Capítulo III

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         Você acordou num sobressalto no meio da madrugada, o barulho da chuva batendo na janela poderia facilmente mascarar os grunhidos e sons de uma voz vinda do quarto ao lado, mas para uma mente inquieta como a sua, qualquer som minimamente suspeito te fazia abrir os olhos.
        Com o sono interrompido e o coração como o de um corredor de maratona, você tira o cobertor de cima de seu corpo, se sentando devagar na cama enquanto tenta ouvir oque a voz está dizendo.
        É impossível distinguir algo além de grunhidos de dor, mas você sabe de quem é a voz.
         Colocando os pés ainda com a meia sobre o chão, você suspira antes de começar a sair da cama, caminhando com passos ansiosos.
            Você abre a porta e fita a escuridão, dando um passo para fora do quarto, a porta atrás de você permanece aberta, um convite para uma desistência vergonhosa.
        Você repete para si mesmo que vai ficar tudo bem, que você vai bater na porta, perguntar se tem algo errado e vai ir embora antes que ele possa cogitar usar uma das espadas em você.
        Com uma respiração trêmula, você caminha no corredor, a distância parece muito maior, o carpete vermelho e branco da estalagem agora tem um aspecto sombrio.
      Você enrijece com o vento que entra pela janela do corredor, a brisa balança as luminárias desligadas que estão nas paredes.
       Você para em frente a porta 08, os dedos cravados nas palmas da mão enquanto uma delas se levanta e bate na porta, um som tímido de três toques.
         Você espera alguns segundos e ninguém responde.
         Você bate novamente.
...
       Não há resposta.
       Respirando fundo e reunindo coragem, você tenta abrir a porta do quarto, desejando em seu âmago que ela esteja trancada.
      O som da porta se abrindo te diz que não é o seu dia de sorte.
        Finalmente, seus olhos pousam sobre a fonte dos barulhos noturnos, agora que você está no mesmo quarto que ele, os sons estão mais altos.
       Lam se contorce sobre a cama desarrumada, os olhos fechados, o rosto suado e sombrancelhas franzidas, você não sabe dizer se é dor ou um pesadelo.
        Independente disso, parece terrível e você corre até ele em gentileza.

             — Caramba, você está queimando de febre!  — você murmura mais para si do que para o homem dormindo, as costas da mão sobre a testa dele.
           Ele estiva o pescoço para longe do seu toque, como um reflexo natural do corpo, evitando se machucar.
        Você sente o nervosismo sumir e dar lugar a uma tristeza empática.
         Murmurando instruções para si mesma, você procura por algum pano ou toalha no quarto, correndo até o banheiro encontrando uma toalha de rosto.
         Você molha o tecido de algodão na pia e o torce na mão, gotas pingando no chão enquanto você volta para Lam.
          E com cuidado, você segura o rosto dele, os dedos sob o queixo dele enquanto segura o maxilar dele para passar a toalha delicadamente sobre as gotas de suor que se formam cada vez mais.
          Não há lágrimas, você vê, oque quer que seja o pesadelo, ele ainda está lutando contra.  
          É então que ele finalmente abre os olhos, você não sabe se é a sensação da toalha molhada e fria sobre a pele quente, ou o corpo a mais na cama, mas algo deixa Lam consciente.
      O torso dele se levanta da cama, os olhos arregalados e em transe, o cabelo despenteado e os braços rígidos como ferro.

______________________________Lam___

 
           Não é a sensação molhada que toca meu rosto que me deixa tão assustado, eu já dormi em condições piores, no chão com a água pingando em meu rosto como um cão abandonado, a vida de um exilado não é confortável; não, não é o tecido macio que enxuga meu rosto enquanto a chuva cai no fundo.
       Oque me deixa alarmado é o toque gentil que embala meu rosto, os dedos que serpenteam meu queixo, a respiração fraca que chega até minha pele, o corpo menor que está sentado na cama, o cheiro de sabonete e óleo corporal.
         Eu consigo ouvir a respiração dela acelerando quando eu me levanto, como a mão dela fica rígida em meu rosto.
          A forma como a toalha perde a pressão em minha bochecha, eu sinto o medo que exala dela.
          Eu me sinto enojado.
        
          – você está bem?  –  a voz dela não é mais que um sussurro, um som quase imperceptível sob a chuva, mas eu a ouço.
           Eu levo minha mão até a dela, eu não sei como ela ainda tem coragem o suficiente para me tocar e me ajudar.
        Não estou com raiva dela, nem me sinto patético por sua ajuda, não sou tão orgulhoso quanto pareço ser.
       É a sensação dos dedos dela tremendo que me deixam irritado, o desconforto que pesa em meu estômago, ela é uma boa pessoa, uma boa mulher, eu não a machucaria.
       Mas ela tem um medo que eu não posso mudar, e isso me deixa enjoado com a sensação de sua piedade.

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⏰ Última atualização: Oct 15 ⏰

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_𝐖𝐚𝐯𝐞 𝐛𝐫𝐞𝐚𝐤𝐞𝐫_ ɪᴍᴀɢɪɴᴇ ʟᴀᴍOnde histórias criam vida. Descubra agora