— Pretinho, vem aqui! – gritei, do meio do quarto de paredes brancas, me observando melhor no espelho.
O contexto inicial é que era abertura do Carnaval de 2024. Calor da porra em Salvador, uma tarde de quarta-feira nada amena, e o meu corpo era o problema da vez.
Nada, exatamente NADA, ficava bom em mim. Estávamos indo pela segunda vez ao Camarote 2222, dessa vez, como casados. Era o nosso primeiro carnaval enquanto marido e mulher, e o segundo carnaval juntos enquanto casal, e de certa forma, comemorávamos essas nossas... bodas de trio elétrico no maior orgulho do mundo.
Se passava um filme na minha cabeça, um filme repleto e conluio de gratidão, por cada decisão tomada no ano anterior a esse. Até porque eu poderia confirmar, com todas as letras que a minha vida na Bahia era mais colorida, mais garrida, mais sortuda.
Tudo andava bem no trabalho, e apesar de alguns estresses familiares advindos do Natal... Meu pai estava de mudança para a cidade. O divórcio tinha acabado de sair, ele estava ajustando os últimos detalhes com a emissora, e bem, ele se sentia limpo de qualquer questão do coração.
Acho que, sem sombra de dúvidas, nós, enquanto família, tínhamos passado pelo pior Natal das nossas vidas, sem sombra de dúvidas. Finalizar a noite comendo uma marmita de arroz e frango em frente a praia com meu pai, Gael e Alexandre no entanto... foi legal. Embora isso tenha me levado minutos após à um episódio de vômito por intoxicação alimentar tenebrosa.
Aquele descontrole, digno de repercussão em outro momento, criou-se um vínculo ilibado entre todos. Um vínculo genuíno de família.
Voltando ao meu problema atual, que ia além do calor... essa era a minha terceira tentativa de vestir uma roupa para o camarote superfaturado da família Gil. Saias não funcionam. Calças? Seriam uma aberração. Shorts era fora de cogitação naquele momento, não havia nada de muito apropriado.
Eu queria me apresentar bem, nunca se sabe quando vai se esbarrar com o compositor da música que você dançou a valsa do seu matrimônio, afinal de contas. Sem contar que, tínhamos nos tornado de certa forma... um casal importante. Depois do casamento, meio que viramos a cara da empresa, e isso muito agradou ao meu sogro, que vinha se mostrando cada vez mais... presente, nas nossas vidas.
Ocorreu que eu e Alexandre começamos a aparecer em colunas, éramos ativos no setor e bem... a Nero Gouveia nunca tinha visto números como aqueles, numa reputação como aquela.
Então a capa que eu vendia... seria comentada. E importava, muito. Meu problema começava na comissão de frente. Estava tudo instaurado na comissão de frente. E da ala inferior, com certeza.
Meus peitos tinham triplicado do Natal até o Carnaval, e eu vinha engordando significativamente nos quadril, advindos de uma reação hormonal vinda de meses de estresse infindos. Era o que eu imaginava, de coração.
— O que foi, minha mulher? – respondeu Alexandre, à porta do quarto, ainda descamisado, usando uma guia e toda sua incoerência.
— Não dá pra ir hoje. Eu não tenho roupa não. — respondi, já arrancando o abadá personalizado, usando apenas a roupa íntima branca, em meio aos montes de vestes amarrotadas que eu havia jogado pelo quarto. – Não dá, já troquei umas 30 vezes, e nada fica bom! Acho que quero chorar.
— Ou, cace um problema de verdade, Giovanna. – respondeu, quase ofendido. Ele se aproximou, e em frente a mim, vislumbrou o espelho de corpo que estava em minha frente.
Amplos, eu e ele, em frente ao que nos refletia. Éramos bonitos. Bonitos e confusos demais. Acho que esse era o nosso charme, no fim de tudo.
— Mas o que é isso, hein? Me diga o que diabo tem de errado aqui, vá? – ele dizia, segurando nos meus ombros. – Me aponte um defeito. Eu não tô vendo nenhum.

YOU ARE READING
Novos Baianos - sequels de Doces Bárbaros e Drão.
FanficTodos os capítulos sequels de Doces Bárbaros e Drão.