - Ramiro balbuciou quase suspirando.

- Faltou uma coisa - Kelvin comentou procurando um fio de luzinhas coloridas numa das sacolas que tinha trazido. Encontrou o adorno e arrumou cuidadosamente em volta da arvorezinha. Em seguida plugou na tomada mais próxima, e as luzes coloridas começaram a piscar.

- Que lindo! - Ramiro bateu palmas como uma criança empolgada. Depois olhou seu Kevinho de cima a baixo, de um jeito apaixonado. O pequetito vestia aquele conjunto cinza - ou seria prata? - cheio de recortes, que ele sobrepunha à blusa e meia-calça com transparência e muito brilho. A mesma roupa da noite de um dos apertões mais intensos que tiveram. O moreno lembrava de cada apertão, e sempre admirava a beleza do seu pequetito - Ocê tá tão bonito nessa ropa brilhosa... Vô tomá um banho e botá uma ropa limpa antes de te dá um apertão, tá bão? - avisou, deixando um beijinho nos lábios do namorado, mas evitando encostar o corpo.

- Vai, enquanto eu continuo a arrumar as coisas aqui - o loirinho sorriu, voltando a remexer nas sacolas.


Quando Ramiro saiu do banheiro, enxugando o cabelo com a toalha e vestindo apenas regata e short, surpreendeu-se ao ver ao lado da cama uma pequena mesa coberta com uma toalha de estampa natalina. Kelvin ajeitava os pratos, talheres e taças com precisão naquele móvel. Tinha colocado também guardanapos vermelhos. E usava um gorrinho de Papai Noel.

- De onde saiu essa mesa? - o maior estava realmente intrigado.

- É uma mesa de piquenique, que tava guardada no depósito do bar. Acho que ficou bonitinha, né? - o cantor levantou-se e encarou o namorado, ansioso pela resposta dele.

O peão parecia emocionado, olhando para seu Kevinho com os olhos querendo marejar:

- Pequetito... é a mesa mais bonita que eu já vi. E ocê tá uma formosura com esse chapeuzinho.

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