A morte

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Henrique...

Até agora não consegui digerir o que aconteceu. Em um momento estávamos comemorando a vitória da guerra e no outro corríamos para salvar o reino.

A cena do meu irmão transtornado não sai da minha cabeça, também não consigo parar de pensar no meu sobrinho morto, no rei ferido, no ataque ao castelo. Houve falha em nossos guardas, um traidor possivelmente? Penso, penso! Sem encontrar respostas.

Nunca tinha visto meu irmão daquele jeito. Ele é sempre impassível, desde que me lembro jamais demonstrou sentimentos. Costumamos dizer que ele tem um pedaço de gelo no peito no lugar do coração.

O ceifeiro! Que levou tantas vidas para morte, hoje, infelizmente, a encontra levando os seus!

Mas entendo seu desespero, em seu lugar nem quero pensar como eu reagiria.

Dimitri é o meu exemplo. Desde pequeno queria ser como ele, destemido, inteligente, forte... Nas lutas entre nós, ele sempre ganhava, não pela força, mas com estratégias.

Eu pareço um pouco com ele. Sou mais reservado, observador. Fisicamente, sou um pouco menor que ele, minha cabeça fica na altura de seus olhos.

Meus cabelos conservo num corte curto, quase raspados, barba bem aparada. Meus olhos também são azuis, um pouco mais claros do que os olhos de Dimitri. Herdamos de nossa mãe, a rainha Helena. Tinha olhos lindos e amáveis, azuis como uma piscina.

Refletindo, penso que a perdemos muito cedo. Eu tinha 18 anos, Vicente 14 e Dimitri 22. Mamãe adorava cavalgar, foi em um de seus passeios que sua vida foi ceifada. O cavalo tropeçou em um buraco no caminho e a lançou longe. Mamãe bateu a cabeça numa rocha e morreu imediatamente.

Meu pai, que vinha logo atrás, a encontrou morta com a cabeça sangrando. Lembro daquele fatídico dia como se fosse hoje.

O rei com mamãe nos braços sem vida, suas roupas manchadas de sangue, a dor na face, olhar desesperado... a cena me assombra até hoje.

Assusto-me com a voz de Vincent chamando meu nome.  Henrique, chegou a hora do sepultamento, vamos? O abraço, e juntos seguimos para o cemitério que fica atrás da igreja.

Em pé, todo de preto com a espada na lateral do corpo, vejo meu irmão. Dimitri não tira os olhos dos corpos. Olhos que antes eram azuis escuros, estão agora negros como a noite, assume novamente a postura impassível.

Cabelos penteados para o lado, postura ereta, vincos na testa, queixo travado. Sei que a dor da perda o consome.

O rei está em pé do lado direito de Dimitri, em frente às criptas com os corpos de Atena e de Noah

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O rei está em pé do lado direito de Dimitri, em frente às criptas com os corpos de Atena e de Noah.

Uma cena triste de se ver.

Chegamos perto do meu irmão e o abraçamos, cada um de um lado. Vincent e eu não precisamos dizer nada, esse gesto é o suficiente para demonstrar que compartilhamos sua dor e o amamos.

O sacerdote termina de fazer o ritual, os corpos são postos dentro das criptas, que são fechadas. Encerra-se o sepultamento, os sinos são tocados em sinal de que Atlantes está de luto.

Revivo a cena do sepultamento de minha mãe, meu pai, o rei Elric, estava na mesma posição de meu irmão Dimitri, em frente à cripta e à direita do príncipe herdeiro. O olhar perdido, dolorido, olhos vermelhos de choro...

Volto a atenção para meu irmão, abraçando seus ombros digo vamos, ele não se move. Forço seu corpo para que ande, ele se movimenta. Entramos no pátio do castelo, Dimitri para de andar e fala: Vou cavalgar.

Digo que vou com ele, ele balança a cabeça em negativa. Tento fazê-lo desistir, convencê-lo de que é perigoso sair sozinho. Ele me olha, dá um sorriso dolorido e dispara: Ficar aqui sem poder fazer nada é perigoso para mim.

Mas os soldados de Kaled podem estar sondando, é arriscado, irmão.

Eles não são homens o suficiente para atacar minha família e permanecer no reino do Norte. Mas eu gostaria de encontrá-los neste exato momento, a mão na espada.

Ele monta no cavalo e sai em disparada pelo portão.

Entro no palácio, sigo para às escadas. Nide me avisa: Alteza, o rei solicita sua presença na sala do trono.

Encontro o rei sentado no trono com a cabeça baixa, mão esquerda na testa. Percebendo minha presença, levanta a cabeça e me olha. Faço reverência. Ele pergunta: Onde está seu irmão?

Dimitri saiu, foi cavalgar. Disse que precisava ficar sozinho para pensar. Meu pai diz:  Entendo!

O senhor não acha perigoso?

Neste momento, o maior perigo para qualquer um que se aproximar é a espada do seu irmão. Deixe-o! Fala e sai.

O Reinado do TitãOnde histórias criam vida. Descubra agora