The Truth Behind - Jungkook

Prólogo

SEUL 9AM

SÁBADO

Não está no armário.

Não está na prateleira.

Nas caixas, nem nas bolsas.

O meu tempo está acabando.

— Jungkook, eu não tenho o dia todo! — O bramido vem da sala, raivoso, impaciente. Reviro os olhos. Sempre foi assim.

Mesmo com todo o seu cuidado, é impossível não sentir a repulsa. Sinto e vejo a rejeição, a abominação em seus olhos. A minha mudança foi, com certeza, como respirar ar puro pela primeira vez.

Mas do mesmo jeito que ela o faz, também sinto meus pulmões se encherem de liberdade.

— Só um minuto, mãe! — Passeio os olhos pelo quarto pela última vez antes de sair.

— Já arrumei tudo por aqui. Se apressa! — Consigo ver seus longos cabelos no encosto do sofá, os fios pretos contrastando com o vermelho do tecido.

— Mãe, a senhora mexeu nas caixas do meu quarto? — Ela nega com um leve aceno de cabeça, não prestando muita atenção em mim. Não espero uma resposta além disso e pego minha bolsa. — Vamos? — Curioso, sigo seu olhar em direção a TV, que não passava nada além de alguma notícia sobre a foto de um homem de cabelos loiros e olhos profundos e escuros, eles me dão a sensação de já tê-los visto antes.

— Só notícia ruim. — Desligou o aparelho antes mesmo de eu saber sobre o que se tratava.

— Sobre o que...? — Ela sai resmungando pela porta. Desisto de perguntar. Não preciso mais tentar manter uma boa relação como antes.

A única coisa que preciso me preocupar agora é passar no teste e conseguir a vaga de Barista.

Tranco a porta da frente e assim que me viro, vejo caixas de mudança amontoadas na porta do apartamento ao lado. Pelo visto, eu não sou o único a me mudar, talvez eu pudesse recepcioná-lo. Será que o vizinho deve gostar de bolo de pistache? Ah. Quem eu quero enganar? Todo mundo gosta de pistache. Passarei em uma padaria na volta.

O caminho é torturante e silencioso. Me sinto aliviado ao me despedir da minha mãe algumas ruas antes de chegar na cafeteria.

                                                                                            ☆

— Fica tranquilo, tenho certeza que você passou. — Minho, um atendente da cafeteria, me tranquiliza, enquanto coloca uma xícara de machiatto na mesa.

— Ah, eu não bebo café, mas obrigado. — sorrio e volto a brincar com o elástico amarelo em meu pulso.

— Você não gosta de café e quer trabalhar em uma cafeteria? — Ele pega o café para si e sorri, passando os dedos pelo cabelo castanho, que caia em seus olhos. — Você foi ótimo. Não fica nervoso, o chefe não é muito exigente nesses testes.

— Tomara que me aceitem.

— Com certeza vão. É uma promessa. — O otimismo dele me diverte e até me acalma um pouco. Quase me convenço de que ele está certo.

Minho se levanta e anda até o balcão, ajeito minha bolsa no ombro e vou em sua direção. Meus olhos recaem sobre a vitrine, onde uma variedade de bolos e tortas estão expostos, todos parecem deliciosamente saborosos.

Talvez eu deva levar um pedaço? Minha boca enche de água com o pensamento. Continuo passando meus olhos pelos doces quando um bolo em específico capta minha atenção.

— Licença, Minho? Você pode embrulhar esse bolo de pistache? — Lembro sobre querer comprar um bolo para recepcionar meu novo vizinho e coloco o dinheiro sobre o balcão.

— Claro, só um minuto — Ele pega o dinheiro e agilmente coloca o bolo dentro de uma caixa, suas mãos se movem rápido ao terminar o embrulho, mostrando o quão habilidoso ele é em seu trabalho. — Se você passar, vai ter que pagar uma bebida para mim. — sorri ladino ao colocar a embalagem, junto de um papel dobrado, na minha frente.

Levanto o rosto para agradecer, mas ele já está passando pela porta da cozinha.

Desdobro o papel e vejo um número escrito.

Em que momento ele escreveu isso?

Coloco-o na bolsa e começo meu caminho de volta para casa. Já está anoitecendo e a brisa está fresca. Não me esqueço de dar uma passada rápida no mercado e na farmácia, para comprar alguns suprimentos.

Finalmente vou poder recomeçar a minha vida agora e espero deixar todo esse peso para trás.