Succubus

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Segurar, prender, imobilizar, dar um passo em falso, foder com a costela e perder a porra da final. Meu corpo suado vibra em puro ódio e eu nem sinto a dor na costela quando saio do tatame ouvindo as pessoas gritarem o nome do meu adversário, enquanto aqueles que apostaram na minha vitória me xingam frustrados.

Vejo meu treinador esfregar as têmporas murmurando palavrões e trinco a mandíbula sentindo meu coração bater ainda mais forte que antes. A pior parte de perder uma luta é lidar com a decepção, com a quebra de expectativa que te tira do topo e te joga numa densa areia movediça que te engole aos poucos.

Minhas últimas lutas foram espetaculares, eu estava no topo, meu treinador tinha certeza que eu seria draftado por uma liga foda se eu ganhasse as finais e na ultima luta, a final que ditaria meu futuro, eu simplesmente perco. Perco por conta de um maldito golpe mal feito.

Chego perto do meu treinador, minha respiração está alterada, meus pulmões ardem cada vez que eu inalo, meu coração parece que vai explodir a qualquer momento, minha cabeça dói e meu corpo está quente como um inferno por conta do turbilhão de sentimentos que me tomam agora.

Eu fracassei, eu só tinha um dever e falhei nisso.

Meu treinador me encara com ódio nítido na íris escura e eu engulo em seco sentindo um peso recair sobre meus ombros. Eu perdi e a culpa é completamente minha. Minha, da minha burrice e ganância.

- Eu vou chamar alguém pra olhar sua costela. - ele cospe as palavras com desprezo e some no meio das pessoas me deixando sozinho com minha derrota.

Suspiro e olho para o outro lado do tatame. Meu adversário está sendo adorado, seu treinador tem um sorriso grande no rosto e consigo ver um dos olheiros sorrindo minimamente em sua direção, enquanto anota algo em sua prancheta, provavelmente a admissão de um novo lutador.

Alguns ficam tristes, choram ou pensam em desistir quando algo assim acontece, mas eu só consigo sentir meu sangue ferver, só consigo repassar os golpes na minha cabeça e dizer a mim mesmo o que eu deveria ter feito, que eu poderia ter agido mais rápido, ou ter usado mais força. Só consigo pensar em como eu deveria ter sido melhor e isso me enfurece.

Antes de ir para sala de enfermaria, passo nos chuveiros, jogo uma água gelada no corpo tentando baixar minha temperatura, tentando reorganizar a mente antes de ter que falar com alguém. Não adianta muito, toda vez que sinto uma pontada na costela eu lembro de quando Kaio me quedou e conseguiu os pontos que precisava para vencer.

Não percebo que passei tempo demais nos chuveiros até que eu saio e vejo poucas pessoas com blusas de torcida e maquiagens nas cores da faculdade andando pelos corredores, os torcedores já devem estar em suas casas, ou em pubs aproveitando a vitória do meu adversário.

Assim que abro a porta da enfermaria, com um pouco mais de força que o necessário, meus olhos são atraídos pela mulher escorada na mesa de madeira escura no canto da sala com um cigarro de maconha entre os dedos e um olhar intenso que percorre meu corpo ser pudor algum.

Bufo uma risada pela cena irônica e fecho a porta atrás de mim.

- Acho bom não contar isso a ninguém. - a voz doce ameaça e eu dou de ombros sentando na cadeira grande perto da maca.

Nem fodendo que vou deitar naquela merda. Já foi humilhação demais perder a final quando eu tinha absolutamente tudo nas mãos para ganhar.

- O que eu ganharia contando?

- Certamente não seria o troféu das finais - ela zomba com um sorriso me deixando puto.

Eu acabo de perder uma das lutas mais importantes que tive na vida e a maldita fala isso?

SUCCUBUS | ONESHOTOnde histórias criam vida. Descubra agora