one shot

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Era uma noite de dezembro, onde os flocos de neve dançavam uma dança lenta, acariciados pelo vento frio que cortava a atmosfera. O contraste entre o clima gélido e a intensidade das emoções que aqueciam nossas palavras era palpável. Era como se o calor das discussões tivesse fundido os flocos de neve antes mesmo de tocarem o chão, enquanto assistíamos, impotentes, ao desencadear do fim que se aproximava.

Recordo-me vividamente daquele momento, onde o peso do não dito era mais forte do que qualquer palavra pronunciada. Os lamentos silenciosos, as promessas despedaçadas, e os olhares carregados de desilusão pairavam na densa atmosfera da sala. O tic-tac do relógio teimava em avançar, alheio ao turbilhão de sentimentos que consumia nossos corações.

As lembranças daquela noite persistem como cenas de um filme que se recusa a sair de cartaz. A mágoa era tangível, e o frio da noite não se limitava à atmosfera, parecia penetrar cada fibra do nosso ser, congelando não só as palavras de amor não ditas, mas também os gestos não compartilhados.

Voltando ao presente, a vida seguiu seu curso. Dias se transformaram em semanas, meses, e anos, porém as memórias daquela separação continuavam a assombrar meus dias, tornando-se um fardo constante que eu carregava.

Meus pensamentos constantemente retornam aos momentos felizes que compartilhamos. O brilho do seu sorriso, a sensação de segurança nos seus abraços... tudo parecia tão certo naquela época. Como eu ansiava poder retroceder, corrigir os erros, expressar o que estava entalado naquela gélida noite de dezembro.

Desejo ardentemente a oportunidade de reescrever nossa história, de externar o que ficou entalado naquela noite fatídica. As palavras não ditas ecoam ainda no meu coração, como um eterno "e se" que me atormenta.

E assim, ali estou eu, diante da casa de Heeseung, a noite abraçando tudo numa escuridão profunda, exceto pelas luzes tênues dos postes próximos. O ar cortante penetra até os ossos, talvez por coincidência, talvez como reflexo do nervosismo que me consome neste momento. Carregar essas palavras por anos tornou-se um fardo insuportável, um peso que estou finalmente pronto para liberar.

— Eu sinto muito por aquela noite... — As palavras escapam dos meus lábios, trêmulas, carregadas com o peso do arrependimento. — Sinto falta de cada momento juntos. Lembro-me vividamente de como você me segurou em seus braços quando me viu chorar pela primeira vez. Naquele instante, percebi o quanto eu queria você ao meu lado para sempre.

O silêncio reina por um tempo, estendendo-se entre nós como um abismo intransponível. O mundo parece congelar, aguardando o desdobrar do próximo momento. Então, a voz de Heeseung corta o silêncio, suave, mas carregada de uma sinceridade que atinge meu coração.

— Eu também senti sua falta, Jaeyun... Naquela noite, enquanto nossas palavras cruéis preenchiam o ar, eu desejava que tudo fosse diferente, queria que você não tivesse atravessado aquela porta. — O tom carrega uma mistura de tristeza e anseio, revelando emoções que ele guardou por tanto tempo.

Cada palavra dele parece perfurar as camadas de arrependimento que guardo dentro de mim. Nossos olhos se encontram, um brilho de lembranças mesclado com a dor do tempo perdido.

— Eu voltaria no tempo e mudaria tudo, mas não posso, porém se você me der uma chance, eu sei que posso te amar da forma certa...

A honestidade do meu pedido ecoa no vazio entre nós, mesclada ao vento frio que parece congelar o momento no tempo. A expressão de Heeseung parece uma batalha entre a cautela do passado e a esperança de um futuro diferente.

Sinto o peso das palavras pendendo no ar, esperando por uma resposta que pode mudar o curso das nossas vidas. O passado nos marcou, mas ali, naquela noite, há uma chance de redenção, uma oportunidade de curar o que foi quebrado.

Lentamente, como se cada passo fosse meticulosamente calculado, Heeseung se aproxima. Cada movimento transpira emoção, vai além das palavras, sendo um silencioso pedido por redenção e a possibilidade de um novo começo.

Seu olhar penetra o meu, desvendando camadas de história compartilhada, revelando anseios, arrependimentos e uma chama de esperança reacendida. Cada respiração, cada batida do coração, parece sincronizada, como se estivéssemos conectados por um fio invisível.

Sem aviso, sem palavras, ele se aproxima mais, até que nossos lábios estão a centímetros de distância. O tempo desacelera, prolongando o momento inevitável do contato. Seus olhos buscam os meus, como se buscassem permissão para romper a última distância.

É um gesto suave, mas carregado de significado. Sinto seus lábios tocarem os meus, um contato delicado que acende uma centelha de emoção. É um beijo que ultrapassa a mera proximidade física, rompe barreiras e conecta nossos corações instantaneamente.

Cada segundo é uma descoberta, uma jornada sem palavras. Cada toque dos nossos lábios é uma narrativa de amor, de perda e de uma esperança compartilhada. Seu toque é um pedido tácito por reconciliação, um apelo silencioso para reacender o que o tempo e o orgulho haviam apagado.

Naquele momento, envolvidos nesse beijo doce, as dores do passado começam a se dissipar. Elas são substituídas pela promessa de um novo começo. Cada batida do meu coração ressoa em harmonia com o dele, uma sinfonia de esperança e possibilidade que enche o ar gelado da noite.

E, naquele instante, entre os flocos de neve dançantes e o silêncio penetrante da noite, nossos lábios se separam. No entanto, a conexão que compartilhamos parece ter se fortalecido. Seus olhos encontram os meus, carregando determinação e um vislumbre de um futuro menos distante. Parece que, naquele beijo, traçamos o primeiro risco em branco de uma nova história, uma página pronta para ser escrita por nós dois.





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