Luna Siris
Eu sempre fui perfeita. Meu rosto, minhas atitudes, minhas notas, meu comportamento. Foi no Jardim de Infância que Mikka Ancyer destruiu meu rosto perfeito. Destruiu o que eu tinha de melhor.
Mas disso, já tinham se passado anos. Agora, ter a reencontrado e ter recebido o mesmo olhar do passado só me fez entrar em alerta.
Quando Nan me deixou em casa, eu percebi que tinha algo diferente por conta da mochila jogada no sofá da sala:
- Mãe? - chamei.
- Aqui na cozinha. Tem visita para você.
Deixei minha bolsa na poltrona e fui até lá, me surpreendendo ao ver Bianca, minha namorada. Fui até ela e a abracei, ainda chocada com sua presença:
- Bia, você está aqui!
- Estou, amor. Não está feliz?
- Sim, é claro. Mas estou surpresa. Você tirou folga no trabalho?
- Sim, amor. Só terei alguns dias. Então, vim te ver.
Minha mãe sorriu e nos deixou a sós. Eu levei Bianca para meu quarto e ela se jogou na minha cama, depois de largar a mochila:
- Então, como vai a universidade?
- Hoje foi só o primeiro dia, Bia. Foi apenas anotações.
Ela se sentou e me encarou:
- O que foi? Tem algo no meu rosto? É a cicatriz?
- Claro que não, anjo. Você sabe que não me importo. Você está estranha.
- Estranha? Como?
Engoli em seco. Bianca sempre foi ciumenta, mesmo morando em outra cidade:
- O que você aprontou, Luna?
Desviei os olhos dos dela, abrindo meu notebook em meu escritório:
- Do que você está falando? Eu estou normal.
Fui virada bruscamente, encontrando os olhos escuros de minha namorada:
- Luna Siris. O que aconteceu?
Que alternativa eu teria, se não mentir? Era a melhor opção e não faria mal:
- Não é nada... Só um professor meio estranho no meu curso.
Fui abraçada e e suspirei aliviada:
- Ah amor. Ele chegou perto de você?
- Não, não. Mas ficava me olhando de um jeito que me deixou desconfortável.
- Qualquer coisa , você liga para mim ou para sua mãe, meu doce.
- Claro, amor.Minha história é igual a qualquer outra. Eu sou uma garota de classe média. Minha mãe é pediatra. Meu pai morreu quando eu era um nenê.
Eu me assumi lésbica aos 16 e pra minha mãe, sempre esteve tudo bem. E pra mim também. Até que o pai de Nan me fez uma proposta. Eu entreguei de bom grado minha virgindade a ele, aos 18. Em troca de um apartamento de luxo. Comecei a namorar Bianca logo depois, mas ninguém além de minha mãe sabia.
Eu não contaria a Nan e Kimo. Nan gostava de mim há anos. Sim, eu sabia. E não me importava. Mas se tinha algo que eu gostava além do luxo, era de atenção. E percebi que na Universidade, eu tinha isso. E era apenas o primeiro dia. Imagine o que pode acontecer nos próximos?
Ainda não tive tempo de inventar uma história para poder ficar com meu apartamento luxuoso. Seria mais fácil morar lá do que ir pra casa todos os dias.
Mas, como eu explicaria um apartamento daqueles, sendo bolsista, com uma mãe pediatra mal paga? Pois é, não tinha como. Bianca já trabalhava. Era advogada. Mas ainda não tinha a capacidade de me dar um presente assim. Teria que ser uma mentira muito bem construída.
Dormir com Bianca era sempre bom, ela sabia quais pontos estimular e do que eu gostava. Mas se tinha algo que eu odiava de Bianca era sua possessividade e pensamento limitado. Assim que ela dormiu, fui para a varanda e depois de fechar a porta, fiz a ligação necessária:
- Baby? Acordada a essa hora?
- Quando volta de viagem?
- Depois de amanhã, querida. Precisa de algo? Me mande a lista por mensagem.
- Vou mandar. Sinto saudades. - sussurrei.
Ouvi um barulho em meu quarto e desliguei o celular depressa. O corpo quente de Bianca me abraçou por trás:
- Perdeu o sono, baby?
- Sim. Então, vim ver a paisagem.
Ela se sentou atrás de mim e colocou a cabeça em meu ombro:
- O que essa cabecinha criativa está pensando?
- Eu? Nada demais. - engoli em seco.
- Tem certeza? Você está tensa.
- Estou cansada, sabe? Eu sou a única bolsista em meu curso. Economia não é um curso barato. Eu fico um pouco constrangida com as garotas, elas vão bem vestidas, com jóias, tem motorista e etc.
Bia bufou em meu pescoço:
- Gata, tudo isso é apenas por status. Você é linda, inteligente. Vai chegar lá e ter tudo que você quiser. Confie em mim. Não precisa ser como elas.
Me afastei e me pus de pé, cruzando os braços:
- Mas eu quero ser como elas. Você não entende.
- Luna. Olhe para mim.
Me virei para minha namorada:
- Que é?
- Sua mãe trabalha muito pra você ter onde viver, o que comer e o que vestir. E ainda paga as contas. Não seja mal agradecida. Você tem sorte de ser inteligente e ter conseguido essa bolsa.
- Não é suficiente.
- Como? Luna, está se ouvindo? Sua mãe dá a vida em um trabalho que paga mal, só pra você ter seus gostos. O que mais você quer?
- Quero o que meus amigos tem. Carro, um apartamento luxuoso, jóias de marca, empregados...
- Por que não arruma um emprego? Assim, sua mãe se concentra apenas no importante e você paga seus luxos.
- Talvez eu faça isso.
- Ótimo. Você deveria agradecer sua mãe. Ela é guerreira e apesar da religião, te aceitou como você é. Além de estar sempre te presenteando.
- Eu vou.
A abracei e revirei os olhos:
- Estou cansada. Podemos ir deitar.
- Claro, meu doce. Mas amanhã cedo, quero ouvir você agradecendo sua mãe. Por tudo.
- Eu entendi, Bianca.Na manhã seguinte, minha mãe já tinha saído cedo e antes de eu ir pra Universidade, Bianca me fez limpar a casa toda com ela. Como forma de agradecer minha mãe, ela disse. Tive que ir para a Uni de ônibus, pois ela não quis me levar e pra piorar, eu quebrei três unhas. Maldita!
Assim que eu conseguir tudo que eu quero, vou te largar para trás, no seu buraco, que você atenciosamente chama de lar!!!
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Criminal Angel
Romance"Sua família tinha muitos segredos que ele não conhecia. Porém, eu iria expôr todos eles. Eu queria que ele fosse meu. E se tivesse que estragar sua vida para me tornar seu único porto seguro, então eu o faria."