01 - Luz, câmera, ação!

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— Você sabe que eu te amo, não precisa ficar fazendo cena. Nos teus braços tudo ao redor fica diferente, você mudou tudo em mim. Isso não é óbvio? Em cada canto do meu coração e alma, te necessito.

— Alfred… você sabe que isso é impossível…

— Não é não. Eu não me importo com que os outros dizem. Eu acredito em ti. Case-se comigo, vamos embora para qualquer outro lugar.

— Está certo disso? — ela apertou minha mão

— Claro. — então nos beijamos, obviamente, um beijo técnico. Sem língua e sem sentimento algum — Eu te amo, Anastácia.

— Corta! — Shivani gritou — Que cena linda! Vocês são incríveis.

— Fica fácil quando o roteiro do filme é simplesmente perfeito. — Sabina riu, se recompondo da cena que fizemos. Ela odeia qualquer cena cpm beijo, porém é um filme romântico.

— A Sabina, não fale assim. Vocês dois são um espetáculo juntos! Eu amo as cenas de vocês e sabia que se os escalasse o filme ficaria perfeito. Nem acredito que já estamos quase no final das gravações.

— Shivani, você é sempre tão modesta assim ou é só quando quer? — eu perguntei um pouco antes de espirrar. Cruzes, aqui nesse sete de filmagem tem muita poeira para simular velharia

— Façam uma pausa, o nariz de vocês precisa descansar para o próxima cena. 

— Okay. — Sabina seguiu para seu camarim, onde troca de roupa e ajeita a maquiagem. Depois de ter chorado tanto para conseguir interpretar Anastácia, terá que retocar tudo.

— Esse filme será um sucesso. — ela cochichou com Noah, o cameraman.

— Com certeza.

— Como podem ter tanta certeza assim? — eu perguntei

— Bailey May. Eu sei que você é muito inseguro com todos os filmes que fez, mas pense positivo. Sei que você estreiou a pouco tempo em Fire e agora já está contracenando com Sabina outra vez, mas confie em mim. Está fantástico. Você é ótimo — ela deu uma batidinha no meu ombro. Era estranho, ela sempre é muito mandona para uma baixinha de 1,60.

— Bom, obrigado.

— Eu que agradeço por dar vida ao Alfred tão bem. — ela sorriu — Aproveite o intervalo. Ainda temos mais duas horas de trabalho.

O mundo de Hollywood é corrido, sempre está indo para lá e para cá. Muitos filmes para ser estreiados, muitos atores dusputando o mesmo osca do ano. Trabalhar 7 dias por semana, 11 horas por dias. Sem tempo para a família. Sempre decorando algum texto, fazendo caretas no espelho e se preocupando em passar as emoções dos personagens. Isso por mais de um ano seguido. É árduo. 

Estudei teatro por anos para chegar aqui.  É meu segundo filme com um papel grande o bastante paraum prêmio. A divulgação está lá em cima e os fãs de Paliwal estão loucos pela versão filme do livro Sangue Real. Ela é conhecida por dirigir os filmes e eles serem totalmente fiéis aos textos.

O príncipe Alfred é muito apaixonado pela plebéia que Sabina interpreta. Eu a conheci nas gravações da série Fire, que eu interpretava o amigo problemático dela. Eu ainda tenho que decorar algumas das últimas falas do roteiro, mas acho que dou conta pelo próximo mês. Realmente estamos muito próximos do clímax.

— Sina entrará na próxima cena. — ouvi sua voz. Eu sempre a observava, seu uniforme verde escuro com a palavra “diretora” bem grande escrita atrás da blusa. Sempre tinha alguma papelada de suas anotações consigo. Sempre de salto alto ou botas. E sempre muito ocupada tentando estar sempre produzindo algo.

Sina aguardava calmamente em um banco ali perto, concentrada em sua parte do texto e aquecia a voz para gritar como nunca ao saber que seu príncipe está rompendo por completo o noivado tão aguardado pela mãe dela.

Eu fui para o outro cômodo montado pela gravadora. O cômodo do escritório do princípie. Os livros falsos, as cartas de reinos distantes jogadas na mesa que não tinham nada escrito. Os moveis que em breve serão doados ou reutilizados. A maçã brilhante de isopor que já estava pegando poeira.

Me sentei na cadeira e repassei as falas de Alfred na cabeça. Shivani estava animada, ela disse que sempre quis ver essa cena de perto. Eu não queria decepcioná-la.  

Um tempo depois fomos para o próximo frame. Respirei fundo, Sina caminhou como se estivesse furiosa. Eu estava observando a janela falsa na minha frente, de costa para a atriz que estava parada onde deveria ser uma porta. E então, eu escutei o cotidiano:

— Luz, câmera, ação! — então o clique da tomada começou.

— Como você ousa terminar nosso noivado por uma carta?!

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— É normal ficar nervoso. Eu também fico. Sei que normalmente a culpa cai mais nos atores, mas assim… se não está bom, o diretor tem que falar. Então a culpa tinha que ser da direção e não do ator.

— Tem razão. — eu estava jantando com Shivani em um restaurante italiano qualquer que fica por aqui no bairro. Sempre fazemos isso quando temos um tempo livre. Ou seja, quase nunca. Mas minha família não mora aqui, eu não tenho para quem dar atenção, eu e ela estamos na mesma situação, então aqui estamos.

— Eu fui muito grossa quando mandei vocês repetirem a cena? Senti vocês muito pesados. Desculpa se fui rude.

— Não. Claro que não. O… — me enrolei no que falar — Você tem esse direito. É que todo mundo estava cansado. 

— Eu sei. Não é fácil para ninguém. 

— Com certeza. E você sabe, no mundo do teatro a gente ouve coisas muito piores do que “Refaçam essa cena de novo”

— Sim. “O que achou professor?” — ela falou — “Ta uma merda!” — ela engrossou a voz e eu ri

— Acho que todo mundo já passou por isso.

— É provável. — ela riu — É bom ter um amigo como você no set. A maioria são adultos de 30 anos, nossas conversas são bem menos entediantes.

— Eu também acho. Os mais velhos não reclamam tanto do trabalho.

— Já estão podres de ricos, por isso só fazem o que precisam e vão embora trepar com alguma modelo.

— É, é isso. — eu acabei meu prato de comida e a aassisti bebericar seu vinho.

As luzes do ambiente eram quentes, mais amareladas e baixas. Como já havia estudado, essa iluminação deixa tudo mais em tom romântico. Não sou de reparar em minhas colegas de trabalho, mas ela tem um olhar que se você não acha assustador; então acha que é sedutor. Ele penetra na sua alma e não vai embora tão cedo. Ela sempre anda com batom vermelho, ama o restaurante Olivie Garden. E é tão focada em tudo que você desejaria ser ela quando precisa entregar algo em algumas horas.

— Você trabalha muito, Shivani. Nunca tira férias. Você está realmente bem?

— Sim. É que… ah, você sabe. Eu tenho que estar escrevendo para me sentir bem, é um hobbie que monetizei. Tenho que estar sempre fazendo algo para não me sentir inútil. Se eu me sentir inútil, caírem em demência e depressão. Mas as vezes tiro férias sim. Gosto de ir a praia… é… esse tipo de coisa. É apenas em momentos assim que não estou com a mente a mil por hora.

— Deve ser difícil ter uma mente tão aguçada com textos e não poder escreve-los todos de uma vez.

— Eu surto a cada ideia nova que eu tenho. E trabalho com a paciência. Mesmo que eu não tenha muita.

Atrás de Hollywood • Shivley Maliwal (Shortfic)Onde histórias criam vida. Descubra agora