Sobrou o quê?
O que sobrou desse corpo?
Pedaço de carne que um dia já habitei
Corpo que não me pertence
Sobrou o pó
Sobraram as cinzas
Sobraram as lembrançasLembranças...
Memórias tristes
Sentimentos dilacerados
Esmagados pelo fracasso
Afogados pela tristeza
Felicidade em queda livre
Perseguidos por demônios
Assombrado por espíritosAcorrentado no escuro
Gritei ate minha garganta sangrar
Mas ninguém foi capaz de me ouvir
Me entreguei
Torturei meu ego
Martirizei minha vida
Andei pelo deserto numa caminhada longa e solitária
Com as pernas fracas caí
De joelhos, tudo rodou
Apaguei
Apaguei minha mente, minhas recordações
Só lembro da dor
Que ia penetrando minha pele
Célula por célula, perfuradas com agulhas, tipo tatuagem
Impregnado em mim para sempre
Em cada centímetroLágrimas rolavam pelo meu rosto
Como rios, descendo e inundando o espaço a minha volta
Afogado em mágoas e remorso
O medo era tanto que o frio na espinha congelou tudo
O frio era tanto que congelou meu coração
Congelou minhas emoções
Congelou meus amores
Petrificado
Ali parado fiquei
Até o verão voltar e me aquecer
Acender de novo a chama que existe dentro de mim
Esquentar
Queimar em brasas
Explodir
E só restar o pó
As cinzas
E as lembranças.Daniel de Oliveira Machado