Capítulo 02

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Entrou no quarto pequeno que divida com Sophier e o encontrou ainda adormecido na cama de solteiro, completamente esparramado, os lábios entreabertos buscando ar de uma forma constante. Aquela boca parecia tão convidativa, que Casper esquecendo-se do medo e do perigo que corria ao se aproximar do outro, inclinou-se sobre o mesmo e deixou que suas bocas se tocassem em um beijo suave e rápido, que foi sentido mais pelo que estava desperto, do que pelo que estava adormecido, o qual parecia indiferente ao fato.

O coração de Casper estava disparado, batendo como louco dentro do peito e causando arrepios por toda sua espinha, tocou os próprios lábios com as pontas dos dedos, apreciando o momento que havia acabado de ocorrer e pensando se um dia poderia fazer aquilo com o mesmo desperto e ciente do que estava acontecendo.

Afastou-se da cama e sentou-se na cadeira que havia próximo a porta, fitando o amigo que ainda dormia. Enfiou então a mão dentro do bolso do casaco, enchendo-a com as notas que havia recebido como pagamento adiantado pelo concerto que faria na mansão dos Canterville. Não via a hora de Sophier acordar para poder lhe contar sobre esta nova chance de mostrar sua música, mas sabia que o outro era um verdadeiro animal noturno, daqueles que só despertavam quando o sol começava a adentrar no horizonte. Por isso, ele esperou pacientemente sentado na cadeira, que o mesmo despertasse.

***

Sophier abriu os olhos sentindo o calor cálido da noite que começava a nascer, espreguiçou-se na cama pequena e ao virar a cabeça para o lado, viu Casper que dormia sentado na cadeira próxima a porta, completamente desconfortável. Sentiu pena do amigo e levantou-se para despertá-lo. Tocou-o no braço, mas não houve resposta, então chacoalhou-o até que finalmente abriu os olhos, piscando debilmente para em seguida sorrir de forma cálida, o que afastou qual quer sentimento de indignação que pudesse estar envolvendo o coração de Sophier.

– Lugar de dormir é na cama. – disse o poeta enquanto virava-se de costas para o amigo, indo em direção ao armário para pegar suas roupas, iria sair.

– Eu sei disso, mas você estava dormindo e não quis te incomodar. – foi a resposta de Casper, ao que Sophier apenas riu divertido enquanto retirava a roupa de dormir, exibindo suas costas nuas para um Casper exasperado, que desviou o olhar rapidamente ao perceber que seu corpo começava a responder.

– Você não sabe o que me aconteceu hoje. – Disse o músico ao outro que perguntou o que havia ocorrido. Este então contou sobre todo o episódio com o Duque de Canterville e de como ele havia se emocionado com a sua música.

– E ele me convidou para tocar em uma festa que fará daqui três semanas. – complementou Casper completamente feliz, ao que Sophier apenas respondeu com um muxoxo incomodo.

O pianista olhou para as costas do amigo tentando entender o que significava aquele som desconfortável, era como se o amigo não estivesse feliz pelo fato de ele ter conseguido um trabalho. Meneou a cabeça para os lados tentando espantar tal impressão absurda e sorrindo perguntou o que o amigo achava daquilo tudo.

– Sinceramente, acho um péssimo negócio. O Duque é conhecido por seus hábitos devassos e pervertidos e com certeza está querendo te atrair para a festa com outras intenções além de tocar piano. – disse o poeta enquanto abotoava a camisa branca.

– Tem certeza de algo assim? – indagou Casper, completamente surpreso. Claro que havia ouvido histórias sobre as perversões sexuais do Duque de Canterville, mas nunca conseguiu acreditar muito nelas, tão absurdas as mesmas eram.

Sophier parou a sua frente, completamente vestido e segurando a cartola alta com os dedos enluvados. Olhava-o de cima e tal sensação fez com que o músico se sentisse pequeno e fraco, e tal impressão não era algo agradável de passar, por isso levantou-se, ficando agora a poucos centímetros de diferença da altura do amigo.

O último réquiemOnde histórias criam vida. Descubra agora