Capítulo 4

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Demorei um pouquinho para escrever o capítulo 4 (porque meus neurônios estão ficando lerdinhos e não consigo mais escrever rápido como antigamente...rs), mas ele está emocionante!

Obrigada demais a todos que estão lendo, dando estrelinhas e comentando ❤  Esse livro está nascendo graças a vocês, de verdade 🥰

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Ítalo

No espaço de uma hora, desde que nos sentamos à mesa reservada no restaurante, Virgínia mexeu oito vezes em seus brincos e colocou quatro vezes os cabelos atrás das orelhas.

Esses são os sinais que ela sempre dá quando algum problema sério está dominando seus pensamentos e mexendo com suas emoções.

Lembro-me da primeira vez que percebi esses tiques — minha memória é como a de um computador com processador de última geração, segundo Wenceslau. Ela tinha quatorze anos, fazia três meses que havíamos iniciado nossa amizade e dois dias que nos beijamos na biblioteca da escola.

Seus dedos revezavam-se, nervosos, entre mexer nos brincos e alisar uma mecha de cabelos, depois prendê-la atrás da orelha. Estávamos no pátio da escola, na fila da merenda. Perguntei umas três vezes se ela estava bem, se algum de seus colegas de classe idiotas tinha feito alguma piadinha imbecil (eu virava o Hulk quando presenciava os episódios de bullying que ela costumava sofrer). Virgínia só dava de ombros, repetindo que não era nada de mais.

Só consegui arrancar uma confissão depois de lancharmos e nos sentarmos na arquibancada da quadra de esportes. Suas palavras ainda estão frescas na minha cabeça: "Sobre o nosso primeiro beijo... quer dizer, meu primeiro beijo e seu primeiro beijo... eu preciso dizer que... não posso namorar você, Ítalo. Só posso ser sua amiga porque... eu nunca vou namorar... muito menos casar. Desculpe."

Senti um alívio tão grande com sua declaração que gargalhei, pegando-a de surpresa. Apressei-me em explicar a razão do meu acesso de risos quando ela cruzou os braços, brava: "Tô rindo porque também estava com medo de você achar que a gente ia namorar. Eu tô fora dessa merda de namoro. A gente pensa igual. Nunca vou namorar, nem casar. Só penso em estudar, passar no vestibular de Administração e trabalhar numa grande empresa".

Descobrimos, então, mais uma coisa em comum, além da paixão por músicas dos anos 70 e 80, séries e livros policiais, feijoada e o barulho da chuva: não almejávamos constituir uma família jamais.

— Quer dizer que vocês são amigos há vinte anos?

Pouso o garfo no prato, pondo minha atenção em Carlos Barroso, o cliente que veio de Curitiba, na companhia da esposa Elisângela, a fim de bater um papo mais informal comigo e decidir se vale a pena trocar o sistema de banco de dados de sua empresa pelo da Factory.

— Sim, eu e o Ítalo nos conhecemos na escola; eu estava no oitavo ano, e ele no primeiro ano do ensino médio — Virgínia responde, sorridente; mas minha preocupação cresce por ela só ter remexido a comida de seu prato. — A gente morou pertinho um do outro a vida inteira, no mesmo bairro, na Vila Medeiros, e nem sabíamos. Dá pra acreditar? Eu morava duas ruas pra cima da dele.

— Oh, vocês são amigos pela mesma quantidade de tempo que eu e o Carlos somos casados, que coincidência! Você viu, meu bem? — Elisângela comenta, descansando a mão no braço do marido, que lhe sorri.

— Nossa, vocês são casados há vinte anos? É raro de se ver isso hoje em dia, né, Ítalo? — Virgínia busca minha aprovação, tocando meu antebraço.

Uma vida ao seu lado  [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora